Para este domingo (29/06), publicamos duas meditações. Uma para as igrejas protestantes e evangélicas que mantêm o Lecionário Comum (Mt 10.40-42) e outra para a tradição católico-romana (que opta pelo texto de Mt 16,13-19, porque a festa de São Pedro e São Paulo).
1 – O texto rompe com a sabedoria clássica de Israel, que preconiza uma relação de causa-e-efeito típica da tradição teológica judaica e introduz a graça, a equiparação graciosa, livre das recompensas;
2 – O julgamento a que estaremos sujeitos no fim dos tempos antecipa-se na fé e nas atitudes que tomamos na vida diária a partir da fé;
3 – O texto rompe com o comércio, a barganha com Deus, com a mentalidade de troca: dinheiro por bênção.
Visto assim, o termo galardão perde o sentido de recompensa como cura, milagre ou prosperidade, mas ganha o sentido de fé na salvação em Jesus Cristo.
A prédica poderá abordar a diferença entre uma justiça retributiva e uma justiça restaurativa. A maior parte das sociedades conhecidas na história da humanidade construiu uma ideia de justiça retributiva. “Aprontou, tem que pagar. ” Chega-se ao cúmulo de afirmar que “bandido bom é bandido morto”, ou seja, a retribuição pelo mal cometido tem que ser por meio de uma punição. E quanto maior a punição, melhor. A Bíblia também está cheia dessa mentalidade. Mas a Bíblia também nos dá outros caminhos. A justiça restaurativa é um deles.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios: Este programa reúne pessoas envolvidas e afetadas por um fato delituoso para dialogar sobre o crime e suas consequências. Busca reparação de prejuízos emocionais, morais e materiais e restauração da relação entre vítima e réu. É um procedimento voluntário, “um meio para a formação da cultura de paz” (Disponível em: ). Esse jeito de encarar os seres humanos e suas características adéqua-se bem ao que Jesus propõe na composição de Mateus: uma sociedade voltada para a valorização integral das pessoas e não apenas o quanto elas valem para o sistema.
Uma historinha que pode ilustrar a prédica é a do vendedor de balões: Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse. Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho soltar-se e elevar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões.
Havia ali perto um menino negro. Estava observando o vendedor e, é claro, apreciando os balões. Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul, depois um amarelo e finalmente um branco. Todos foram subindo até sumir de vista. O menino, de olhar atento, seguia cada um. Ficava imaginando mil coisas…
Uma coisa o aborrecia: o homem não soltava o balão preto. Então se aproximou do vendedor e perguntou:
– Moço, se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?
O vendedor de balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão preto e, enquanto ele se elevava nos ares, disse:
– Filho, não é a cor; é o que está dentro dele que o faz subir.
O que está dentro de cada pessoa e fá-la subir são o galardão, o valor, a herança, a dignidade conferida por Deus – patrimônio que não pode ser retirado nem desvalorizado por nenhum sistema social, cultural ou religioso.
Outra imagem que pode ser usada é a da multa de trânsito por uma transgressão. A teologia da restituição não afirma que a multa não vem. Vem, mas já com o carimbo de PAGA, pelo que Jesus fez na cruz por nós.