O CEBI-PE promoveu na Aldeia Camaragibe (PE), o Seminário de Diálogo Inter-Religioso que contou com a presença de 16 pessoas sob a orientação do Pe. Clóvis Cabral (NEABI/UNICAP), Carlos Vieira (HUMANITAS/UNICAP) e Irene Smith (CEBI-PE). O enfoque principal da reflexão girou em torno das religiões de matrizes indígenas, africanas e cristãs.
Irene Smith partilhou as relações com o sagrado a partir dos ritos e vivências dos povos indígenas do Nordeste. Com ênfase no Toré e na Pajelança, o grupo foi conhecendo os ritos e significados, entendendo o porque do ser sagrado dos indígenas. Cocar, maracá e colares materializaram a presença do povo originário brasileiro. De acordo com Irene, o Toré é uma relação com a ancestralidade, para o discernimento e as tomadas de decisões, enquanto a pajelança é um ritual de cura. Além disso, a assessora apresentou a dificuldade encontrada hoje para manter a identidade do povo indígena e de como a demarcação das terras é importante para assegurar essa identidade.
Inspirados pela exibição do vídeo “O mito da criação da terra”, contado a partir dos Guarani e Tupi, as reflexões proporcionaram aos presentes um novo olhar sobre a importância do sagrado para a vitalidade de um povo e contribuir para que repensassem a utilização de termos como “evangelizar” e “apresentar Jesus”.
Num segundo momento, Pe. Clóvis Cabral apresentou o panorama das Áfricas e das Religiões de Matriz Africana que encontram-se no Brasil. Esclareceu que a religião dos povos negros em sua totalidade pode ser expressa como tendo uma visão espiritual da vida, o respeito a dignidade, a família e a comunidade. De acordo com o assessor, as religiões de matriz africana são religiões da casa, onde o centro é a fé. O/A sacerdote/sacerdotiza é um/a cuidador/a, embora haja hierarquia. São religiões que tem um profundo respeito pelos ancestrais e pelos mais velhos. Pe. Clóvis concluiu afirmando que as Religiões de Matriz Africana são religiões bíblicas a partir dos seus mitos e, portanto, universais.
Carlos Vieira, por sua vez, demonstrou por meio do senso o crescimento do grupo de pessoas que se declaram atéias ou crentes sem religião. De acordo com o assessor, esta crescente população que não busca a congregação religiosa para intermediar sua relação com a divindade é uma característica da era secular, onde Deus está presente, porém não enclausurado. Ele destaca que o desafio é descobrir como as pessoas (que confessam ou não uma religião) estão canalizando estas relações com a divindade e quais os reflexos na humanidade.
Ao final do encontro, o grupo celebrou a vida, com benção de água de cheiro, evocando seus ancestrais e partilhando a fé e o alimento. De acordo com Josélio, a avaliação resultou em informações que serão a base para o planejamento do CEBI-PE na área do diálogo inter-religioso, uma vez que os presentes puderam compreender este momento como um primeiro passo na longa caminhada dos diálogos e vivências que continuarão.