Quando bate a crise, o povo, lutadoras e lutadores não se acomodam, nem perdem a esperança. Reúnem-se para conversar, discutir alternativas, indignar-se, protestar e, porque não, celebrar.
Diz a mensagem de boas vindas às educadoras e educadores populares presentes: "O FREPOP busca ser luz a possibilitar reflexões no cenário da conjuntura social, política, econômica, cultural, bem como a troca e compartilhamento de experiências e fortalecer as lutas sociais. É orientado pelos princípios do diálogo, amorosidade, problematização, construção compartilhada do conhecimento, emancipação e compromisso com a construção de um projeto democrático-popular.”
É um projeto de sociedade e de Nação.
O FREPOP, desde sua primeira edição, inspira-se no Fórum Social Mundial, ‘Um outro mundo possível’, redes e teias por onde se articula, dialoga, põe-se em movimento.
Quando cheguei em Lins, São Paulo, para participar pela primeira vez do FREPOP, anos atrás, foi possível respirar o ar da educação popular e sentir a efervescência produzida. Gente da região, gente de outros lugares, gente do Brasil inteiro, gente da América Latina, gente do mundo. O FREPOP não era apenas um Fórum do interior de São Paulo. Era um Fórum Social Mundial com ares de São Paulo, mas também de Brasil e de mundo.
Agora, acontece em Recife, nos espaços da Universidade Federal de Pernambuco, com gente de todo Brasil, e a festa, a alegria e o sotaque nordestinos: juventude alerta, dezenas de Rodas de Conversa, Oficinas, Arenas, a Tenda Paulo Freire instalada, junto com a Tenda Memória, uma Feira de Economia Solidária, sons nas salas, nos corredores, poetas populares, música, dança, mística e, principalmente, muito debate, reflexão, celebração de vida e encantamento, e, a todo momento e em qualquer lugar, um grito coletivo de Fora Temer.
As reflexões acontecem ao estilo do Fórum Social Mundial. Sob um tema central e comum, experiências vividas e contadas, a organização popular, a conscientização, juntando ambiente universitário e popular, sempre, com muita confraternização, encontro de corpos, sapateados, mentes e espíritos alertas e comprometidos.
A educação popular tem esta capacidade e virtude: aproximar as pessoas, fazer a troca de saberes, distribuir os sonhos comuns, saborear a solidariedade, construir pensamentos coletivos, caminhar do mesmo lado e espaço.
O décimo terceiro FREPOP está acontecendo na terra de Paulo Freire. A crise, as ameaças à democracia, o golpe em andamento, a intolerância e o ódio reinantes não superam a vontade de continuar mudando o Brasil e o mundo. Não é hora de choro, de lágrimas e lamentações sem sentido e sem futuro. É hora, sim de se reunir, fazer a necessária autocrítica, mas principalmente juntar forças, ir pra rua, mobilizar-se contra o desmonte das políticas públicas e dos processos de participação social, o fim de direitos dos trabalhadores e população mais pobre, conquistados a duras penas, contra a privatização do patrimônio nacional, contra a usurpação do poder e o impeachment de um governo legitimamente eleito.
É respirar nestes tempos bicudos. Mais que nunca, é preciso encontrar as pessoas, debater tudo sobre tudo, acolher as angústias uns dos outros, alimentar mutuamente a esperança, que ainda está viva e recompõe-se nestas horas e nestes dias.
A ciranda do FREPOP e a ciranda do povo estão em movimento. Conversam, dialogam, ampliam horizontes, na militância dos que se doam e ao mesmo tempo estão sempre na luta. O FREPOP, FREPOPS são necessários, urgentes neste mundo, nesta América Latina, neste Brasil, onde a educação popular, à luz de Paulo Freire e de um povo sofrido e lutador, apesar dos golpistas, da mídia que mente, do mercado que se pensa absoluto, constrói e trilha caminhos de transformação econômica, política, social, cultural, ambiental, de baixo para cima. Como diz o Fórum Social Mundial (vai acontecer nova edição em agosto no Canadá), como amplia o FREPOP, um outro mundo é possível. Um outro Brasil é possível. Urgente e necessário.