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Morre Dom Waldyr Calheiros, resistência contra a Ditadura Civil-Militar

Morre Dom Waldyr Calheiros

"Se eu souber de um torturador, abro o bico", afirmou faz pouco tempo Dom Waldyr.

 

Faleceu neste sábado Dom Waldyr Calheiros Novaes, bispo católico por 34 anos de Volta Redonda/RJ. Alagoano da cidade de Murici, tornou-se padre em 1948 e foi nomeado bispo em 1964, ano do Golpe Militar no Brasil. Dom Waldyr foi um marco na resistência contra a Ditadura Civil-Militar, denunciando com coragem as torturas e as violações dos direitos humanos.

Mesmo depois do fim do Regime Militar, celebrou a missa de velório dos três funcionários da CSN mortos na greve de 1988, em ato de denúncia contra um dos últimos ataques da ditadura oficial contra o movimento sindical.

Ele estava internado na UTI com infecção pulmonar desde o início do mês.

Dom Waldyr ajudou a impulsionar o nascimento do CEBI, cuja  primeira sede se instalou em Angra dos Reis, à época, pertencente à diocese de Volta Redonda. A cidade foi também um dos primeiros lugares a ter cursos do CEBI.

Expressando gratidão à vida de Dom Waldyr, o CEBI transcreve abaixo trechos de uma entrevista concedida por ele em 2012 ao Jornal Diário do Vale, de Volta Redonda/RJ.

 

'Responsável pela subversão no Vale do Paraíba'

"O comandante do Batalhão de Infantaria Blindada (BIB), que era localizado em Barra Mansa, bem perto de Volta Redonda, para tomar conta da Companhia Siderúrgica, um bem nacional, achou de convocar as autoridades locais para fazer uma exposição muito negativa de mim. Disseram que eu tinha relações com todas as organizações comunistas internacionais".

"O comandante dizia que tinha cartas minhas trocadas com revolucionários do Uruguai, do Paraguai, etc… E convocou delegados, promotores, todas as autoridades da sociedade, para ouvir a exposição dele. Alguns membros da Igreja que foram ouvi-lo me contaram tudo. Ele me acusava de ser o responsável por toda a subversão no Vale do Paraíba. Falava: ‘o bispo comunista incita as pessoas a ingressarem na luta'. E atribuiu a isso a prisão, dentre outros, de Waldyr Bedê, que era um professor aqui em Volta Redonda, um homem muito conceituado e esclarecido, sem compromisso com a ditadura, e que trabalhava comigo. Então, eu tive que reagir um pouco. Pedi uma audiência a ele".

 

'Não posso prender um bispo'

"Isso foi depois do AI-5. Fui acompanhado do meu vigário-geral, Monsenhor Barreto, disse que tinha conhecimento do que ele (o comandante do BIB) havia dito. ‘Sei o conceito que o senhor tem de mim'. E disse mais: 'Se o senhor acha que prendem pessoas pelo crime de trabalharem comigo, o criminoso sou eu, me prenda'. Ele respondeu: 'Pode me dar um tiro, pode jogar uma bomba no batalhão, não posso prender um bispo'", lembrou Dom Waldyr.

Nesse dia, o bispo permaneceu lá das 8h às 22h. Queria mesmo ser preso junto com aqueles que trabalhavam com ele, o que deixou os militares incomodados. "Não podemos mantê-lo aqui", diziam. Dom Waldyr conseguiu com isso a libertação de alguns, mas houve um preço. "Cobraram deles que dissessem tudo o que tinham contra mim. Alguns saíram incumbidos de procurar coisas ruins a meu respeito para permanecerem soltos.".

 

Facilitando fugas

"Uma vez, veio me pedir socorro uma pessoa que se apresentou dizendo que trabalhava com Dom Pedro Casaldáliga (bispo prelado emérito de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso). Queria que eu o ajudasse a fugir do país. Como ele trazia o nome de Dom Casaldáliga, já tinha uma credencial… E ele tinha que fugir, pois estar com Pedro não era possível… Fiz o que estava ao meu alcance, me dirigi ao bispo da fronteira, Foz do Iguaçu, e disse: ‘tem um fulano aqui que eu gostaria que você desse uma ajuda para ele passar para o Uruguai' Ele atendeu. Esse eu sei que encaminhei." "E houve também certos companheiros que eu ajudei a fugir daqui (de Volta Redonda) pela perseguição que estava em cima deles.

 

Importância do passado para o presente

"É importante (que haja o esclarecimento dos crimes da ditadura) primeiro para que o Brasil supere a falta de memória dos que viveram e não se interessaram pelo bem da sociedade. Talvez alguns tenham se afastado, valendo-se daquele velho ditado – ‘Como o fogo não é na minha casa, que os outros tomem conta que não é comigo'. Somente esses – os que não foram atingidos – é que podem ficar indiferentes ao que se passou. É uma espécie de egoísmo exaltado ao máximo. Quem perde a memória do passado não pode saber, diante do presente, que passou aquela experiência".

 

'Se eu souber de um torturador, abro o bico'

Perguntado sobre sua opinião a respeito dos jovens que tem pintado muros e colocado faixas em locais onde moram ou trabalham ex-torturadores, Dom Waldyr reagiu positivamente: "Acho que é uma boa contribuição. Uma atitude dessas é uma participação da comunidade ao repúdio que se tem diante da ditadura e do seu modo de tratar, que foi uma miséria, tratavam as pessoas como se fossem animais. Acho que é uma ajuda importante, porque foi injustíssimo aquilo. Então que se faça justiça hoje, quando se tem um ambiente para isso. Se eu souber de um torturador, abro o bico, grito claramente com os instrumentos de que eu puder dispor. Porque a impunidade dos criminosos de ontem é a pior coisa para que outros cometam novos crimes".

 

'Quem vai para a delegacia é pobre'

Falando sobre o Brasil de hoje, o bispo pergunta-se: "Quem vai para a delegacia?". Ele mesmo responde: "É pobre!" E prossegue: "Tudo o que fazem lá com ele (com o pobre) é justificado, porque ele fez isso, aquilo e aquilo outro… Aí aparecem pessoas delatando a vida do povo, testemunhas às vezes falsas. Acho que é indecente por parte daqueles que se aproveitam disso."

Extraído de: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/0,58949,Dom-Waldyr-revela-fatos-da-ditadura-militar.html#axzz2mELfPRYX

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