por Marcos Aurélio dos Santos*
É preciso gritar com coragem e força, com voz profética pois os dias são sombrios. Se faz necessário denunciar a desigualdade e a exclusão dos pobres e lutar a favor da vida.
“Sabem o que aconteceu em toda a Judéia, começando na Galileia, depois do batismo que João pregou, (Atos. 10,37).
No dia seguinte Jesus decidiu partir para a Galileia. Quando encontrou Filipe, disse-lhe: “Siga-me (João. 1.43).”
A Galileia era um lugar de mistura de povos. Judeus e Gentios. Também foi lá que Jesus viveu em uma pequena aldeia chamada “Nazaré da Galileia”, por isso Ele era chamado também de “Galileu”. Era o lugar dos vencidos, dos excluídos/ ao passo que em Jerusalém concentrava-se a classe dominante sob a liderança dos Fariseus e do sumo sacerdote. A Galileia era o lugar onde situavam-se as periferias da Judeia. Foi lá que Jesus iniciou seu movimento libertário entre os pobres (Mateus. 28.10).
O Teólogo porto-riquenho Orlando Costas fala de maneira bem objetiva como era a Galileia:
“A Galileia era uma encruzilhada cultural. Era uma região comercialmente orientada que a longa data era habitada por gentios e Judeus. Na época de Jesus, judeus viviam lado a lado com fenícios, sírios, árabes, gregos e orientais. Esta mistura étnica deu origem ao nome Galileia (literalmente círculo), que veio a significar círculo de gentios. (Isaias. 9. 1-12; Mateus. 4.15-16).”
Jesus não dá início ao seu movimento nos lugares altos, a partir do templo, no centro do poder religioso da Judeia. O projeto de Jesus não era de poder, não pretendia criar uma nova religião paralela ao sistema já existente, seu projeto não incluía hierarquia, seu projeto era de libertação dos excluídos/as vítimas do sistema religioso que predominava a região da Judeia. Por isso Jesus começa sua caminhada de libertação nos lugares baixos, à beira do mar da Galileia, nas pequenas aldeias, como Nazaré, Jericó e Cafarnaum. Não se importou muito com a grande e poderosa Jerusalém, por esta razão gastou muito pouco do seu tempo indo a esta cidade.
Jesus não foi para a galileia por um acaso. Ele conhecia a realidade de exclusão do povo. Jesus sabia o caráter de sua missão na Galileia, por isso, em obediência ao Pai cumpriu sua missão de libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor (Lucas. 4.17-18). Sob a unção do Espírito do Senhor, Jesus inicia sua caminhada entre os pobres em um movimento revolucionário de libertação.
Mas qual é a Galileia de hoje, onde está situada e onde ela se movimenta? Dia 7 de Setembro será realizado 0 24º grito dos excluídos/as. É uma marcha ecumênica, plural, diversa e fraterna, comprometida com as lutas dos excluídos/as, e que reúne os povos de diversos seguimentos em um ajuntamento libertário na caminhada com os excluídos/as. É um grito de resistência que parte da Galileia de nossos dias.
Jesus é a esperança dos excluídos. Ele é a esperança das crianças pobres das periferias, das mulheres vítimas do sistema patriarcal e de brutal violência, dos homossexuais vitimados pelo preconceito e homofobia, dos desempregados, dos negros, dos indígenas, dos que são excluídos por pertencerem a religiões de matriz africana. Para todos estes e muitos outros segue a viva a esperança no Jesus de Nazaré.
Por isso, é preciso gritar com coragem e força, com voz profética pois os dias são sombrios. Se faz necessário denunciar a desigualdade e a exclusão dos pobres e lutar a favor da vida, pois esta como disse Jesus, vale mais do que todos os bens desta vida. O aumento da violência, a manifestação e o crescimento do fascismo em nosso pais, o processo de exclusão das políticas sociais, os desmontes dos direitos dos trabalhadores/as e muitas outras injustiças nos desafiam a dar uma resposta profética. Descer para a Galileia de hoje e agir em ações concretas, onde estão os grandes desafios libertários é um ato de superação diante desse contexto exclusão.
Assim como Jesus desceu para a Galileia para caminhar e lutar ao lado dos oprimidos, se faz necessário o seguimento de Jesus hoje, no grito dos excluídos/as, em um movimento de fé, amor, esperança e libertação.
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Texto de Marcos Aurélio dos Santos, publicado por CEB´s do Brasil.