Artigos e Reflexões

Pedagogia do Oprimido completa 50 anos

 Por Ariel O. Gomes*

 

“Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam.”

Para começo de conversa, o Pedagogia do Oprimido é o sexto livro mais citado na área da educação e, o único livro de um brasileiro entre os 100 livros mais solicitados nas ementas de cursos de universidade que usam a língua inglesa, conforme o The Open Scillabus Project. Em 2016, foi o terceiro livro mais citado no mundo, na área de ciências humanas, ficando atrás apenas dos autores americanos Thomas Khun, célebre filósofo da ciência e do Everett Rogers, teórico da Comunicação. Isso indica a relevância internacional do Paulo Freire e sua obra.

“Em 69 eu voltei e aí eu já era matéria do New York Times. Nessa altura eu já tinha o original de Pedagogia do Oprimido terminado, que só saiu em setembro de 70. Foi exatamente neste intervalo que fui convidado para Harvard.” Disse Paulo Freire em entrevista ao Pasquim.[1]

Ou seja, o Pedagogia do Oprimido teve sua primeira publicação em língua inglesa e não em português. Isso se deve ao fato de Paulo estar em exílio, por causa da perseguição da Ditadura civil-militar instaurada no Brasil a partir de abril de1964.

Até 1974, o livro tinha sido traduzido ao espanhol, ao italiano, ao francês, ao alemão, ao holandês e ao sueco e tinha sua publicação em Londres, pela Penguin Books. Esta edição estendeu a Pedagogia à África, à Ásia e à Oceania.

 

Curiosidades sobre o mês de setembro na vida do Paulo Freire.

É o mês de nascimento dele, é também nesse período em que escreve a carta que acompanhou os manuscritos originais pra Jacques e Maria Edy (primavera de 1968). Foi o mês em que ele terminou a Pedagogia da Esperança também (setembro de 1992). O exílio começou em setembro de 1964. Em setembro de 1980 se tornou professor da Unicamp.

 

Chaves de leitura para o Pedagogia do Oprimido.

Manuscrito da obra Pedagogia do Oprimido feito pelo autor

  1. Perceber e concordar que a opressão existe!

Parece muito simples e óbvio, mas não é. Inúmeras vezes ouvi dizerem que a opressão já existiu, mas não existe mais ou, pior ainda quando afirmam: “ Isso aí é mimimi”.
Se você não consegue perceber a opressão, seja contra pessoas individualmente ou contra grupos, classes e etnias inteiras, é porque você ainda não aprendeu a ler o mundo para além da perspectiva da ideologia dominante, que é alienante.

  1. A transformação dos oprimidos é possível!

Os oprimidos podem se libertar da opressão. E isso não é um movimento de libertação a ser concedida pelo opressor ou por uma liderança política revolucionária, é, por outro lado, resultado do processo de conscientização e mobilização popular dos oprimidos, enquanto sujeitos históricos em busca de libertação. Há um caminho de transformação.

Conforme trecho do livro:

Somente quando os oprimidos descobrem o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “convivência” com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis”.

Essas chaves de leitura conduzem aos objetivos desta Pedagogia: primeiro em localizar e entender as causas da opressão, vinculadas aos processos sociais e econômicos e segundo, a transformação da realidade. Essa transformação da realidade se dá, simultaneamente, nível individual (subjetivo) e no nível da coletividade (objetivo), sobre as condições materiais de reprodução que insistem em manter o status quo.

Mas por que tanta insistência na ideia de opressão? É porque ela desumaniza, nos tira a possibilidade de sermos aquilo que nos é próprio, nos fere, limita ou retira a qualidade própria da existência, da nossa humanidade, da autodeterminação. Ou seja, a opressão aliena, nos tira do controle da nossa própria vida, do que pensamos e produzimos, nos retira o gozo e a criatividade.

Por isso a necessidade de uma educação problematizadora, em contraponto à uma “educação bancária”. Paulo usa essa expressão “educação bancária” para explicar como lidamos com os processos de aprendizagem: transferirmos e depositamos o conhecimento. Uma educação bancária acredita que devemos transferir conteúdos para as mentes ‘vazias’. Ou seja, uma educação que tem por pressuposto a negação do próprio educando.

Assim, a educação problematizadora, que é transformadora, porque é crítica e popular, tem por princípio resgatar a humanidade do educando, com tudo aquilo que lhe é tocante como cultura, lazer e profissão. Uma educação transformadora não pode dissociar o educando de seu chão, pelo contrário, parte-se deste chão, da concretude da vida para continuar o processo educativo. Educador e educando, ambos são sujeitos no processo. O Educador aprende ao ensinar e o educando ensina ao aprender.

 

Para finalizar, deixo a sugestão de leitura desta belíssima obra. No endereço desta página da internet é possível escutar o audiolivro do Pedagogia do Oprimido

http://acervo.paulofreire.org:8080/xmlui/handle/7891/2928

Boa leitura!

[1] FREIRE, P. Paulo Freire, no exílio, ficou mais brasileiro ainda. Pasquim. As grandes entrevistas políticas II. Rio de Janeiro, n. 462 (especial), p. 11, dez. 1978. Entrevista concedida a Claudius Ceccon e Miguel Darcy de Oliveira

 

*integra o CEBI Mato Grosso do Sul

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