
A cultura e religião judaica separavam e diferenciava a esfera do sagrado do profano, o puro do impuro, criando um sistema religioso que definia as modalidades de relação entre os dois campos através de mediações.
Havia criado um sistema que separava fortemente os gentios dos israelitas, as mulheres dos homens, o povo dos sacerdotes, Deus de uma humanidade necessitada de perdão e reconciliação. A aproximação com o divino necessitava de uma mediação, papel desenvolvido pela classe sacerdotal.
Encontramos porem o centro do dialogo nos versos 4,19-24. Em continuidade com os profetas Jesus indica a superioridade do culto espiritual sobre ritual. A Ruah conduz à verdade, à participação da vida de Deus. O verdadeiro culto vem de Deus não do ser humano necessitado de purificação, por isso não precisa de mediação, nem do templo, nem do culto, nem do sacrifício, nem do sacerdote.
Aconteceu outra vez ao poço …
Aconteceu outra vez ao poço que se diz de Jacó. A rotina cotidiana levava a mulher ao poço, atingir água. “Era preciso passar pela Samaria” (João 4,1-6). Não, não era preciso! O judeu que transitava preferia alongar o caminho, mas não passar pela Samaria. É preciso passar, pois tem uma dívida a pagar.
Tu é que lhe pedirias
e ele te daria água viva!
Ao poço o pedido, o oferecimento. Ao poço o reconhecimento que quebra as barreiras. Ao poço o reatar de um relacionamento antigo. Ao poço o encontro que vence as barreiras étnicas, religiosas, de gênero. Ao poço a recuperação da memória. Cinco maridos, cinco povos é lá que estão as raízes da identidade que aflora.
“Vinde encontrei um homem! Vinde encontrei o Cristo!”.
Com estas e outras reflexões fomos aos grupos perguntando-nos:
1. Quais são “as samaritanas”, as águas, os poços alheios a nós com os quais nos deparamos em nossas realidades?
2. Como esses encontros nos fazem olhar e tomar consciência de nossas próprias águas, nossos próprios poços?
3. O que precisamos e como podemos fazer para que esses encontros nos ajudem a purificar nossas águas e sirvam para que encontremos as “águas vivas”, as sagradas águas da vida, presentes tanto nas fontes mais profundas de nossas águas/poços como nas fontes mais profundas das águas/poços que são diferentes das nossas?