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A filha de Jairo na ótica da juventude

Confira a reflexão sobre Marcos 5,21-24.35-43. O texto pertence a Ildo Bohn Gass, biblista popular, assessor e autor de livros pelo Centro de Estudos Bíblicos.

Boa leitura!

Mc 5,21-24.35-43 relata a ida do chefe da sinagoga a Jesus para lhe pedir a cura de sua filha que, na avaliação dele, estava à beira da morte. Prontamente, Jesus atende ao pedido de Jairo e vai à sua casa, onde cura a menina, que se põe em pé e caminha. O mesmo relato também pode ser encontrado em Mt 9,18-19.23-26 e Lc 8,40-42.49-56.

Agora, vamos aproximar-nos ao texto, buscando resgatar o significado dessa prática libertadora de Jesus para a juventude, com vista ao seu engajamento como jovens sujeitos na vida da sociedade, da igreja e da família.

Um primeiro ponto a considerar é a idade da criança. Ela tinha 12 anos (v. 42). Em média, é aos 12 anos que as meninas têm a primeira ovulação e passam por mudanças profundas em seu corpo. Passam a se interessar pelas conversas e pelos círculos das mulheres adultas. Vivem a passagem de uma fase de sua vida para outra, deixando de serem crianças. É o momento em que se tornam cada vez mais responsáveis por suas vidas, por suas decisões. Em outras palavras, vão definindo suas identidades próprias.

Aqui, convém levantar dois outros elementos, ou instituições, ressaltados pelo relato bíblico. De um lado, o texto é insistente nas referências à família. Ao mencionar Jairo logo no início, já o apresenta como sendo o pai da menina a quem chama de minha filhinha (vv. 22-23). Mais adiante, novamente é apresentado como seu pai (v. 35). Além disso, quando Jesus entra na casa, pede a presença do pai e da mãe (v. 40). E mais. Duas vezes, o texto fala da casa de Jairo. Numa vez, essa alusão tem o sentido de família (v. 35). Na outra, de moradia (v. 38). Convém, pois, estar atentos à relação entre a família e a menina semimorta e deitada. Os autores do texto fazem questão de destacar essa relação na família. E sabemos que a estrutura da família, no judaísmo daquela época, era fortemente patriarcal. Nela, o pai exercia considerável autoridade sobre sua esposa, suas filhas e seus filhos. Maior que o controle sobre os filhos, era o domínio sobre as filhas.

De outro lado, e sem menos insistência, os autores do relato dão a conhecer outra instituição. É a sinagoga. Bastaria uma única vez apresentar Jairo como um dos chefes da sinagoga a fim de estarmos cientes do fato. No entanto, os autores da narrativa fazem questão de repetir nada menos que quatro vezes que Jairo era chefe da sinagoga (vv. 22.35.36.38). Por que será? É que querem, além de colocar a menina em relação à sua família, conectar também sua situação de menos vida com a sinagoga, com a religião. Para Jesus, o principal papel que toda religião é chamada a desempenhar é gerar “vida em abundância” (Jo 10,10). Mas não parece ser o que a sinagoga de Jairo estava promovendo.

Olhando o texto na ótica jovem, percebemos que ele quer apresentar a comunidade cristã com essa função bonita que a sinagoga e a família patriarcal não eram capazes de exercer, pois mantinham a jovem semimorta (vv. 23.35), em profundo sono (v. 39) e deitada (v. 41). Foi missão de Jesus ajudar também a juventude a ser livre de todas as instituições que a amordaçam ou a tornam sonolenta, a adoecem ou impedem que se levante. Certamente, Jesus veio para estender a mão àquela jovem, de modo que deixasse de estar deitada eternamente em berço esplêndido, se pusesse em pé e andasse com suas próprias pernas (v. 42). Dito de outra forma, Jesus ajudou a menina a ser sujeito de sua história e de sua caminhada, sujeito na construção de sua identidade própria, de sua liberdade e dignidade. Sujeito também na construção de uma sociedade justa e igual. Há, inclusive, um projeto mais amplo embutido no texto. Ele propõe uma forma de vida em que não haja mais ninguém que passe fome (v. 43). Jesus convida essa menina a ser sujeito de sua vocação, tal como ele mesmo fizera aos seus 12 anos, buscando seguir seu próprio caminho, com autonomia em relação à sua família (Lc 2,41-52).

Essa não foi somente tarefa de Jesus. Continua também sendo a nossa missão. Por um lado, estender a mão à juventude para que ela mesma se levante e caminhe com suas próprias pernas é função também de nossas comunidades hoje. O texto quer dizer que, lá onde a família e a religião amordaçam ou prostram a juventude, é papel da comunidade continuar a obra libertadora de Jesus. É por isso que, no relato bíblico, Jesus convida Pedro, Tiago e João para estarem presentes no momento em que ele estende a mão à menina. Os discípulos representam as comunidades, que se reuniam em casas de famílias, para ali levar adiante a promoção da vida, coração do projeto de Jesus de Nazaré.

Por outro lado, Jesus também convida os pais a não temer, mas a acreditar (v. 36). Crer na graça de Deus presente em Jesus. Mas não só. Convida também a apostar na caminhada de seus descendentes, a acreditar que a juventude é capaz de dar direção a seu caminho, construindo o seu destino e uma sociedade nova. E a tarefa dos pais nesse processo é estender as mãos a seus filhos e suas filhas, permitindo que se levantem. Não é caminhar em seu lugar, mas estar ao seu lado e caminhar junto.

Este texto integra o livro Travessias e Horizontes do Ecumenismo (CEBI/CECA, 2008), p. 46-48. Partilhado pelo autor.

???? Conheça alguns livros de Ildo Bohn Gass publicados pelo CEBI:
???? Coleção Uma Introdução à Bíblia
???? Evangelho de Lucas: Casa Comum, Nossa Responsabilidade [DVD]
???? Re-imaginando a Trindade
???? A Oração de Jesus
???? Satanás e os demônios na Bíblia

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