Do encontro na TI foi elaborado um documento e encaminhado para a Conferência em Imperatriz, mas os Ka’apor não conseguiram vagas para a Conferência Nacional em Brasília porque, de acordo com o regimento, perderam esse direito ao não participarem das etapas locais e regionais. As lideranças afirmam que não aceitarão tal manobra e que foram “punidos e agredidos” pela Funai por defenderem seu território. “Queremos dizer que vamos mais uma vez debater essa violação do nosso direito e decidir o que fazer e comunicamos que não será a Funai que dirá se podemos ou não participar de uma Conferência que é antes de tudo indígena”, dizem no documento.
Leia na íntegra:
O governo anunciou uma conferência indígena para este ano e nós desconfiamos. Por que uma conferência promovida pelo governo se nossas florestas e nossas lideranças estão caindo todos os dias por causa dos madeireiros, fazendeiros que apoiam este governo? Para quê uma conferência, se estamos ameaçados em nosso próprio território e o Estado não é capaz de defender e proteger nossos territórios, nossas lideranças indígenas e dar respostas para nossas demandas?
Pra gente continuar organizados, protegendo nosso território, nós decidimos reunir nos dias 18, 19, 20 e 21 e 28 e 29 de julho em nosso Centro de Formação Saberes Ka'apor onde estudamos, debatemos, escrevemos e apresentamos à sociedade o que queremos que essa Conferência nos traga.
Mas o veneno do dinheiro continua corrompendo o governo, alimentando também os madeireiros na região de Zé Doca e serrarias do Maranhão. E nossas florestas voltaram a ser atacadas, ramais de estradas de madeireiros foram abertos, nossas lideranças perseguidas e ameaçadas de morte e as serrarias mudaram de local para fugir da fiscalização, os mandantes e assassinos de nossa liderança Eusébio Ka’apor continuam impunes.
Não podíamos ficar parados, decidimos fechar a BR 316 para chamar a atenção de todos e dizer que o crime no Maranhão tem mais força que a Justiça. Não tivemos mais apoio da Funai para proteger nosso território. Fizemos isso pra mostrar que estamos organizados e vigilantes em defesa de nossas florestas.
Ficamos surpresos quando a gente lutava por nossos direitos pensando numa conferência que possa dar resposta efetiva aos nossos problemas e garantir nossos direitos, a Funai do Maranhão cumprindo sua função de órgão do governo, manobrou na conferência de Imperatriz e impediu que nós pudéssemos ter vagas para participar da Conferência Nacional de Política Indigenista. Fomos punidos e agredidos em nossos direitos de defender nossa palavra, porque decidimos defender nossas florestas. É dessa forma que a Funai resolve os problemas indígenas no Maranhão, infelizmente não aparecem nos documentos oficiais.
Queremos dizer que vamos mais uma vez debater essa violação do nosso direito e decidir o que fazer e comunicamos que não será a Funai que dirá se podemos ou não participar de uma Conferência que é antes de tudo indígena.
Pedimos apoio de nossos parentes para mais essa luta!
Conselho de Gestão Ka’apor, Conselho das Aldeias