A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 13,44-52 que corresponde ao 17º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O evangelho recolhe duas breves parábolas de Jesus com uma mesma mensagem. Em ambos os relatos, o protagonista descobre um tesouro muito valioso ou uma pérola de valor incalculável. E nos dois reage do mesmo modo: vende com alegria e decididamente o que tem e fica com o tesouro ou a pérola. Segundo Jesus, assim reagem os que descobrem o reino de Deus.
Ao que parece, Jesus teme que as pessoas o sigam por diferentes interesses, sem descobrir o mais atrativo e importante: esse projeto apaixonante do Pai que consiste em conduzir a humanidade para um mundo mais justo, fraterno e ditoso, encaminhando-o assim para a sua salvação definitiva em Deus.
Que podemos dizer hoje depois de vinte séculos de cristianismo? Por que tantos cristãos bons vivem fechados na sua prática religiosa com a sensação de não ter descoberto nela nenhum «tesouro»? Onde está a raiz última dessa falta de entusiasmo e alegria em não poucos âmbitos da nossa Igreja, incapaz de atrair para o núcleo do Evangelho a tantos homens e mulheres que se vão afastando dela, sem renunciar por isso a Deus nem a Jesus?
Depois do Concílio, Paulo VI fez esta afirmação rotunda: «Só o reino de Deus é absoluto. Todo o resto é relativo». Anos mais tarde, João Paulo II reafirmou dizendo: «A Igreja não é ela o seu próprio fim, pois está orientada para o reino de Deus, do qual é origem, sinal e instrumento». O papa Francisco vem repetindo: «O projeto de Jesus é instaurar o reino de Deus».
Se esta é a fé da Igreja, por que há cristãos que nem sequer ouviram falar desse projeto que Jesus chamava «reino de Deus»? Porque não sabem que a paixão que animou toda a vida de Jesus, a razão de ser e o objetivo de toda a sua atuação, foi de anunciar e promover esse projeto humanizador do Pai: procurar o reino de Deus e a Sua justiça?
A Igreja não pode renovar-se a partir da sua raiz se não descobre o «tesouro» do reino de Deus. Não é o mesmo chamar os cristãos a colaborar com Deus no Seu grande projeto de fazer um mundo mais humano que viver distraídos em práticas e costumes que nos fazem esquecer o verdadeiro núcleo do Evangelho.
O papa Francisco diz-nos que «o reino de Deus nos reclama». Este grito chega-nos desde o coração mesmo do Evangelho. Temos de o escutar. Seguramente, a decisão mais importante que temos de tomar hoje na Igreja e nas nossas comunidades cristãs é a de recuperar o projeto do reino de Deus com alegria e entusiasmo.
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Fonte: Publicado em Instituto Humanitas.