Reflexão do Evangelho de Lucas 6,28-38
Leia a reflexão sobre Lucas 6,28-38, texto de José Antonio Pagola
A mensagem de Jesus é clara e retumbante: “Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam”. É possível viver nesta atitude? O que se nos está a pedir? Podemos amar o inimigo? Talvez devamos começar por saber melhor o que significa perdoar.
É importante, em primeiro lugar, entender e aceitar os sentimentos de ira, rebelião ou agressividade que nascem em nós. É normal. Estamos feridos. Para não nos magoarmos ainda mais, precisamos de recuperar o mais possível a paz interior que nos ajuda a reagir de forma sadia.
A primeira decisão de quem perdoa é não vingar-se. Não é fácil. A vingança é a resposta quase instintiva que nos nasce de dentro quando nos feriram ou humilharam. Procuramos compensar o nosso sofrimento fazendo sofrer aquele que nos fez mal. Para perdoar é importante não gastar energias imaginando a vingança.
É decisivo, acima de tudo, não alimentar o ressentimento. Não permitir que o ódio se instale no nosso coração. Temos direito a que se nos faça justiça; o que perdoa não renuncia aos seus direitos. Mas o importante é ir sarando do dano que nos fizeram.
Perdoar pode exigir tempo. O perdão não consiste num ato de vontade, que arranja rapidamente tudo. Em geral, o perdão é o fim de um processo em que intervêm também a sensibilidade, a compreensão, a lucidez e, no caso do crente, a fé num Deus de cujo perdão vivemos todos.
Para perdoar é necessário por vezes partilhar com alguém os nossos sentimentos. Perdoar não significa esquecer o mal que nos fizeram, mas recordá-lo da forma menos prejudicial para o ofensor e para nós próprios. O que chega a perdoar volta a sentir-se melhor.
Quem vai entendendo assim o perdão compreende que a mensagem de Jesus, longe de ser algo impossível e irritante, é o caminho certo para ir curando as relações humanas, sempre ameaçadas pelas nossas injustiças e conflitos.