Há tempos o CEBI-RS intentava chegar ao extremo oeste do Estado. A distância, porém, vinha sendo uma das dificuldades. Para se ter uma ideia, a distância até Porto Alegre é a mesma da capital gaúcha até Curitiba/PR. Além disso, havia o problema da falta de contato com grupos ou pessoas ligadas às Igrejas da região.
Felizmente, um único contato foi o suficiente para uma aproximação. Assim, acolhido por Jorge Martins Filho, referencial das pastorais sociais da Diocese, e Giovani Moreira, assessor da PJ-ICAR diocesana, José Luiz Possato Jr. esteve entre as/os jovens para falar sobre Leitura Popular da Biblia.
O primeiro momento foi de apresentar o CEBI e falar sobre o ecumenismo. Satisfeitas as curiosidades (o assunto era novidade para a maioria dos participantes), passou-se aos tipos de hermenêuticas juvenis. É possível procurar jovens na Bíblia? O grupo descobriu que as palavras normalmente traduzidas por “jovem” normalmente indicam mais a condição social do que etária das personagens. Até porque juventude, enquanto categoria, é um termo muito recente, pós-revolução industrial. O mais plausível, portanto, quando se fala em hermenêutica juvenil, é ler os textos bíblicos a partir de uma ótica juvenil, ou seja, a partir de uma leitura feita, não PARA, mas PELOS próprios grupos juvenis.
Com isso em mente, o grupo estudou o texto de Marcos sobre o jovem rico (Mc 10,17-22) e seus paralelos nos sinóticos (Mt 19,16-22; Lc 18,18-23). Primeira constatação: não se tem certeza sobre a idade ou origem do personagem que se aproxima de Jesus (em Mateus, é “um certo alguém”; em Lucas, “um chefe do povo”). Sabe-se apenas que ele é muito rico. Após mergulhar no texto, a juventude fronteiriça ficou maravilhada quando se deu conta que pouco importa a identidade do jovem/homem rico. Eles perceberam que a vida eterna não se conquista (herança é graça) e que, se somos impelidas/os à ação, devemos partilhar, assim como os hebreus fizeram com o maná no deserto, como as primeiras comunidades fizeram aos pés dos apóstolos. “Não haja pobres entre vocês!” (Dt 15,4). Este era o mandamento que faltava o rico observar. Ele ficou triste porque entendeu: quem acumula dificilmente está a serviço da vida. O acúmulo gera riqueza de poucos e morte de muitos.
Cientes de que não deviam se apegar à idade do interlocutor de Jesus, mas ao que dizia a Escritura, as/os participantes passaram a debater sua realidade. Há jovens morrendo por causa da ganância de gente muito poderosa. Como isso se dá em Uruguaiana, Alegrete, Itaqui e São Borja (cidades presentes ao encontro)? O que é possível fazer?
Apesar de ser um grupo de jovens lideranças, as/os encontristas, sem ignorar esse problema bem concreto, sentiam ainda mais urgente a necessidade de discutir sua situação eclesial. Como se colocar a serviço do Reino se ainda falta conquistar espaço em suas próprias comunidades? Sendo assim, decidiram que querem mais encontros para discutir sua realidade, iluminados por outros textos bíblicos. O próximo será em data ainda a definir (certamente no segundo semestre de 2016), tendo o grupo se comprometido a pensar previamente alternativas para a solução de seus problemas.
O mais importante, porém, foi a aproximação. A gurizada da fronteira ficou empolgada com a leitura popular, com o método do CEBI. Querem novas experiências, mesmo percebendo que a Palavra, lida dessa maneira, não fica sem efeito, sem a exigência de uma ação. Uruguaiana, Alegre, Itaqui e São Borja certamente não serão as mesmas depois desse contato, assim como daqui para frente teremos um novo rosto para o CEBI-RS.