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Tu és o meu filho amado, em ti está o meu agrado

Leia a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 13 de janeiro. O texto fala sobre Lucas 3,15-16.21-22, e pertence a Ildo Bohn Gass.
Boa leitura!

A liturgia deste final de semana propõe abrir-nos a Deus, da mesma forma como Jesus o fez ao acolher o dom do Espírito enquanto estava em oração logo após o seu batismo.

Em Lucas, a narrativa a respeito do batismo de Jesus vem depois do Evangelho da Infância. Entre as narrativas da infância (Lucas 1-2) e o início da missão de Jesus (Lucas 4,14 em diante), os autores deste Evangelho inserem dois relatos de “preparação”. Um é o relato da preparação do caminho do Senhor feita por João Batista (Lucas 3,1-20). Outro é o relato da preparação de Jesus para a sua missão (Lucas 3,21–4,13). Como dobradiça que liga essas duas partes, está a narrativa a respeito do batismo de Jesus (Lucas 3,21-22). Temos, assim, um paralelo entre dois batismos: o de João com água e o de Jesus com o Espírito e com o fogo (Lucas 3,16).

João aponta para o Messias

A comunidade de Lucas faz questão de situar historicamente o início da atividade de João (Lucas 3,1-2). Do ponto de vista político, foi no tempo de Tibério, imperador romano de 14 a 37 d.C., e de Herodes Antipas, governador da Galileia desde 4 a.C. até 39 d.C. Do ponto de vista religioso, foi na administração do sumo sacerdote Caifás (sumo pontífice no templo de 18 a 36 d.C.), genro de Anás (6-15 d.C.), nomeado sumo sacerdote por Herodes Antipas em nome do imperador. Portanto, não somente Herodes era poder dependente de Roma, mas também o sumo sacerdote devia cumprir as ordens imperiais.

Por um lado, João denuncia profeticamente o reino da opressão representado por Tibério e por Herodes, em aliança com o templo de Jerusalém. Diante de tanto sofrimento, o povo esperava ansiosamente a vinda de um libertador, o messias. João Batista faz fortes críticas aos poderosos, anunciando um juízo severo para eles (Lucas 3,17). Por isso, o povo começou a ver em João a esperança da vinda do messias, o rei ungido por Deus que viria para libertar o seu povo.

Por outro lado, João anuncia a vinda do Reino de Deus para breve (Lucas 3,9.17), chamando à conversão, à mudança de mentalidade e de vida, convocando à partilha e à vivência de relações fraternas (Lucas 3,11-14). Em consequência dessa prática profética, ele foi preso e encarcerado pelos poderosos de seu tempo, uma vez que suas “ações eram más” (Lucas 3,19-20). Assim, João cumpriu sua missão como o último profeta da Aliança de Deus com Israel. Na teologia de Lucas, como veremos adiante, com Jesus inicia algo totalmente novo, a Aliança de Deus não só com Israel, mas com toda a humanidade.

Para Lucas, a tarefa de João é fazer com que as pessoas se convertam e se abram à novidade do Reino de Deus presente no novo agir de Jesus. Lucas o apresenta mostrando para Jesus. João não é o Messias libertador, o Cristo, o Ungido. Seu batismo era somente com água, sinal de purificação e de conversão para acolher Jesus de Nazaré, mais forte do que João. Sua atitude é de estar a serviço, menor ainda que os servos, de quem também era tarefa desatar as sandálias de seus senhores.

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As sandálias também lembram a lei do levirato (Deuteronômio 25,5-10). Segundo esta lei, quando um marido morria sem deixar filhos, um parente próximo devia assumir a viúva para gerar um herdeiro para o falecido. Assim, além de dar continuidade à vida do falecido, resgatava sua terra, de modo que ela permanecesse no clã. Quando o parente mais próximo se negava a assumir a tarefa do resgate para seu irmão falecido, outro parente devia cumprir a lei. Era então que o parente mais próximo dava uma de suas sandálias ao novo resgatador, o novo “noivo”. Era o sinal que este passava a ter o direito de resgate, de gerar descendência para o falecido. Ao não desatar a correia das sandálias de Jesus, João reconhece nele o resgatador, o messias libertador de todas as formas de opressão. João é o último representante da Antiga Aliança. Jesus, porém, é o noivo da Nova Aliança. Ele vai gerar a vida que as instituições moralistas, envelhecidas e fundamentalistas não geravam nem geram mais.

O Messias assume a sua missão

Antes de seguirmos na reflexão, convém lembrar que, na teologia de Lucas, há uma ruptura entre o Antigo e o Novo. Deve ser essa a razão por que, neste evangelho, Jesus é batizado somente quando João já se encontra na prisão. Diferente é nos demais evangelhos, em que Jesus é batizado por João (Mateus 3,13-17; Marcos 1,9-11; João 1,32-34).

Jesus é batizado com água junto ao povo, em meio ao povo. Em seu batismo, Jesus é investido para a sua missão, guiado pelo Espírito de Deus. É somente Lucas quem faz referência à atitude orante de Jesus no seu batismo. E é esta atitude de intimidade de Jesus com o Pai que faz com que o Espírito o transforme e o envie para evangelizar os pobres (Lucas 4,18-19). Também para nós Jesus pediu que tivéssemos essa atitude orante durante a vida toda, abrindo-nos ao Espírito de Deus. Sua ação em nós é fruto da oração, da acolhida, é dom (Lucas 11,13).

João batizava com água. No entanto, Jesus batiza com o Espírito e com o fogo. Por isso, o seu batismo é superior ao de João. É no Espírito Santo, representado pelo fogo de Pentecostes (Lucas 3,15-16; Atos 2,1-13). Neste Evangelho, ainda antes do batismo de Jesus, há uma ênfase muito grande na apresentação de pessoas abertas à ação do Espírito Santo. Lembramos João Batista, Maria, Zacarias e Simeão (Lucas 1,15.41.67; 2,26-27). E o fogo recorda a presença de Deus no êxodo, na libertação do povo oprimido pelo sistema faraônico (Êxodo 3,2-3; 13,21; 19,18). É o mesmo fogo de Pentecostes, o dinamismo do Espírito, que entusiasma os discípulos e as discípulas de Jesus para o anúncio e a vivência da boa-nova até os confins da terra (Atos 1,8; 2,1-13).

Uma vez preso João, Jesus dá um novo rumo à sua missão. Diferentemente do Precursor, que anuncia a vinda do Reino de Deus para breve e como um juízo severo, Jesus vive o Reino já presente no seu jeito de se relacionar especialmente com as pessoas mais discriminadas, revelando a misericórdia do Pai (Lucas 7,22; 11,20; 17,20-21). Talvez por isso, diferentemente dos demais evangelhos, Jesus não é batizado por João neste evangelho.

Lucas apresenta o batismo de Jesus depois da prisão de João como o ato em que o Espírito de Deus vem confirmar o Nazareno enquanto Messias, ungindo-o para a missão do serviço, da mesma forma como fora ungido o servo de Deus em Isaías 42,1 e 61,1. Nesse momento, Jesus estava em oração, isto é, em íntima comunhão com a fonte da vida, com o projeto do Reino. Tão íntima é essa comunhão que, em Jesus, Deus e a humanidade se encontram. Esse é o significado da abertura do céu (Lucas 3,21), realizando a esperança do povo (Isaías 63,19b).

Em Jesus, céu e terra estão tão próximos que é possível perceber a presença materializada (“em forma corpórea”) do Espírito de Deus nas atitudes de Jesus. Em Gênesis 8,8-11 a pomba foi a mensageira da vida recriada depois de submersa pelas águas do dilúvio. Em Jesus, a presença da pomba anuncia que o Espírito de Deus impulsiona Jesus a realizar a nova criação, mulheres e homens recriados a partir das águas do batismo. É Deus renovando, com toda a humanidade, a Aliança de Gênesis 9,8-17, cujo sinal é o arco-íris de múltiplas cores e não somente o rosa e o azul. No batismo, morremos com Cristo e ressuscitamos com ele para uma vida nova (Romanos 6,1-14). Viver como pessoa renovada e ressuscitada é, portanto, missão de todos nós.

Ao lembrar a entronização do rei que vem libertar o povo (Salmo 2,7: “Tu és o meu filho”), a comunidade de Lucas apresenta Jesus como o verdadeiro Rei e Messias, que veio governar com justiça e no serviço ao povo. Por isso, lembra também a missão do servo em Isaías 42,1 (“Em ti está o meu agrado”). No batismo de Jesus, temos uma epifania, ou seja, uma manifestação do filho de Deus ao mundo, gerado como o messias que vem libertar o povo.

No batismo, Jesus assume publicamente o seu compromisso com as novas relações do Reino de Deus já presente em seu agir. Batizar-se em seu nome, na linguagem paulina, é revestir-se de Cristo, ou seja, é agir como o próprio messias agia, superando todas as formas de preconceito, de intolerância e de discriminação (Gálatas 3,27-28).

Texto partilhado pelo autor. Ildo é biblista popular, assessor e escritor de livros pelo Centro de Estudos Bíblicos (CEBI).

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