
Domingo XVI do Tempo Comum
Evangelho Segundo Lucas 10,38-42
Janete Julio Martins, CEBI RJ
Neste texto de Lucas, enquanto caminhavam, o ministério feminino vai se firmando, mesmo em meio aos impasses da lei.
Jesus entra no povoado de Betânia, nome que já remete significativamente a lugar de acolhimento, encontro e ensinamentos. É recebido por “certa mulher”, que é a dona e senhora da casa, de nome Marta. Este acolhimento indica amizade e ambiente fraterno.
“Caminhavam” (v. 38) significa que Jesus não estava sozinho ao ser acolhido por Marta. Convidar homens para estar em sua casa, o que não era permitido a uma mulher, se torna uma atitude corajosa a transgressora. Ela sabe da importância deste momento e oferece sua casa para o fortalecimento das pessoas ali reunidas, tornando-se uma comunidade, através do convívio, sem se importar se era legal ou não. Quem não gostaria de receber bem seus convidados ou hóspedes?
Maria, irmã de Marta, dá continuidade a esta recepção. Ela coloca-se em posição de total adesão diante da palavra de Jesus, mesmo não sendo comum à época e costumes. A limitação agora era o fato de que as mulheres não podiam ter acesso aos ensinamentos, permitido somente aos homens. Ela se posicionou como quem queria e precisava aprender, ter suas próprias conclusões, próprias experiências. Sinal que o sistema em que as pessoas estavam imersas não condizia com a realidade. Aquilo que a submetia não era suficiente para enfrentar os desafios. Cuidar dos afazeres ditos comuns às mulheres não eram suficientes para Maria. Em posição igual a dos homens, ela senta-se ao redor, no chão, aos pés de Jesus e o escuta. Então assim como Marta, ela também foi corajosa e transgressora.
A maneira de Maria perturbou Marta porque ela estava agindo diferente e certamente incomodou os discípulos presentes, pois ia em contraposição ao seu tempo e suas práticas. Ela não estava se negando em ajudar a irmã nos seus afazeres. O que ela queria era aproveitar aquele momento oferecido por Jesus.
Assim como Marta se movimentava para acolher melhor em relação à infraestrutura, Maria se ocupava em escutar e aprender da conversa de Jesus, onde cada uma, a seu modo, fazia a sua parte, dando o melhor para que aquele encontro fosse agradável para todas as pessoas.
O incômodo e a intimidade estão presentes ao mesmo tempo na queixa de Marta a Jesus com relação à Maria. Incômodo porque de certa forma, Marta quer evitar constrangimentos diante da atitude de Maria. Intimidade porque Marta ao fazer este pedido, assinala o grau de amizade que tem com Jesus, que a deixa sem cerimônias, para que Ele seja o intermediário. Não seria feito este tipo de pedido a um estranho.
A resposta de Jesus é um alerta, que direciona para a medida daquilo que realmente é necessário.
A observância, a agitação e a ansiedade provocam o distanciamento dos verdadeiros valores e das verdadeiras oportunidades, deixando-se de viver plenamente os momentos.
Jesus se refere aos elementos que desvirtuam, aprisionam e paralisam, que não permitem a espontaneidade da vida. Por onde Ele passa, se ressaltam os elementos que produz vida. É também na casa de Marta que Jesus legitima a importância de romper com estruturas excludentes.
Embora em atitudes diferentes, Marta e Maria desempenham funções importantes no seguimento a Jesus, desde que não levadas a extremo.
Trabalhar é tão fundamental quanto orar, e vice versa, desde que não seja de maneira radical, desde que não tire a humanidade e vire individualismo.
Trabalhar, orar, conscientizar-se, ir à luta…funções das discípulas!