Reflexão do Evangelho

É Preciso (Querer) Ver para Crer! – Jo 20,19-31

Fechando a Oitava da Páscoa, lemos neste domingo Jo 20,19-31. Nele, encontramos Jesus, que aparece em pleno domingo (primeiro dia da semana), coloca-se no meio dos discípulos e diz: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio!” Aí vem a segunda parte, no domingo seguinte (oito dias depois), em que Tomé precisa ser convencido de que o Mestre realmente voltou dos mortos. E o relato termina com a revelação das intenções do autor do livro de João: “Os sinais aqui escritos servem para que vocês acreditem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham vida no nome dele.”

Olhando o relato assim, friamente, parece que está tudo bem. De fato, o texto revela que os discípulos recebem com alegria a visita de Jesus em seu meio. Em nossas celebrações, mesmo quando o Evangelho do dia é dramatizado, tudo também parece muito belo, harmonioso e… chato. Como sou uma pessoa do teatro, gosto de imaginar a cena. Então vejamos! Os discípulos estavam escondidos (isto é, às portas trancadas). Como Jesus aparece no meio deles, se não forçando a entrada? Tem como transcorrer um diálogo harmonioso depois disso? O que imagino é Jesus falando: “Ora, mas o que que é isso? Vamos! Destranquem essa porta e encarem o mundo lá fora! Já se esqueceram? Olhem as minhas mãos, olhem aqui o meu lado! Os chefes dos judeus e dos romanos me mataram numa cruz por causa das coisas que fiz e disse! E vocês estão aqui parados, com medo de aparecer à luz do dia? Nada disso! Como o Pai me enviou para enfrentar os esquemas da morte, eu também envio vocês! Oh, peguem aqui o Espírito Santo, que vou soprar sobre vocês, vão lá e anunciem a Boa-Nova a todos os povos!” Muita gente acha que Jesus só se enfureceu com os vendilhões do Templo, mas a verdade é que os Evangelhos estão cheios de cenas nas quais o Mestre repreende seu grupo de seguidores. Aqui não me parece ser diferente.

E o Tomé? Alguns gostam de enfatizar sua falta de fé. Já outros enxergam em sua ausência, no primeiro encontro, um ato de coragem (enfrentou as ruas enquanto os outros se escondiam às portas trancadas). Como eu não sou tanto da teologia, mas sim da literatura e do teatro, fico pensando que personagem intrigante ele é. O Evangelho de João foi escrito numa época em que todas as testemunhas oculares dos feitos de Jesus já haviam morrido. O Tomé do texto está nas ruas, sabe-se lá se divulgando a Boa-Nova ou apenas existindo. Sua imagem, porém, está indissoluvelmente associada à de Jesus. Tenho pra mim que essa personagem é um recurso literário, um jeito de colocar na cena todas aquelas pessoas que, assim como os primeiros leitores do Evangelho de João, não puderam “ver”, isto é, ter uma experiência concreta, um contato íntimo (físico) com o Ressuscitado. Reforça minha hipótese o fato de Tomé ser chamado Gêmeo (ou Dídimo, do grego, didymos, duplo, composto de duas partes). Ora, quem é o irmão, ou melhor, o duplo de Tomé? Sim, leitor, leitora! Somos eu, você e todo o povo a quem o Evangelho de João foi dirigido. É nesse sentido que devemos entender por que são benditas aquelas pessoas que, não vendo, isto é, não tocando a carne do Senhor, ainda assim creram.

A questão aqui é que não somos Tomés apenas quando duvidamos sinceramente de Jesus ou da ressurreição. Suponhamos que o nosso Gêmeo estivesse na rua espalhando a Boa-Nova. Ora, como isso é possível se ele não consegue VER, ou seja, experimentar o Cristo vivo nas situações cotidianas? Se ele não consegue reconhecer Jesus nos oprimidos, nos hospitais, nas pessoas trans, naquelas em situação de rua, em quem é diferente dos padrões estéticos, econômicos, políticos ou sociais? “Como o Pai me enviou, também eu envio vocês!” (Jo 20,21). Ora, o que levou o Messias à morte na cruz foi lutar por um mundo mais justo e mais irmão, foi denunciar os esquemas de opressão, foi dizer que o bandido bom é o que “ainda hoje estará comigo no paraíso” (Lc 23,43). Negar que o Reino de Deus é de acolhida, de amor e de fraternidade e sororidade é negar a própria vocação (no sentido de “chamado” mesmo). Com certeza, benditas são as pessoas que fazem o bem, mesmo não conseguindo ver, mas é preciso ver, e muito bem, para crer. Desse modo, todos que se dizem cristãos, mas defendem o extermínio de quem pensa (ou é) diferente, são mentirosos, pois até são capazes de enxergar, mas preferem não ver. O seu deus é o deus da morte. O Ressuscitado só pode ser assim chamado porque, por meio dele, quem tem a última palavra não é mais a morte, e sim a Vida.

José Luiz Possato Jr.
CEBI RS

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