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Cresce o número de pessoas que declaram não ter filiação a uma igreja

Cresce o número de pessoas que declaram não ter filiação a uma igreja

Pesquisa do Datafolha mostra que a fé dos brasileiros vem mudando, e em ritmo acelerado. Cresce no país o número de pessoas que praticam ritos religiosos, mas não se identificam com alguma instituição. Segundo o levantamento, 14% da população não tem religião definida. Em 2010, o índice era de 6%.

Professor do curso de pós-graduação de Ciências da Religião da PUC-Minas, Flavio Senra estuda especificamente o comportamento das pessoas que autoafirmam não ter religião.

Para o especialista, as pessoas querem ter liberdade de crença e de compromissos, sem ter que lidar com as obrigações relacionadas às religiões. “Mesmo sem frequentar uma igreja, muitas vezes a pessoa continua a ter uma relação com elementos mágicos. Ela acende velas ou vai a um centro (de umbanda) tomar um passe, por exemplo”, completa.

Admiração

O professor de História Gilmar Rodrigues, de 29 anos, é um caso entre milhões de brasileiros que foram criados em um ambiente católico, mas deixaram de seguir a religião na fase adulta. Na pesquisa do Datafolha, 50% dos entrevistados disseram ser católicos. Eram 63% no levantamento anterior (2014).

Gilmar foi batizado, catequizado, crismado, mas não se sentia satisfeito com o que a Igreja Católica oferecia. Trafegou, então, por outras religiões, mas não se sentiu acolhido em nenhuma. “Em todas, me decepcionei com a mesma coisa. Via pessoas que pregavam coisas muito bonitas, mas na vida real não praticavam o que estavam dizendo”, afirma Gilmar.

O professor continua a acreditar em Deus e, hoje, demonstra uma admiração pela pluralidade de religiões existentes no Brasil e no mundo. Tanto que, dentro de casa, ele guarda ícones de várias religiões, como catolicismo, judaísmo e hinduísmo. As imagens de São Jorge revelam a admiração de Gilmar pelo sincretismo brasileiro. “Gosto muito de símbolos e rituais religiosos. Entendo que a religião está presente em muitos momentos de nossas vidas”, afirma.

Decepção

A garçonete Mariana Lustosa, de 30 anos, teve um contato muito intenso com o catolicismo durante a infância e adolescência. Quando morava em Brasília, ia a missa duas vezes por semana e era uma admiradora da linha carismática. Após sua mudança para Belo Horizonte, o contato com a instituição se transformou.

Em outra cidade, aprendeu a olhar o mundo por uma ótica diferente. “Fui frequentando outros lugares, conhecendo novas pessoas, saindo um pouco do meu círculo de amizades”, lembra. “Eu rezo, faço minhas orações, sinto que eu e Deus somos melhores amigos. Aprendi que a igreja nos faz sentir medo e acredito que Deus não quer isso”, completa.

Assim como ela, o músico Luiz Ramos, de 33 anos, também deixou de ter uma religião depois de um contato intenso com uma instituição. Por influência da mãe, frequentou semanalmente uma igreja evangélica até a adolescência. Fazia orações, lia a Bíblia e seguia os preceitos da religião.
Passou a sentir uma incompatibilidade após viajar para uma colônia de férias da igreja. “Via uma incoerência no discurso das pessoas, que falavam de amor, mas eram intolerantes com outras religiões”, conta o músico.

Atualmente, Luiz busca compreender a própria espiritualidade por meio da leitura de obras sobre religiões e diferentes correntes filosóficas.

Comunidade

Para Rodrigo Coppe Caldeira, professor de Ciências da Religião da PUC-Minas, o declínio do número de fiéis nas igrejas atrapalha a vivência em comunidade que as religiões proporcionam. “Mais do que experiências religiosas, nas igrejas as pessoas têm experiências em comunidade. Fica mais complicada a transmissão da religião e de valores, além da transmissão da tradição”, afirma o professor. “Num mundo de capitalismo avançado, as religiões passam a ser produtos que podem ser consumidos como cada um quiser. A religião se adapta ao gosto das pessoas, e não o contrário, como acontecia antes”.

Crer sem pertencer

Não é difícil encontrar evangélicos que afirmam participar do movimento internacional “Crer sem Pertencer”, trafegando por diferentes igrejas, sem se ligar oficialmente a alguma delas. Como a dona de casa Marisa Ribeiro, de 37 anos, que já foi a igrejas como Universal do Reino de Deus e Quadrangular, mas não escolheu nenhuma para frequentar com assiduidade. “Às vezes tenho vontade de voltar a ir, pretendo fazer isso no futuro”.

Esse comportamento tem sido cada vez mais crescente entre os evangélicos, segundo Flávio Senra. “Pude acompanhar discursos de alguns pastores e observei a afirmação de que ali, no culto, não havia uma religião. Não é uma recusa, mas um discurso que faz com que as pessoas se sintam mais integrantes de um grupo, de uma família, do que membro de uma igreja”, afirma.

Mobilidade

A mobilidade entre religiões é um fenômeno com que o catolicismo sempre teve de lidar no Brasil. É muito comum por aqui encontrar pessoas que transitam entre a Igreja Católica, a umbanda, o candomblé e o espiritismo. “O tecido social brasileiro é ainda muito católico e é um catolicismo muito popular e particular. Houve uma mescla entre a cultura ibérica e as crenças indígenas e africanas”, explica Senra.

Religião tem um papel fundamental nas comunidades mais carentes

A produtora de cinema Débora Lucas, de 28 anos, não segue nenhuma religião hoje, mas acredita que a formação católica recebida na infância e juventude foi muito importante para seu crescimento pessoal – chegou até a atuar como catequista. Para ela, a religião tem um papel fundamental nos bairros mais carentes de equipamentos culturais e esportivos. “Na periferia, ou você se envolve nas atividades da igreja ou não tem atividade nenhuma, especialmente na adolescência. A igreja era quase uma proteção para as famílias envolverem os filhos, por meio da catequese e dos grupos de jovens. Era isso ou engravidar aos 14 anos, como aconteceu com muitas amigas”, afirma Débora, que prefere acreditar em Deus de uma maneira própria, bem diferente do que aprendeu.

Ateus

Embora o número de pessoas sem religião cresça muito, a pesquisa do Datafolha indica que não houve crescimento no número de ateus (representam 1% dos 2.828 entrevistados).

Com informações do Hoje Em Dia. Publicado por CONIC.

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