Lucas Navegantes – Assessor do Cebi-Pará
Celebrado hoje o Dia de Todos os Santos e Santas, recordamos os muitos nomes que se tornaram por suas palavras, ações e gestos referências de Fé, Esperança e Caridade no meio do povo. Mateus nos apresenta a face do povo amado por Deus, não somente os canonizados, mas as multidões que de forma simples defenderam a vida, lutaram pela justiça e fizeram a vontade de Deus. Jesus sobe o monte, senta-se junto ao povo e entrega as bem-aventuranças da vida nova.
O Reino apresentado por Jesus é o oposto da experiência do povo com os reinos que oprimiam e escravizavam o povo não o colocando no seu lugar de direito a vida e a felicidade. Jesus pega a realidade deste povo sofrido e anuncia que felicidade é encontrar consolo, saciedade e herança Divina vindos da parte de Deus que é pai e não os abandona. Esta felicidade não significa a necessidade de se conformar com o sofrimento, mas se trata de uma declaração de que Deus está do lado dos oprimidos e de que a liberdade já está em curso.
Ser santo vai além de um processo de canonização, se trata de um caminho de vida inspirado pela Divina Ruah durante todos as etapas e processos da vida. É olhar para o sofredor com ternura e amor entendendo que para ele também deve haver vida e vida em abundancia com direito a saúde, educação, comida e dignidade. É neste caminho que as palavras de Jesus atingem aqueles que já não confiam na riqueza, no poder e nas coisas dadas pelo homem são os que já se entregaram por inteiro a Deus e que partilham em comunidade o pouco que tem.
A santidade é um reflexo de Deus no mundo com base em três princípios:
A Misericórdia que move os corações através das necessidades do outro agindo com o objetivo de sanar esta necessidade.
A Pureza de Coração retrata a busca pelo Espírito de Deus que sopra em todos os lugares como um sinal de vida, ação fraterna pelo mundo e que enxerga no rosto do pobre os sinais do reino.
A Ação Pacificadora é a ação que constrói a justiça, busca por dignidade e a paz agindo como verdadeiros filhos e filhas de Deus se envolvendo nos conflitos para que haja harmonia e união assim como Jesus o fez.
É necessário entender a dor daqueles que choram a morte dos seus entes queridos tomados pela violência, o desespero que ter sua terra roubada e a incerteza quanto a justiça para que se possa compreender a importância da luta pela liberdade e da confiança no consolo divino que acalenta e enxuga as lágrimas do seu povo. Ser dedicado ao reino e sua construção significa enfrentar tudo o que oprime e segrega o povo e fazer esta caminhada sem abrir mão dos desígnios de Deus.
Os mansos que herdarão a terra se opõem ao sistema, se organizando sem o uso da violência. É a luta dos indígenas, quilombolas e sem-terra que pacificamente resistem a opressão que insiste em se apropriar da terra que é dom de Deus e que será dada aos que não a exploram, mas a partilham entre os seus de forma justa. A santidade vive nas lutas sociais que combatem a fome e a sede do mundo incentivando a construção de direitos sociais fortificados não excluindo ou cedendo a corrupção.
Santo é aquele que em sua comunhão com Deus perdoa o irmão e a irmã, olha com carinho ao que comete erros e em contra partida a isso age com solidariedade com cada um e cada uma sendo o ombro amigo e aquele que se dispõe a partilhar o pão. É preciso entender que viver as bem-aventuranças é caminhar contra a ideologia do sistema, como consequência vem a perseguição, a ofensa e a calúnia que provam mais do que nunca que a trilha que se segue leva de fato ao reino de Deus.
Por essa razão, no dia de todos os santos são lembrados também os Mártires da Caminhada como José Claudio Ribeiro, Maria do Espirito Santo, Dom Oscar Romero, Irmã Dorothy Stang, Padre Josimo e tantos outros e outras que foram levados pela violência por lutar pelos direitos dos que sofrem. A perseguição é o preço dado aos discípulos da justiça, mas também existe a certeza de que os que lutam pelo povo já são possuidores do Reino.
As Bem-Aventuranças anunciadas no evangelho de Mateus não são dirigidas aos que já se entregaram ao comodismo, é para quem se coloca em movimento constante de inquietação com o que o cerca. Celebrar o dia de todos os santos é compreender que a santidade é vocação e vocação de todos e para todos, é ser sal da terra e luz do mundo vivendo o evangelho com fidelidade a justiça e a busca por um olhar que liberta e não julga. O santo constrói a sua própria história dizendo sim a Deus e ao seu projeto de construção de um reino onde o amor é a base.



