A tradução é do Cepat.
A Jornada Mundial da Juventude que foi realizada no coração da Europa centro-oriental foi marcada pelos fatos terríveis que aconteceram em Nice, em Munique, em Ruan. O terrorismo fundamentalista de matriz islâmica, o dos massacres, dos carros-bomba, dos kamikazes jihadistas, da violência cega, dos grupos armados até os dentes e cheios de dinheiro graças à ajuda dos países considerados os melhores aliados do Ocidente, entrou em nossas vidas. Enquanto era só imagens na televisão, com milhares de corpos de crianças, mulheres, jovens e anciãos inocentes destroçados nos atentados diários em Cabul, Bagdá…, enquanto se tratava somente das perseguições e dos massacres que aconteciam na Nigéria ou no Paquistão, parecia que não tinham nada a ver conosco. Agora, no mundo onde regia a "globalização da indiferença”, há pessoas que pressionam para globalizar o ódio, o fechamento, os muros.
Exatamente aquilo que os terroristas do Daesh, seus filiados e "fãs” desejavam: semear o terror e o medo, fazer acreditar que estamos à beira do Juízo Final, do enfrentamento final entre a civilização cristã ocidental e o Islã. E alimentam esta fábula, contada interessadamente pelos que necessitam desesperadamente fechar as filas do Islã sunita contra o inimigo "cruzado”, os chamados às armas por intelectuais e comentadores que reduziram o cristianismo a uma ideologia identitária. O Papa Francisco, com coragem e determinação, recordou que aquilo que o mundo está vivendo é uma terceira guerra mundial "em pedaços”, mas recordou com todas as suas letras que não se trata de uma guerra de religião. Eventualmente, poderia ser uma guerra dentro de uma religião, como demonstra o fato de que a maior parte das vítimas dos jihadistas são inocentes muçulmanos. Mas, trata-se, principalmente, de uma guerra por dinheiro, por interesses, pelo domínio sobre os povos.
Seja qual for a natureza deste conflito, o Papa não pode prescindir do Evangelho. E para considerá-lo em sincronia com as exigências da guerra de religião, de uma resposta dura contra o islã (muitos gostariam que fosse assim), não se pode esquecer o magistério de seus dois imediatos predecessores. É preciso fingir que seus dois predecessores imediatos não existiram. É necessário construir uma imagem falsa e enganosa. Acusa-se Francisco de não ter se lançado contra o islã publicamente, em seus comentários, após os atentados. Na Polônia, a terra de São João Paulo II, como se pode esquecer que nunca (nem sequer após o dia 11 de setembro) atacou o Islã? E a todos os exegetas do discurso de Bento XVI, em Regensburg, apresentado hoje como um grito de batalha, seria necessário lhes recordar que aquela lição acadêmica não foi pronunciada após algum atentado e que seu núcleo não era a violência muçulmana, mas, ao contrário, uma crítica ao Ocidente, que esqueceu suas raízes e que considera que as religiões são subculturas. O Papa Ratzinger nunca se referiu ao Islã quando se pronunciou sobre atentados jihadistas. Envolver Wojtyla e Ratzinger contra Francisco na guerra santa é procurar três pés em um gato, e mais, trata-se de uma operação pouco transparente. E só é possível colocando a realidade entre parênteses ou em uma nota de rodapé.
"Nós não gritaremos, agora, contra ninguém, não brigaremos, não queremos destruir. Nós não queremos vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror”, disse Francisco aos jovens, durante a vigília da Jornada Mundial da Juventude. Porque "nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: se chama fraternidade, se chama irmandade, se chama comunhão, se chama família”. A verdadeira luta "anti-jihad” são essas milhões de mãos jovens de todo o mundo entrelaçadas, sua silenciosa oração. A única reação cristã frente à violência. A única maneira evangélica de honrar o sangue dos mártires de nosso tempo.