Janete Julio Martins, do CEBI Duque de Caxias/RJ, enviou sua contribuição sobre a participação na Greve Geral do dia 28. Confira abaixo!
Na última sexta, dia 28 de abril, data escolhida para a greve geral e atos contra as reformas trabalhista e previdenciária que o governo quer nos impor, precisávamos (Milena, uma de minhas filhas, e eu), como de costume, estar junto às ansiedades e caminhada do povo e a este evento marcante para os novos rumos da história brasileira .
De início fomos à Cinelândia, onde concentravam-se centrais e várias categorias sindicais, entre elas Saúde, Petroleira, Educação, Químicos, etc. Encontrava-se também a postos um cordão da tropa de choque da PMRJ, prontamente equipada com escudos, bombas e cassetetes, na entrada principal do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a fim de inibir o acesso dos manifestantes às escadarias deste. Observamos toda a movimentação e dali partimos em direção à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ ), um dos principais pontos de encontro da atual luta popular. Lá também já encontrava-se a postos, no alto das escadarias, mais um cordão da PMRJ.
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Lá já estava concentrada uma multidão, e partimos em direção à igreja da Candelária. Logo fomos surpreendidos pelo estouro de bombas e gás lacrimogênio (gás de pimenta) que partiam da parte posterior à marcha. Os manifestantes mais próximos e atingidos pelo gás comprimiam-se em meio à multidão e a cortina de fumaça, na tentativa de alcançar a primeira esquina para se proteger. Dentre os milhares de participantes, haviam famílias com crianças, idosos e idosas, universitários, jornalistas e centenas de trabalhadores e trabalhadoras.
Recuperadas dos efeitos dos gases, juntamente com outras pessoas, retornamos à multidão. Chegamos à Igreja da Candelária, e numa mureta, filmávamos parte do ato, quando visualizamos os “mascarados” adentrando na avenida. Com arruaças e quebra-quebra, migravam para o lado direito da mesma Avenida, destruindo vidraças de uma agência bancária, ao passo que a multidão seguia sua trajetória com palavras de ordem atrás do carro de som, distintamente isolada dos baderneiros ao se concentrar no lado esquerdo da avenida. Ao cruzar a lateral da igreja da Candelária, havia um novo cordão da PMRJ que observava à distância a ação dos mascarados. Helicópteros apareceram sobrevoando a região. Adiante, havia inesperadamente mais um cordão da PMRJ que logo avançou em direção à multidão, novamente, com bombas de gás e também tiros de borracha. Iniciou-se novo enfrentamento e correria.
Mesmo o grupo de mascarados efetuando suas ações do lado direito da Avenida Pres. Vargas, toda a investida policial concentrou-se do lado esquerdo, onde passavam os manifestantes pacificamente.
Houve muita correria e dispersão dos manifestantes e, em meio ao corre-corre e ação do gás, pessoas passaram mal. Correndo, entramos na Rua Uruguaiana, abrigando-nos em uma lanchonete, a qual estava fechando as portas devido à cortina de fumaça. Permanecemos lá por mais ou menos 30minutos, junto a um grupo de universitários vindos da cidade do Rio das Ostras. Nesta lanchonete, assistimos algumas transmissões ao vivo de uma “grande emissora de televisão brasileira”, que divulgava imagens distorcidas sobre o fato ocorrido.
É nítida a inversão de valores, a insistência na apresentação de imagens que são favoráveis ao que eles querem que acreditemos. São mentiras descaradas.
Coragem popular
Seguimos em direção ao Largo da Carioca, onde ocorriam novos cercos policiais que bloqueavam as passagens de acesso à Cinelândia. Nitidamente, ouvia-se estouros de bombas vindos de lá. Contornamos pela Av. Chile, na esperança de chegarmos e continuarmos a manifestação. Na Rua das Marrecas, muitos grupos dispersos, que vinham retornando da Cinelândia devido à violência instaurada pela PMRJ. Helicópteros sobrevoavam em baixa altura ruidosamente.
Recomeçam os tiros cada vez mais próximos e decidimos retornar para casa. Observamos ainda mais policiais saindo do Quartel General com seus blindados, da Rua Evaristo da Veiga em direção à Cinelândia.
No caminho de volta para casa, vínhamos refletindo sobre a coragem do povo, abafada pela covardia e repressão dos Poderes do Estado. Mesmo tristes, cada cidadã e cidadão tinham exercido seu direito de ir às ruas em busca de melhores dias e a certeza de que a multidão, que cumpriu seu papel e que foi violentada, se recuperará e retomará o que é seu por direito.
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Fonte: Texto de Janete Julio Martins do CEBI Duque de Caxias RJ.
Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS