A Comunidade Joanina nos conta, que certa vez, conforme o costume, uma Mulher Samaritana de nome não mencionado, foi até o poço de Jacó, na cidade de Sicar, para buscar água. Era meio-dia. Ao chegar, encontrou Jesus sentado perto do local. Ele estava cansado, com sede e com fome, pois tinha caminhado bastante com os discípulos. Eles tinham saído da Judeia e voltavam para a Galileia. É importante dizer que no momento do encontro Jesus estava sozinho; os discípulos tinham ido à cidade para comprar comida.
Um fato significativo nessa história é que apesar de muitos judeus seguirem outro caminho nesse percurso, para não passarem pela Samaria, uma vez que por motivos antigos, judeus e samaritanos não se davam bem, Jesus escolheu passar justamente por ali, com seus discípulos. O porquê dessa escolha ninguém sabe ao certo, mas a escolha em si já diz muita coisa, pois o aventurar-se no encontro com o diferente, rendeu um bom diálogo entre Jesus e a Samaritana, debaixo de um sol quente, junto daquele poço.
– Alguém de vocês já imaginou um Jesus aventureiro?
– Não?!
– Nem eu.
Mas é importante contar e (re)contar que esse acontecimento narrado pela comunidade de João nos permite pensar que Jesus escolheu aventurar-se no encontro com o diferente. Ele escolheu ir, passar pela Samaria. E chegou lá como gente cansada, faminta e sedenta.
Bem… Como estava com sede, Jesus pediu água para a Mulher, uma vez que ela tinha o balde e o poço era fundo. Ela estranhou aquele pedido, pois sabia muito bem que judeus e samaritanos não se “atrelavam”; sabia também, que ela era considerada impura pelas leis religiosas do mundo judaico, e por isso um homem judeu não poderia conversar com ela. Além disso, eles estavam sozinhos! A Mulher estranhou o pedido, mas não ficou calada. Perguntou:
– Como você, sendo um judeu, pede água para mim, uma samaritana?
E essa pergunta “rendeu pano pra manga, viu?” A conversa esticou! E passou por várias trilhas. Falaram sobre o jeito de ser dos judeus e samaritanos, sobre a água e a história do poço de Jacó; conversaram sobre os maridos da Samaritana e sobre diferenças religiosas.
Não pensem que esse diálogo foi fácil. Pelo contrário! Foi marcado por tensões, por “toma lá e dá cá”. Afinal, não é simples se libertar do que está enraizado em nós, daquilo que temos como verdade, de geração em geração. Mas… O bonito nisso tudo, é que de conversa em conversa, tanto Jesus como a Mulher não se fecharam em si mesmos, em suas verdades; eles escolherem se escutar; escutar suas vivências pessoais, culturais e religiosas. Isso contribuiu para que Jesus e a Samaritana vivenciassem uma aproximação de culturas, de conhecimentos, de encontro com o sagrado que anima a Vida, de respeito à diversidade sexual e étnica, de rompimento com uma religião opressora, deconsideração para com as experiências do Sagrado em cada cultura, entre outras dimensões.
Outra coisa significativa nesse contexto é que Jesus se deixou conhecer. Ao confirmar: “Esse Messias sou eu que falo contigo”, ele assumiu, diante da Mulher, que se sentia chamado para uma missão que não dava para ser adiada, de tão especial que era. Por sua vez, a Mulher percebeu que Jesus escolheu passar pela Samaria não por um simples capricho do destino; a escolha se deu porque Jesus tinha sede e fome de algo maior. Tanto é, que quando os discípulos chegaram com a comida, ele nem quis comer. Além disso, a Comunidade nem se preocupou em dizer se Jesus tomou da água ou não. Aliás, isso nem é o mais importante nessa história…
Cada uma e cada um que vá vivenciando seus significantes e significados. O que não devemos esquecer é que Jesus chegou à beira do poço como gente sedenta e faminta. No diálogo ali acontecido há uma correspondência de fomes e sedes. Ao se identificar com as fomes e sedes de Jesus, a Mulher deixa o balde e vai para a cidade anunciar a novidade que vivenciou. E as pessoas da cidade? Acreditaram naquele acontecimento por causa do testemunho da Mulher.
Diálogos a partir da história…
O que podemos re-significar a partir do encontro no poço? Aonde Jesus vai? Aonde vamos nós? Quais são os diversos lugares de encontro dos grupos juvenis hoje? O que fazem e conversam nesses lugares? A que situações esta história nos remete? Podemos falar em poços virtuais?
Uma Curiosidade… Vocês conseguem imaginar Jesus e a Samaritana como pessoas jovens?Em que lugares a juventude pode vivenciar experiências com o sagrado nos dias de hoje?
Jesus olha para a Samaritana e diz: “Dá-me de beber”. E nós, pessoas ditas adultas, conseguimos nos relacionar com a juventude como pessoas capazes de partilhar saberes e conhecimentos? Como sujeitos de transformação social e eclesial? Como pessoas que têm baldes?
Jesus teve sede e fome. E você? Tem sede de quê? Tem fome de quê?
Referência:
CHAMORRO, Graciela, SCHINELO Edmilson. PNV 312,A Comunidade do Discípulo Amado e o Jardim do Bem Viver. Cebi, São Leopoldo, 2013.