Por Lenon Andrade *
Com o tema geral “A tecnopolítica a serviço da resistência democrática” o Acampamento das Juventudes, patrocinado pelo CEBI, aconteceu neste último final de semana de março, no Centro de Formação Elizabeth e João Pedro Teixeira, ligado à Escola Camponesa do MST, na cidade de Lagoa Seca /PB.
As rodas de conversa, juntamente com as oficinas, deram o tom do evento, proporcionando aos participantes uma verdadeira imersão teórica e prática na dimensão tecnológica da cultura, a partir da apropriação dos conceitos e definições que regem as tecnologias digitais que hoje permeiam o cotidiano social e políticos nas cidades, no campo e mesmo nos territórios onde habitam os povos originários.
Toda a programação do AcampaJuventudes foi construída em diálogo com os coletivos de juventude que enviaram seus representes para à Escola Camponesa: Pastoral da Juventude Rural (PJR), Associação Cultural e Agrícola dos Jovens Ambientalista da Paraíba(ACAJAMAN). Juventude do MST, jovens do CEBI /PB, Jovens do CEBI de Alagoas, Associação de Juventudes, Cultura e Cidadania e a Juventude indígena da nação Tabajara do litoral sul paraibano. Foi, portanto, uma mistura de cores, culturas e espiritualidades que se tornaram essenciais ao processo de humanização das tecnologias a partir das práticas e trocas de experiências partilhadas neste maravilhoso encontro.
Vejam que bela descrição da programação do AcampaJuventudes, fez o professor Frederico Guimarães, convertendo em poesia aquilo que poderia ser escrito em linguagem complexa:
Organizando o trabalho – dia 1 – abertura
Antes de qualquer plantio, é fundamental que nos preparemos para ele. O que vamos plantar? Qual terreno vamos utilizar? Quantas pessoas estarão envolvidas? Como vamos lidar com aquilo que produzimos?
Da mesma forma, para o nosso trabalho, é hora de nos organizarmos para o nosso encontro. O que vai acontecer nesses dias? Como será nossa dinâmica de trabalho? Além desses assuntos, Frederico Guimarães, Lenon Andrade e Marcos Egito vão falar um pouco sobre movimentos sociotécnicos e a contribuição desses coletivos para a apropriação crítica das tecnologias digitais a serviço de uma resistência democrática.
Escolhendo as sementes – dia 2 – Oficina1
Hora de começar a escolher o que plantar. Quais sementes escolher? Existem sementes melhores que as outras? Será um plantio breve, com plantas que cresçam rápido? Ou vamos investir em um trabalho de reflorestamento e semear árvores que demorarão muito tempo para crescer? Será que podemos combinar plantas que potencializem o uso do solo?
Aqui vamos trabalhar com nossas sementes digitais: os softwares. Em particular, uma categoria especial, os software livres. O que são eles? O que os diferencia dos outros? E como selecionar os mais adequados ao nosso trabalho? Fred vai discutir esses assuntos com os participantes e aproveitar para mostrar como “semear” nossas máquinas que esses softwares.
Preparando o solo – oficina 2
Sementes separadas, é hora de preparar o solo. Do que ele é composto? É mais argiloso ou mais arenoso? Temos que fazer algum tipo de correção ou intervenção nele?
Já vimos os softwares, agora é hora do hardware. O que tem dentro de um computador? Quais os componentes eletrônicos os softwares precisam para funcionar? É possível personalizar/recuperar/consertar nossas próprias máquinas? Aqui Marcos vai mostrar como “abrir as caixas-pretas” que temos em nossas casas ou no trabalho e fazer uma discussão sobre metarreciclagem.
Desenvolvendo a plantação – Oficina 3
Plantio feito, é hora de cuidar da plantação. Qual a melhor forma de irrigar as plantas? É preciso fazer mais algum tipo de intervenção no solo? Temos que fazer algum tipo de poda, ou protegê-las do sol e da chuva?
Agora que já conhecemos o que tem nas máquinas, como podemos mexer nessas peças? Será que é possível transformá-los em outras coisas? Como fazemos para automatizar tarefas ou mesmo construir robôs? Mais uma vez, Marcos volta a conversar conosco. E dessa vez vamos colocar a mão na massa, ou menor nos componentes eletrônicos.
Colheita, processamento e distribuição
É hora de colhermos o que plantamos. E uma vez feito isso, o que fazer com eles? Vamos processá-los em geleias e doces? Ou utilizá-los em natura? Vamos vender para grandes empresas? Ou montamos uma cooperativa e cuidamos nós mesmos de toda a cadeia produtiva? Usando os softwares e os hardwares à nossa disposição, nós produzimos uma quantidade absurda de dados. Sejam nossos dados básicos, como nomes, e-mails, telefones e outros identificadores, ou aqueles mais elaborados, como textos e comentários. Mas por onde trafegam esses dados? O que acontece com eles? Existem outras formas de divulgarmos nossas ideias e estabelecermos nossos contatos? Fred, agora, vai discutir um pouco como funciona o ecossistema das mídias e redes sociais, mostrando que existe muito mais coisa aí do que pensamos. E vários outros caminhos além daqueles que trilhamos diariamente.
Finalmente chegamos à última Roda de conversa no domingo pela manhã retornando da imersão inicial, trazendo conosco as ondas da mudança. Nesse sentido, elegemos um tempo para propor que tudo isso que vivenciamos alcance, num futuro não tão distante, nossos irmãos e irmãs que sofrem a falta de acesso, quando não a influência negativa das tecnologias em suas vidas. Assim, convidamos Jô Oliveira, vereadora da cidade de Campina Grande, para a última roda de conversa do evento o que nos proporcionou um rico diálogo com o parlamento municipal do qual surgiram sugestões de políticas públicas para apropriação humanizada da tecnológica pelo viés do acesso consciente e emancipatório das populações periféricas, na cidade, no campo e entre os povos originários.
Página web do AcampaJuventudes2022: https://vilarejo.pro.br/acampajuventude2022/
* O pastor Lenon Andrade faz parte da coordenação do CEBI /PB e coordenou o AcampaJuventudes 2022 juntamente com Ulisses Willy, Ivone Agra e Maria leite, que são também membros da coordenação estadual.