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Especial Mulher e Política: “Podemos usar faixa de miss ou de presidente”

Especial Mulher e Política: “Podemos usar faixa de miss ou de presidente”
Depois de toda a barbaridade da misoginia que vem tomando ruas e nas redes recentemente, não resta dúvida de que a Presidenta Dilma Rousseff está também sendo acusada de ser uma mulher na política. Uma mulher protagonista cercada de inconformados homens coadjuvantes que predam e depredam a sua posição.

No decorrer do seu primeiro mandato, ela já sofria com violentas declarações machistas, gordofóbicas, capacitistas; calúnias de certos grupos e da mídia. Entretanto, o que antes era mais evidente em memes que circulavam no WhatsApp agora estampa as capas de revista.

A IstoÉ, na capa do começo de abril, deixou mais do que claro o machismo da imprensa. Na chamada, colocava Dilma como descontrolada. Reforçava isso com a foto escolhida. E a culpava por toda a crise política nacional através do artifício do que chamam de gaslighting, como se a presidenta governasse sozinha e eventuais erros fossem só seus. De forma vil e arcaica, a revista fabricou uma Dilma vilã e única responsável pelas dificuldades que enfrentamos.

O sucesso tem muitos pais. Todos querem créditos pelas vitórias. O fracasso tem apenas uma mãe.

Quando perguntada sobre o machismo que enfrenta ocupando o cargo de chefe de Estado e de governo, em encontro com blogueiros no fim de abril no Palácio do Planalto, a Presidenta respondeu:

“Eu sou vista como dura, os homens que agem igual a mim são normais.”

Sim, é isso. O normal, o aceitável é o político homem, branco e de tradição ou família política. Com diploma. Grisalho. A mulher na política não é vista como um indivíduo capaz porque não é um indivíduo completo. Ela é apenas a costela do político. Ela é parte, não nasceu para ser toda. Por isso, não nasceu para a tribuna.

Essa concepção, enraizada em nossa cultura e perpetuada por nosso sistema político, afasta as mulheres das esferas formais de decisão. Desde Maria, a Louca até Dilma, todo mando feminino é desmando.

Para virar esse jogo, temos, nós mulheres, que rejeitar todas as manifestações da desigualdade de gênero. Defender a Presidenta Dilma, Janaína Paschoal e todas as mulheres da misoginia – pois é possível divergir com respeito e sem recorrer ao machismo como artifício. E assumir duas tarefas que estão diante de nós. A primeira: ocupar a política. A segunda: ser, na política, a voz feminina e feminista que o Brasil precisa ouvir.

Mulheres, ocupemos a política.

Nas duas vezes em que tomou posse, Dilma o fez ao lado da filha. Um símbolo do empoderamento de todas as mulheres que regem suas vidas sem a necessidade de um homem no comando ou aconselhando-as. Hoje, um processo de impeachment segue de forma tortuosa e incerta com bases legais frágeis e legitimidade questionável. Nesse contexto, além de nossa democracia, estão ameaçados os pequenos avanços que as mulheres obtiveram em relação à misoginia estrutural e sistêmica que o Brasil não se envergonha de cultivar.

Um dia depois da votação da admissibilidade do pedido de impeatchment na Câmara dos Deputados, a revista VEJA lançou uma matéria definindo o papel social que uma mulher deve desempenhar na nova velha ordem que querem nos impor. Marcela Temer, esposa do Vice-Presidente Temer, seria bela, recatada e do lar. Para boa entendedora, meio machsimo basta. As forças conservadoras que ditam as críticas ao governo e pautam com frequência demais a mídia mainstream consideram a Presidenta o extremo oposto de Marcela e, portanto, inadequada. A imagem da mulher que tais forças propõem como apropriada é muito diferente daquilo que sabemos da Presidenta Dilma. Afinal ela não é uma figura meramente decorativa, prótese do homem marido estadista. Dilma é uma mulher que tem sua vida marcada por posicionamentos firmes e incisivos, pela luta. Erra como todos. Nem mais nem menos do que os homens que a rodeiam.

Infelizmente esse tipo de mulher assusta e é repudiada pelo brasileiro conservador.

Estamos acostumados com o machismo que prega que as mulheres têm um lugar pré-estabelecido socialmente. Para a revista VEJA, o papel da mulher é levar os filhos na escolinha, esperar o marido em casa com a mesa posta, planejar ter outros filhos. Em alguns poucos casos, a mulher pode fazer universidade, mas não deve priorizar a carreira. Um lugar que pode ser ocupado por mulheres, sim, quando é uma escolha. Nunca a única opção, uma imposição.

Marcela Temer, em depoimento para TV uol, disse:”Nós estamos nesse momento de ter uma mulher presidente do Brasil e fecharmos este ciclo que nós mulheres estamos buscando há muitos anos, de conquistarmos espaço no trabalho, na política, em todas as áreas; que os homens atuam muito bem, mas as mulheres podem mostrar que elas atuam muito bem: como dona de casa, mãe, médica, advogada e presidente do Brasil.”

É importante que mulheres escutem a própria Marcela e não a VEJA. Que saibam que podem ser Marcelas se quiserem. Mas que também podem ser Dilmas se desejarem. Não há necessidade de dar satifações à sociedade, podemos ser o que quisermos. Nós mulheres podemos chegar a qualquer lugar. Inclusive à presidência.

Podemos ser do lar ou da Esplanada. Podemos usar faixa de miss ou de presidente.

No Brasil, as mulheres são maioria na população, ocupam cada vez mais espaços de destaque no mercado de trabalho e atualmente são responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias brasileiras. Somos mais da metade dos eleitores brasileiros. Entretanto, como ficou evidente na votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, somos minoria na casa. São 45 deputadas para 468 homens, ou seja, apenas 10% do total são mulheres.

Assim como a grande imprensa assumiu explicitamente seu machismo, no dia 17, na Câmara, muitos deputados que votaram a favor da admissibilidade do impeachment também explicitaram ódio às mulheres. Nos discursos que falavam de Deus e de uma ideia de família brasileira não-inclusiva heteronormativa, repetiram-se críticas à forma de governar da Presidenta que, segundo alguns, é muito “soberba”. Não escuta o que aqueles homens têm a dizer. Os deputados vaiaram as mulheres que divergiram do seu voto ou que não puderam comparecer por estarem de licença maternidade. As que foram favoravéis ao impeachment também foram alvo de machismo e receberam em troca o assédio travestido de elogio. Esse comportamento direcionado às mulheres é reflexo do que acontece nos centros acadêmicos, em partidos, reuniões, encontros e outros espaços institucionais da política.

É evidente: para avançar com a reforma política profunda que precisamos, aumentar a presença da mulher nesses espaços políticos institucionais é imperativo. E urgente.

Precisamos nos candidatar. E votar em mulheres.

Contudo, para que a presença feminina nos círculos de poder seja verdadeiramente transformadora, precisamos de vozes femininas e feministas nas tribunas.

Mulheres, sejamos feministas no poder.

Quando nos posicionamos como feministas, estamos assumindo uma posição política. O feminismo não é confortável. Nós temos pautas, estratégias, estamos em guarda, em luta. Se posicionar como feminista é desconfortável e muitas vezes perigoso: em nosso país, a cada 4 minutos uma mulher é agredida. A cada 1,5 hora uma mulher é morta. O Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking de assassinato de mulheres dentre 84 países pesquisados. Ser feminista é compreender esse cenário e, diante dele, partir para o enfrentamento. Isso não é fácil ou cômodo. Ser feminista é adotar um posicionamento crítico que questiona e contraria o que está posto como o papel feminino natural, normal. Nós, feministas, prezamos pelo bem-estar e pela dignidade das mulheres. E pela conquista e garantia de direitos. A começar pelo direito básico de poder ser o que quiser.

O feminismo é um ato político.

E não se trata de qualquer ato político. Trata-se de um ato político essencialmente progressista.

Estamos construindo de um novo normal que nos liberte das normas de gênero. Devemos, para isso, avançar na compreensão do nosso papel quando nos afirmamos feministas. A história do feminismo é antiga. O movimento é diverso, plural, composto por mulheres de diferentes tempos e espaços, mas sempre teve raízes e encontrou solo fértil na esquerda. Floresceu progressista.

A mulher consciente das opressões que lhe assolam enquanto base social torna-se um ser humano empático às demais opressões e não adota posturas políticas que reifiquem privilégios, que se contentem com a defesa da liberdade individual. Acorda para a intersecção da nossa luta com a luta de classe e raça. Entende que os conceitos de indivíduo e individualismo não são a mesma coisa. O feminismo é a luta de todas por todas.

Apenas em 1932 que as mulheres brasileiras tiveram direito ao voto. Na época, o direito foi concedido apenas às mulheres casadas, viúvas e solteiras que tivessem renda reconhecida como adequada. Consequentemente, mulheres negras e pobres tinham pouco ou nenhuma possibilidade de manifestar sua vontade nas urnas. Imaginem então ter seu nome impresso numa cédula, ser cadidata?

À mulher, só foi garantido o direito de participar plenamente da vida política nacional recentemente. Formalmente, a igualdade está assegurada. Mas as barreiras informais à igualdade se mantém e são muitas. E as feridas da desigualdade ainda não cicatrizaram. Até hoje, mulheres negras encontram dificuldade absurda quando demandam seu direito de sujeita política e lutam pela agência e contra a objetificação.

Se as mulheres são seres menos livres e têm menos direitos, a mulher negra não pode nem ser bela, recatada e do lar. Porque as Marcelas são brancas e loiras.

Enfim, precisamos de uma reforma política capaz de redesenhar nosso sistema político para que ele nos aproxime da igualdade de gênero, raça e classe. Precisamos de um sistema que garanta direitos a seres humanos livres e libertos de temor e de miséria. Isso só será possível se mulheres forem representantes e sentirem-se representadas. E se as mulheres ocuparem a política exercendo poder contectadas à vulnerabilidade da condição feminina. Se assumindo feministas.

Precisamos nos candidatar. Precisamos votar em mulheres. E precisamos de candidatas feministas.

* Por Stephanie Ribeiro é feminista negra e graduanda em arquitetura. Manoela Miklos é doutora em Relações Internacionais, ativista feminista, articuladora de e iniciativas como o #AgoraÉQueSãoElas e Não Tem Conversa.

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