![Marcos 1.4-11: Batismo coloca-nos na missão solidária com as pessoas que lutam [Teobaldo Witter]](https://cebi.org.br/wp-content/plugins/wp-fastest-cache-premium/pro/images/blank.gif)
Epifania é uma fase importante do calendário cristão. Advento e Natal enchem a vida das pessoas de esperança, de promessas humanas e de compromissos para organizar encontros e fazer visitas mútuas. Depois de tanto agitação, o que sobra? Advento, Natal e fim de ano são como um terremoto na vida das pessoas. Muitos afazeres para deixar as coisas em paz com as convenções sociais. Mas passou. Agora parece que vem um vazio. Em muitos locais, reduzem-se, inclusive, as atividades da igreja. Os grupos entram em recesso. Os cultos são somente os estritamente necessários. Mas vejam como é lindo o tempo da Epifania!
As leituras bíblicas entrelaçam-se no falar de Deus e na reação diante da quebra do silêncio. Gênesis 1.1-5 escreve a respeito do vazio, da ausência da forma, das trevas, enquanto o espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus quebra o silêncio. Falou e houve luz. A luz era boa. Deus separou trevas e luz. A fala de Deus, a palavra de Deus, é criadora. Atos 19.1-7 fala do encontro de Paulo com a comunidade de Éfeso. A conversa é sobre o batismo de João Batista e o batismo de Jesus. Os membros foram batizados em nome de Jesus. E o Espírito Santo de Deus veio sobre eles. Marcos 1.4-11 escreve sobre João Batista, homem que vem do deserto, do vazio e prega arrependimento e perdão dos pecados. Ele anuncia Jesus, que, ao contrário dele, batiza com o Espírito Santo. Jesus pede a João que o batize no rio Jordão. Durante o batismo de Jesus, o céu se rasga. Deus quebra o silêncio e diz: “Tu és o meu filho amado, em ti me comprazo”.
2. Exegese
Certamente, Marcos é o livro mais antigo dos sinóticos. Tem sua forma própria e direta de dizer as coisas. Ele vai direto ao assunto. Apresenta Jesus como Filho de Deus, mas que só pode ser compreendido como tal na cruz, no martírio, na dor e no silêncio da morte (Mc 15.19). Fora disso, seria triunfalismo, o que o evangelho não aceita. Não menciona o nascimento de Jesus, assim como os sinóticos e, de certa forma, como João. Se dependêssemos de Marcos, não haveria Natal. Em vez disso, ele menciona, logo de início, dois textos do Primeiro Testamento (Ml 3.1; Is 40.3), que também se encontram nos sinóticos. Vem um mensageiro preparando o caminho. É voz que vem do deserto e endireita as veredas do Senhor. O nosso texto testemunha como acontece isso.
V. 4 – Aparece João Batista. Ele não tem títulos, não tem penduricalhos que o qualifiquem. João parece ser um nada, alguém que vem do nada. Vem do deserto. E logo anuncia a mensagem, sem flores e sem rodeios. É um “imperativo categórico”, segundo Emanuel Kant, pois o batismo deve ser de arrependimento para que possa haver remissão dos pecados.
V. 5 – Pelo que se menciona, multidões vinham da Judeia e de Jerusalém ao encontro de João Batista. O surpreendente é que confessavam seus pecados e, então, eram batizadas no rio Jordão.
V. 6 – Um versículo inteiro faz referência ao estilo de vida de João: vestes de pelos de camelo, um cinto de couro. Ele vem como um profeta, vestido como Elias. Ele cuida de sua alimentação. Alimenta-se de gafanhotos e de mel silvestre. São detalhes importantes que informam sobre a vida sóbria, também na comida. O gafanhoto é considerado um animal limpo e comestível (cf. Lv 11.22). O estilo de vestir-se e de alimentar-se de João não é imposição por algum problema de escassez de alimento. Sim, se os povos vinham a seu encontro para ouvir a pregação, arrepender-se e ser batizados, então João Batista poderia beneficiar-se de bens e de comida farta. No entanto, seu estilo de vida é outro. Ele tem outra opção de vida.
V. 7 – É a pregação propriamente dita de João Batista. É ele quem fala. Explica que está por chegar alguém que é infinitamente grandioso, digno de toda a honra e toda a glória. Diante dele, João não é digno nem de tocar suas sandálias, isto é, nem de fazer o serviço mais humilde. Ou seja, não é digno de servi-lo como escravo.
V. 8 – Continua a explicação de João. Faz a diferenciação fundamental e inconfundível entre o seu batismo e o daquele que vem. O mensageiro faz o ba¬tismo com água, mas o que vem faz o batismo com o Espírito Santo.
V. 9 – Na continuação do texto, a vinda de alguém recebe destaque. É a primeira vez que Marcos, após o título do livro, menciona Jesus de Nazaré da Galileia. Observa que o texto faz menção clara ao local de onde Jesus veio. Em Marcos, de uma forma normal, sem resistência, Jesus é batizado por João no rio Jordão. Jesus opta pelo batismo de arrependimento, pelo batismo de João. Ele vem de livre e espontânea vontade, sem pressão de ninguém, para receber o batismo.
V. 10 – Fato extraordinário acontece quando Jesus, após seu batismo feito por João, sai da água. O céu se rompe. Os céus se rasgam. O Espírito desce em forma visível como uma pomba. Os dois fatos estão interligados: os céus se rasgam e a pomba desce.
V. 11 – Após o rompimento dos céus, Deus fala. Deus quebra o silêncio: “Tu és meu filho amado, em ti me comprazo”. Deus fala clara e exclusivamente: esse é meu filho amado.
É importante observar o conjunto: batismo de Jesus nazareno, o céu se abre, o Espírito de Deus desce sobre Jesus e Deus se revela/fala. “O céu aberto assinala o caráter escatológico do batismo de Jesus de Nazaré. O próprio Deus se autorrevela, fato ansiosamente esperado e ardentemente implorado por seu povo” (cf., p. ex., Is 63.19). E quando Deus se autorrevela, vem junto “o Espírito de Deus”. Jesus de Nazaré, Batismo e Espírito de Deus “estão interligados” (BAESKE, 2004, p. 50).
Também é importante identificar no texto bíblico o aspecto do batismo de arrependimento. Jesus chega em meio às multidões que confessam seus pecados e recebem o batismo do arrependimento. “Arrependam-se de seus pecados e sejam batizados, que Deus perdoará vocês” (v. 4).
No texto de Marcos, o povo entendeu e fez conforme a pregação de João Batista. Mas, nos textos paralelos, há uma discussão sobre o tema do arrependimento. Há gente que vem para ser batizada, sem o devido preparo do arrependimento e do perdão (escribas e fariseus, Mt 3.1ss). João classifica-os como ninho de cobras, víboras que querem fugir da ira vindoura. Ele reprova tais atitudes. Mediante a iminência do reino de Deus, o texto anuncia separação entre árvores que produzem bons frutos e árvores que produzem frutos maus, uma alusão à salvação e condenação no juízo de Deus (cf. Mt 3.10).
3. Meditação
Sempre na linha da reflexão até aqui elencada, podemos dizer que o Batismo é tema central. Nele também se realiza a Epifania. Perguntamos: Por que batizamos? Há alguma razão, algum motivo para o Batismo em nossa igreja? Eu fui batizado. Sei a data. Tenho Certidão de Batismo. Mas isso significa alguma coisa para minha vida? Afinal, fui batizado. O que significa isso? O que significa o Batismo para a minha vida? O que significa a fala de Deus para a nossa igreja? E para a nossa sociedade?
O texto do Evangelho de Marcos introduz com todo o cuidado e radicalidade (vem de raiz) o tema do Batismo. Primeiramente, ele fala do arrependimento e do perdão. Batismo não é mero enfeite ou ritual vazio. Mas ele é fundamental no seguimento da reflexão de Marcos.
4. Imagens para a predica
Faça uma reflexão, ligando o Batismo ao que é importante e fundamental na vida cristã. Nosso Deus é misericordioso. Por isso ele vem, os céus se rasgam, ele fala e realiza vida e salvação. A nossa vida e salvação são o desejo de seu coração, nisso ele está grudado. No Batismo, Deus revela seu coração grudado em sua criatura.