Reflexão do Evangelho

E vós, quem dizeis que eu sou? – Cf Mt 16,13-19

As perguntas do Evangelho da Comunidade de Mateus deste domingo são dirigidas a nós. A primeira “quem dizem os homens que eu sou?” e a segunda “e vós quem dizeis que eu sou?”. Algumas respostas já são bem conhecidas em nossos dias: “o cara lá de cima”; “um curandeiro que eu procuro só na hora das dificuldades”; “um pop-star”; “um cara legal”; “um milagreiro”; “um influencie”. Já a segunda pergunta é mais pessoal. E cada um, cada uma, já está dando a resposta com a própria vida, com seu estilo e a forma com que está vivendo.

E quais são as orientações, que a liturgia deste tempo comum, apresenta para todos nós, a partir da vivência com os discípulos e discípulas de Jesus?

Inicialmente é bom lembrar hoje que, a maioria dos estudiosos concordam com as informações sobre a elaboração do Evangelho de Mateus. Esse Evangelho teria sido escrito na cidade de Antioquia da Síria, nos anos 80 EC (Era Comum). As pessoas que participaram de sua elaboração pertenciam à tradição helenista (cultura grega) e tinham profundo conhecimento da Bíblia hebraica (em sua versão grega, a Septuaginta). Essa comunidade conhecia também todas as tradições cristãs já existentes.

É importante ressaltar que o Evangelho pertence à segunda geração do movimento de Jesus. Nesse tempo, as comunidades sentiam a necessidade de registrar as memórias da atividade de Jesus, bem como de sua própria trajetória no seguimento do seu projeto. A primeira geração de comunidades seguidoras de Jesus havia sofrido uma grande baixa com a guerra judaico-romana, que durou anos na Palestina.

A guerra entre o povo judeu e Roma representou uma grande mudança para o judaísmo e também para o grupo dos seguidores e seguidoras de Jesus, os judeus-cristãos.

A Comunidade que escreveu o Evangelho de Mateus, provavelmente, com a presença de rabinos seguidores de Jesus, representa uma alternativa para aquelas pessoas que não queriam seguir o novo modelo de judaísmo rabínico, surgido com o início da guerra. Isso chegou a gerar alguns confrontos entre cristãos e cristãs de Antioquia e as sinagogas controladas pelo judaísmo rabínico. Cristãos e cristãs passaram a receber uma perseguição aberta. É neste contexto que vai nascer o Evangelho da Comunidade de Mateus.

O texto de hoje deixa claro a relação afetiva e carinhosa dessas comunidades de Antioquia da Síria com um dos seus principais fundadores, Pedro. Ouvimos que Jesus inicialmente interroga aos discípulos sobre o que pensam as pessoas sobre ele. As respostas são as mais variadas possível. Eram de acordo com a compreensão de cada pessoas ou grupo e até daquilo que havia escutado falar sobre o Messias. Até aquele momento não tinham conhecido a pessoa de Jesus. Embora isso talvez não lhe importasse tanto, Jesus se serviu daquele momento para continuar o diálogo e dirigir a pergunta também aos discípulos. Estes sim, já estavam com ele, O conheciam, conviviam com ele a um certo tempo e já deveriam saber mais sobre a sua origem e missão.

O evangelho da Comunidade de Mateus então nos apresenta a resposta dada por Pedro: “Tu és o Cristo o Filho do Deus vivo!”. É a mesma dada pelos discípulos, logo após Jesus ter ido ao encontro dos discípulos caminhando sobre as águas (Mt 14,33). Agora porém, é Pedro que fala em seu nome e dos demais discípulos. A resposta de Jesus a Pedro chamando-o de “Feliz”, “bem-aventurado” como já havia feito antes no sermão da planície (Mt 5,1-12) revela a origem da resposta – “o Pai que te revelou isso”.

E Jesus continua mostrando que mais que um privilégio receber uma revelação dessa é uma responsabilidade, pois ele deverá agir como o seu revela o seu próprio nome, Pedro = Pedra, isto é, será uma pedra, um alicerce, uma rocha firme para a comunidade de fé, para os que crerem em Jesus Cristo a partir dali. Fica claro assim o carinho que a Comunidade de Mateus tem para com Pedro e revela a expectativa que as comunidades de Antioquia na Síria tinham nele, especialmente naqueles momentos conflitivos que eles já viviam. Passava assim a ser papel de Pedro animar aquelas comunidades.

As respostas nossas hoje e a resposta de nossas comunidades não podem fugir da missão que também nós recebemos na graça do Batismo: sermos pedras firmes no serviço da vida e da dignidade, como forma de anúncio do Evangelho. Em meio tantas situações de um cristianismo individualista, mais preocupado com o aspecto mercadológico e a cultura da prosperidade, nossa resposta hoje deverá se traduzir em compromisso com o Reino que passa pela defesa da vida dos/as empobrecidos/as e excluídos/as e da casa comum; pelo serviço generoso aos/as refugiados/as e migrantes e a tantas minorias abandonadas e deixadas de lado em nossos dias.

Respostas ou palavras bonitas não bastam. Pedro, Paulo e tantas outras testemunhas vieram antes de nós e servem de inspiração e exemplo para o nosso agira hoje. Agora é nosso tempo. É hora de fazer a nossa parte.

Pe. Manoel David Neto
CEBI-ES

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