Gênero

Duas. Uma. Nenhuma mulher?!

Neste texto você confere a reflexão da pastora metodista Nancy Cardoso sobre a relação dos direitos das mulheres e a representação política das mesmas. A reflexão é de 2010, ano de eleição, quando duas mulheres concorreram à presidência do país. Na disputa em questão, foi eleita a presidenta Dilma Housseff, que acabou deposta em seu segundo mandato, em 2016.

Boa meditação!

Com duas mulheres na ponta dos dedos do eleitor no primeiro turno, não é de se espantar que os mecanismos de controle das estruturas capitalistas e patriarcais se agitem e usem suas armas mais antigas e exclusivas: a Senhora Moral e a Senhora Religião.

Marina e Dilma são mulheres empoderadas pelo intenso trabalho de base e de organização de muitas comunidades e segmentos sociais ao longo dos últimos 30 anos: Mulheres!

Muitas outras mulheres!

Chegaram até aqui com trajetórias diferentes, mas alimentadas por práticas políticas de enfrentamento do machismo estrutural que a sociedade brasileira e também os movimentos sociais reproduzem. Hoje no Brasil já nos afirmamos com um feminismo classista. Um ecofeminismo socialista.

Não foi e não é o bastante! Dilma e Marina -e tantas outras de nós!- tiveram que aprender a caminhar pelos atalhos da política partidária, dos espaços de poder negados/negociados. E Marina chegou assim: com ecologismo sem-classe. E Dilma com pac sem-classe. Mulheres-em-si, mas não mulheres-para-si.

O discurso midiático sobre o corpo da mulher

Que tanta barriga de mulher nas propagandas! Tanta mulher e nenhuma mulher porque não há nenhum projeto de escuta e de encaminhamento de políticas de mulheres-para-si: mulheres do campo e da cidade, proletárias, camponesas, suas misérias sociais e eróticas e suas lutas. Não! Não!

Os representantes do capitalismo e das religiões do mercado cercam a barriga da mulher-em-si e proclamam a propriedade privada, o controle da igreja e o controle do Estado. Ui! Os senhores representantes das fundadas verdades fundamentais.

Os fundamentalismos são palavras contra os corpos, palavras sem os corpos, palavras apesar dos corpos. Palavras que se solidificam em políticas, palavras que silenciam palavras outras. Os fundamentalismos e suas variáveis têm em comum a suspensão da escolha. Acreditando-se em fundamentos fundamentais, paralisa-se a vertigem da interpretação.

Se existem as verdades fundamentais, o que se espera das pessoas é que observem, decorem, repitam, cumpram, guardem, obedeçam, estudem…; que desistam de perguntar por quê? Até quando? E se…?

O capitalismo é o fundamentalismo econômico contra a terra, sem a terra, apesar da terra reduzida a “meio de produção”, forma básica de renda e acumulação. No Brasil, não podemos perguntar pela reforma agrária, por outro modelo agrícola. Os fundamentos fundamentais do capitalismo paralisam a interpretação e os meios de comunicação pedem que as maiorias sem-território observem, decorem, repitam, cumpram, obedeçam às verdades eternas da propriedade privada.

Ao fim e ao cabo, o capitalismo precisa manter sob rédea curta as dinâmicas de produção e reprodução da vida social. O debate embutido e que foi mascarado pela propaganda verde-sem-classe de Marina é a questão da terra, da propriedade da terra, da função social da terra.

O projeto comum de dominação sobre a terra/natureza e sobre as mulheres se perpetua, ainda hoje, de forma mais ou menos sofisticada nos planos de governo e nos monólogos teológicos. A visão da natureza como recurso ilimitado que pode ser sempre tirado e tirado, se articula com o trabalho da mulher/doméstica. Trabalho esse que é trabalho não-pago e movido a sacrifício. Estas são as duas formas básicas de extração de mais-valia, de acumulação básica do capital.

O modelo de produção e reprodução da vida no capitalismo é aquele que legitima o uso da violência e da exaustão como forma de produção do lucro. O agronegócio invade a terra sem pedir licença e sem se comprometer; em expansão o capital se enfia nas profundezas da terra e “goza” rápido, buscando as formas mais ligeiras e eficientes de lucro e de satisfação de si mesmo. A terra exaurida e violada gera “produtos” e “riquezas” num ciclo bárbaro, insustentável e depredador. A terra não pode dizer não! Ser contra a propriedade é ofender a Deus!

O deus: capital

A crise ecológica manifesta uma contradição fundamental do capitalismo: entre o sistema produtivo e as condições de produção. Desde os primórdios da acumulação primitiva do capital, a conquista de mais e mais lucro se dá com a destruição de trabalhadores e da natureza.
(Revista Margem Esquerda n. 14, 2010)

O cotidiano das maiorias, de modo especial, e das maiorias de mulheres, em particular, é de alienação e violência de seus corpos na relação com o corpo do mundo – também alienado e violentado. A miséria erótico-sexual se perpetua pela sociedade, preservando as relações violentas no espaço doméstico. As mulheres não podem dizer não!

A superação/enfrentamento desse sistema de controle-disciplina-exploração não se dá pelo elogio da natureza feminina, ou pela celebração de uma suposta proximidade da mulher com/na natureza. O desafio é de identificar ou criticar os modelos históricos e econômicos de subserviência e a prática política cotidiana (macro, micro). A superação possível está na busca conjunta (de classe e de gênero e de etnias…) por outras formas de bem-viver.

Religião

No campo da religião diversos fatores precisam ser enfrentados. A preguiça com que muitas teologias neopatriarcais entre nós descartam a Teologia da Libertação e a Teologia Feminista se dá exatamente pela segunda milha que o caminho com os empobrecidos e empobrecidas exige de nós. Sendo ele: a recriação no cotidiano das relações de poder homem/mulher (na Igreja!, na teologia!, nos movimentos!, na vida!, na cama!), do compromisso nos processos de luta de classes e suas novas formatações, na criação de estilos de vida que neguem e resistam ao capitalismo e sua febre de consumo.

Os teólogos/sacerdotes do mercado não se arriscam com uma teologia que não garanta mais para eles mesmos – como classe e gênero – os mecanismos de controle e poder do antropocentrismo e do patriarcalismo. Preferem o caminho reformista da teologia que se acomoda na academia ou nas variações de uma teologia pública (sem luta de classes!). Não se ocupam das dinâmicas erótico-sexuais e têm medo de tudo que é gay, apesar de viverem num mundinho de homossociabilidade exclusiva.

Hoje, parte do cristianismo inserido no capitalismo de consumo desistiu de fazer as perguntas honestas e radicais que o evangelho de Jesus nos faz. As respostas às dramáticas necessidades da maioria pobre do planeta se expressa em projetos assistencialistas e caritativos que preferem seguir garantindo as necessidades da sobrevivência das institucionalidades. Inclusive as igrejas.

Uma outra parte de cristãos não incluídos plenamente no capitalismo, e mesmo as maiorias excluídas, respondem com teologias da prosperidade, que é também uma teologia da propriedade, que coloca as necessidades sociais na dimensão do individualismo das trocas com a divindade, o mercado.

Não há uma resposta organizada às necessidades, mas sim uma objetivação do sujeito, de modo a inserí-lo nos mecanismos de consumo.

Malafaias e blogs gospel: leões de chácara do capitalismo.

Meu voto não é útil, porque no dia seguinte da eleição de Dilma Roussef vou me encontrar mais forte junto aos movimentos sociais, dos movimentos feministas na defesa dos direitos conquistados e por conquistar!

Pensando nas questões levantadas pela autora, se propõe a reflexão do tema, e de sua atualidade. Para melhor compreender a leitura, é preciso recorrer ao contexto social em que vivemos e aos fatos que se seguiram após a eleição de 2010.
O que mudou? Quais eram nossas esperanças? Elas se concretizaram? No cenário atual, com Temer e seus ministros, qual o espaço de representatividade das mulheres?

Parábola da Boa Samaritana

Certa mulher, ao descobrir que estava grávida, recolheu-se em seu esconderijo e abortou, ficando, em consequência, muito doente, chegando a desmaiar nas estradas da vida.

Por acaso, um padre católico estava passando por aquelas estradas. Quando viu a mulher, seguiu adiante, pelo outro lado, porque o Catecismo da Igreja Católica, § nº 2272, já condenou essa mulher ao fogo do inferno.

O mesmo aconteceu com um candidato a Presidente, embora a sua esposa também já tenha praticado aborto: ele chegou ao lugar, viu a mulher e seguiu adiante, pelo outro lado, indo chamar a polícia, porque pela legislação do país, abortar é crime.

Mas uma petista, também candidata a Presidente, chegou perto dela, viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se dela e tratou-lhe as feridas, com pomadas e medicamentos, fazendo-a recobrar os sentidos. Depois colocou-a em seu próprio veículo e a levou a um hospital, e recomendou aos médicos: “Tomem conta dela! Eu providenciarei para que o SUS pague todas as despesas com todo o tratamento”.

Na tua opinião, qual dos três agiu corretamente em relação aquela mulher? O padre? O candidato a Presidente? Ou a petista candidata a Presidente?

A revisão da Parábola do Bom Samaritano foi proposta por Valfran dos Anjos, Cuiabá – MT.

Fonte: Nancy Cardoso Pereira, pastora metodista, assessora do CEBI e CPT. Publicado no site Adital, 18/10/2010.

Foto de capa: Audrey Jackson

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