Reflexão do Evangelho

Todo Dia é Natal em Alguma Periferia!

“E aconteceu que, nesses dias, saiu um decreto do imperador Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo. Este foi o primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam se alistar, cada um na própria cidade.  Também José subiu da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque ele era da casa e da família de Davi. Foi se inscrever com sua esposa Maria, que estava grávida. Enquanto eles estavam aí, completaram-se os dias para o parto. Ela deu à luz seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala.

Na mesma região, alguns pastores estavam nos campos e durante a noite cuidavam de seu rebanho. Um anjo do Senhor apareceu a eles. A glória do Senhor os cercou de luz, e eles ficaram apavorados. Mas o anjo lhes disse: ‘Não tenham medo! Porque eis que lhes anuncio a Boa Notícia, uma grande alegria para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias e Senhor. Isto lhe servirá de sinal vocês encontrarão um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.” E de repente uma multidão do exército celeste juntou-se ao anjo, e louvavam a Deus, dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos que ele ama’

Assim que os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si: ‘Vamos logo a Belém para ver o que aconteceu, que o Senhor nos fez saber.’ Partiram depressa e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Ao ver o menino, contaram o que lhes tinha sido dito a respeito dele. E todos os que ouviam os pastores ficavam maravilhados com o que eles contavam. Maria, por sua vez, guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como tinha sido dito a eles.” (Lc 2,1-20 – na versão da nova Bíblia Pastoral)

 

Nas Memórias que as comunidades de Lucas nos deixaram sobre Jesus e seu Projeto libertador, ficaram registradas algumas cenas muito interessantes, relacionadas ao evento da Natividade de Jesus. Vamos realçar alguns aspectos dessas memórias deixadas por essas comunidades.

O texto que ouvimos está situado numa parte do evangelho chamada de narrativas da infância de Jesus ou Evangelho da infância.  Essas memórias, bem como todo o texto do Evangelho, devem ser situadas a partir dos anos 80 da era comum. Portanto, são textos da segunda geração das seguidoras e seguidores de Jesus. Nesse período muitas comunidades estavam organizadas nas diversas regiões do império romano. Elas passavam por uma fase de organização interna e também de sistematização de algumas informações sobre Jesus. É importante sempre termos presente que são narrativas teológicas e não historiográficas. Essas narrativas auxiliam na organização dessas comunidades espalhadas por todo o território do Império Romano.

As pessoas destinatárias dessas memórias participavam das comunidades de tradições Paulinas, vivendo em realidade urbana, provavelmente em alguma cidade grande daquela época, cidade de cultura grega e romana. Enfim, estamos tratando de uma realidade bastante diferente do contexto da Palestina. Daí a importância de não nos apegarmos a elementos históricos e geográficos do texto. Mesmo assim, vamos fazer a reflexão a partir de dados que a comunidade fez questão de demarcar no seu relato.

A primeira questão apontada no texto é de uma decisão dos poderes de Roma sobre a vida do povo.  A realidade que está presente no texto é que a partir de decisões dos Poderosos de Roma a vida dos pobres é revirada. As pessoas precisam se locomover, sair do seu lugar para cumprir ordens políticas das autoridades daquela época. É isso que a comunidade quer trazer quando menciona o decreto para o recenseamento. Os poderosos interferem na vida das pessoas empobrecidas, no intuito de mantê-las debaixo de seu poder.

A próxima cena apresentada na narrativa é muito importante e fala forte em nós, nesta data especial da Natividade de Jesus. É a cena do lugar onde Maria, mulher grávida, acompanhada por José, seu companheiro, vai dar à luz ao menino. O texto diz que não havia lugar dentro da casa para eles. Por isso, Jesus, o menino, nasceu e foi colocado numa manjedoura, entre os animais, num local onde se colocava o alimento para eles.

A Outra cena importante que a comunidade de Lucas menciona é o espaço dos pastores e pastoras, recebendo a boa notícia do nascimento deste menino Salvador. Pastoras e pastores, nesse tempo, eram pessoas excluídas da sociedade. Devido à profissão que exerciam eram consideradas pessoas não dignas de estar no meio dos grupos da sociedade da Palestina, viviam a maior parte do tempo fora da cidade. É a essas pessoas trabalhadoras que o anúncio da Boa Notícia é feito. Elas louvam à Divindade por serem destinatárias dessa Boa Notícia.

E o texto aponta para a próxima cena, retornando para o local do Nascimento. Agora se juntaram as diversas categorias empobrecidas daquele tempo. Ali encontramos Maria com o menino deitado na manjedoura, no cocho; encontramos o pai, José; encontramos as pastoras e os pastores que receberam a notícia e não hesitaram em se dirigir a Belém para ver o acontecimento que lhes foi anunciado.

É uma cena de partilha da vida entre pessoas a quem era cotidianamente negada a possibilidade de vida digna. As pessoas excluídas, unidas, partilhando os sinais da boa notícia da Libertação. É uma cena, no mínimo, estranha aos olhos de gente que ocupava os espaços de poder e que esperava o libertador vindo de outro lugar e de outra forma. No entanto, essa foi a forma da divindade se fazer humanidade.

A narrativa é concluída com a pessoa de Maria, a menina de Nazaré, que agora é a mãe daquele que vem para libertar as pessoas oprimidas. Como deve estar confusa a cabeça dessa menina e angustiado o seu coração! ‘Ela guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração’. Ela não tem as respostas sobre como será daí em diante. Mas sabe, que a partir do seu corpo de mulher, ressurge a esperança.

É o início de um novo tempo! Pessoas empobrecidas gerando libertação, anunciando a vida nova, anunciando que nasceu para nós quem vai fazer acontecer a libertação desejada.

Este é o anúncio revolucionário do Natal: é tempo de animar a luta, é tempo esperançar, de anunciar que é possível enfrentar os poderes opressores e que a partir das pessoas empobrecidas e excluídas nós podemos construir tempos novos. A divindade que cremos se fez gente, se fez criança na periferia de Belém e veio morar entre nós, nas periferias do mundo todo. Todo dia é Natal em alguma periferia! Hoje é Natal!

 

Fatinha Castelan – Vila Velha -ES

Facilitadora de Leitura Popular da Bíblia no CEBI-ES;

integrante da Direção Nacional do CEBI.

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