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Homenagem a Rubem Alves, poeta da teologia

Homenagem a Rubem Alves

Acordamos no sábado, dia 19/07/2014, com a sensação que o dia prometia ser mais do que dia qualquer. A semana já nos preparava para uma notícia dolorosa. O Rubem estava mal, internado e refém das luzes hospitalares com as quais sempre implicou. A insensibilidade do ambiente, de certa forma, nos preparava para a despedida. Tempus fugit.

Rubem Alves é daqueles que são maiores do que as aparências induzem crer. Teólogo, filósofo, educador, psicanalista, escritor. Alvo de críticas de todos os cantos. Depositário todavia de muita admiração. Um pêndulo entre a inveja (que se disfarça sob a maquiagem da indiferença) e a prepotência de quem imagina que saber depende de rodapé. Ensinou-nos que poesia é irmã gêmea da teologia.

Rubem nasceu em 15 de setembro de 1933 na cidade mineira de Boa Esperança, e foi autor de uma bibliografia de mais de 120 títulos; Rubem Alves é conhecido por sua grande contribuição à educação e por seus livros infantis. Educado em família protestante, estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, São Paulo. Exerceu a atividade de pastor em Lavras, Minas Gerais.

Em 1963 foi para Nova York estudar Mestrado em Teologia. Em 1968, já no Brasil, foi perseguido pelo regime militar. Nesse mesmo ano voltou para os EUA, onde cursou doutorado em Filosofia na Princeton Teological Seminary. Lá, publicou a obra precursora da teologia da libertação: A Theology of Human Hope. De volta ao Brasil ensinou filosofia na Universidade de Campinas.

Nos anos 80 tornou-se psicanalista, através da Sociedade Paulista de Psicanálise. Passou a escrever para os grandes jornais, sobre comportamento e Psicologia. Rubem, ultimamente, mantinha o Instituto Rubem Alves, uma associação aberta, sem fins econômicos e de interesse publico, fundada por ele e sua família. O objetivo é ser um marco na educação, através do desenvolvimento de programas inovadores e alternativos.

Eu, particularmente, aprendi muito com o Rubem. Li suas estórias desde a adolescência. Descobri meu amor pela teologia e pela palavra. Cresci fora da gaiola. Hoje, me despeço dele, de longe, sem teologia e sem palavras, em silêncio (a suprema linguagem da fé). Apenas com um misto, triste porém conformado, de lágrima e memória. Toda melodia que se preza, para ser bela, repousa, por fim, na pausa final. Carpe diem. Sinto que nossos alunos leiam pouco o Rubem. Perdem.

Permito-me dividir com amigos da interpretação bíblica umas idéias oportunas do Rubem sobre as escrituras:

Explicação

Mosaicos são obras de arte. São feitos com cacos. Os cacos, em si, não têm beleza alguma. Mas se um artista os ajuntar segundo uma visão de beleza eles se transformam numa obra de arte. Músicas são mosaicos de sons. Notas são cacos. Não são nem bonitas nem feias. Mas se um compositor as organizar numa "frase" elas passam a dizer algo. Transformam-se em temas. Sonatas e sinfonias são feitas com temas entrelaçados. Também nós somos feitos de cacos. (…) Somos um mosaico espiral, à semelhança do Bolero de Ravel. As Escrituras Sagradas de todas as religiões são livros cheios de cacos. Nelas se encontram poemas, estórias, mitos, pitadas de sabedoria, relatos de acontecimentos, poemas eróticos, eventos sangrentos. Ao ler as Escrituras comportamo-nos como um artista que seleciona os cacos para construir um mosaico ou como um compositor a compor a sua sonata. Os cacos das Escrituras Sagradas existiram por muito tempo como estórias que eram contadas oralmente, antes de serem transformados em textos para serem lidos. O registro escrito dessa tradição oral trouxe uma vantagem: as estórias continuaram a existir mesmo depois da morte do contador de estórias. E trouxe uma desvantagem: transformados em textos escritos perdeu-se a figura do contador de estórias. Com isso, os leitores começaram a ler as "estórias" como se fossem "história". "História" refere-se a coisas que aconteceram realmente no passado e nunca mais acontecerão, como o naufrágio do Titanic, que pertence à "história" e nunca mais acontecerá. Mas a parábola do Bom Samaritano nunca aconteceu. Foi uma "estória" contada por um mestre contador de estórias chamado Jesus. As estórias são contadas no passado, mas elas não têm passado. Só tem presente. Estão sempre vivas. Quando ouvimos ficamos "possuídos", rimos, choramos, amamos, odiamos – embora elas nunca tenham acontecido. A "história" é criatura do tempo. As "estórias" são emissárias da eternidade. Muitos são os mosaicos que podem ser feitos com um monte de cacos. Muitas são as músicas que podem ser feitas com as doze notas da escala cromática. Horror, humor, amor, vida, morte, vingança… Tudo depende do coração do artista. (…) Coração feio faz mosaicos e músicas feias. Coração bonito faz mosaicos e músicas bonitas. Os mosaicos e as sonatas são o retrato de quem os fez. Cada religião é um mosaico, um jeito de ajuntar os cacos. Cada religião é uma sonata: uma rede de temas. Escolhi os cacos de que mais gosto para fazer o meu mosaico, o meu livro de estórias, a minha sonata, o meu altar à beira do abismo.

(ALVES, Rubem. Perguntaram-me se acredito em Deus. SP: Planeta, 2007, pp. 15-17)

Ricardo Lengruber Lobosco (Teólogo, Biblista, Educador, membro da diretoria atual da ABIB)

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