Artigos e Reflexões

Vozes que desafiam. Celebração da Festa de Maria Madalena

Por: Cleusa Maria Andreatta, Susana Rocca e Wagner Fernandes de Azevedo

 

Maria Madalena foi a primeira testemunha da Ressurreição, líder, amiga e a grande Apóstola dos Apóstolos. Em 22 de julho, celebra-se a Festa de Maria Madalena, apontada por teólogas, como Christine Schenke, como a mulher mais desprezada e mistificada da história cristã. As contradições do patriarcado fazem a história de Maria, que vem de Magdala em busca de libertação, se conectar à história de todas as mulheres.

 

Neste artigo da série Vozes que desafiam. Mulheres na Igreja, compartilhamos a Liturgia das Horas celebrada na Comunidade Monástica de Bose, na Itália, assim como entrevistas e artigos publicados pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU em alusão à Festa de Maria Madalena.

 

Embora Madalena não tenha escrito cartas como Paulo de Tarso, ela aparece citada em escritos com um amplo protagonismo na Missão dos apóstolos, como destaca a teóloga e parteira Christine Schenke: “Escritos cristãos extracanônicos antigos mostram comunidades de fé inteiras crescendo em torno do ministério de Maria de Magdala, nos quais ela é retratada como alguém que compreende a mensagem de Jesus melhor do que Pedro e os discípulos homens”.

Assim, para a historiadora medieval Katherine Jensen, é um erro manter a visão de Maria Madalena como símbolo do pecado, deixando de enfatizar a relevância do seu apostolado. “Não se deve cometer o erro de pensar que Maria Madalena fosse quer símbolo do pecado, quer símbolo de evangelização. Ela era pecadora antes de sua conversão, mas depois da Ascensão de Cristo, foi pregadora da nova fé”, afirma a historiadora.

Assim como Madalena, outras mulheres se espalharam pelo mundo no cristianismo primitivo. Carolyn Osiek, em artigo publicado por FutureChurch, descreve que as mulheres “desempenhavam papéis de liderança, que incluíam hospedar a igreja em suas casas, evangelizando, ensinando, viajando e oferecendo hospitalidade para receber membros da igreja”.

Christine Schenke reforça que não há consistência em relegar Madalena à pecadora ou esposa de Cristo, tira-lhe o protagonismo, visto que era uma mulher rica e, para além do apostolado, apoiava financeiramente a Missão de Jesus na Galileia.

Essa deturpação da figura de Madalena é também um reverso da relação de Jesus com as mulheres. “O círculo de mulheres que o acompanhavam e lhe prestavam assistência com suas doações pecuniárias – não só Maria de Magdala, mas também Joana, mulher de Cuza – parecem ter o papel de se encarregarem da intendência, o que teria feito com que a existência do movimento de Jesus fosse possível graças às mulheres”, destaca o biblista Régis Burnet.

Embora durante séculos as interpretações acerca de Madalena tenham mudado e sido utilizadas para julgar o papel da mulher na Igreja, Schenke afirma que os registros são incontestáveis: “Maria de Magdala é uma importante mulher líder e testemunha das primeiras igrejas cristãs”.

 

Arte: Janet Mckenzie | FutureChurch

 

Celebração do Mosteiro de Bose para a Festa de Maria Madalena

Desde 1968, a Comunidade monástica de Bose celebra Maria Madalena no dia 22 de julho com o grau de festa, atribuindo-lhe o título de “igual aos apóstolos” e utilizando os textos do comum dos apóstolos.

Publicamos a seguir as intercessões e a oração da Liturgia das Horas ecumênica que é celebrada em Bose para a Festa de Maria Madalena, publicadas em Preghiera dei giorni.

 

22 de julho – Maria Madalena, igual aos apóstolos

 

INTERCESSÃO

℟. Louvor a Vós, Senhor do perdão!

Senhor Jesus, perdoastes a pecadora,
porque muito amou;
acendei em nós o fogo do Vosso amor. ℟.

Maria Madalena tinha experimentado em si o poder do demônio,
mas a sua fé a salvou:
levantai os fiéis escravos do vício e do pecado. ℟.

Quisestes a Vossa discípula ao pés das Cruz,
para que conhecesse o preço do Vosso perdão:
fazei que Vos reconheçamos como Aquele que carrega os nossos pecados. ℟.

Maria sem esperança chorou-Vos junto ao túmulo vazio,
mas Vós a chamastes pelo nome:
que o nosso nome batismal redesperte a nossa vocação. ℟.

Confiastes a Maria de Magdala o anúncio pascal,
proclamando Deus como Pai Vosso e Pai nosso:
dai-nos ser irmãos Vossos e filhos de Deus no amor. ℟.

ORAÇÃO
Oremos.
Deus, nosso Pai,
a Maria Madalena, feita por Vós uma nova criatura,
Vosso Filho ressuscitado confiou o primeiro anúncio pascal:
concedei também a nós, em comunhão com ela,
seguir Jesus Cristo até a cruz,
proclamá-lo ressuscitado
e contemplá-lo um dia na Vossa glória.
Ele que vive e reina agora e para sempre.
– Amém.

PREFÁCIO

O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
Corações ao alto.
– O nosso coração está em Deus.
Demos graças ao Senhor nosso Deus.
– É nosso dever e salvação.

Na verdade, é nosso dever e salvação,
nossa alegria e esperança,
dar-Vos graças sempre e em todo o lugar,
Pai santo e onipotente,
por Jesus Cristo, nosso Senhor.

Foi ele que, na manhã de Páscoa,
chamando Maria de Magdala pelo nome,
fez-Se reconhecer como Senhor Ressuscitado
e lhe confiou a mensagem da vitória sobre a morte
e da Sua glorificação junto do Pai.

Por essa revelação,
àquela que é igual aos apóstolos,
com todos os anjos e os santos do céu,
cantamos o hino da Vossa glória;
– Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo…

 

Entrevistas e artigos publicados pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU que preparam para a Festa de Santa Maria Madalena

 

Madalena, a grande

O livro “Maria Madalena. Equívocos, histórias, representações“, de Adriana Valerio, lançado em 2020, na Itália, é comentado pelo filósofo e padre italiano Sergio Massironi. Valerio propõe-se à “uma revolução hermenêutica tocando o coração do cristianismo”. Massironi comenta que ” a revolução em que Adriana Valerio acredita vem de longe e tem a ver com a ‘estatura’ de uma discípula cuja autoridade os Evangelhos não escondem, embora seja de uma qualidade tão nova que ainda resulte em grande parte incompreendida”.

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A luz de Madalena sobre a Igreja nascente

Talvez justamente por causa da crescente exclusão das mulheres das funções de liderança, muitas mulheres encontram acolhimento naquelas comunidades que entenderam a importância da figura de Madalena como destinatária da revelação de Cristo ressuscitado. De fato, em um contexto de experiências divergentes, altamente variadas e complexas, a partir do século II, difunde-se o movimento gnóstico ao qual muitos grupos cristãos se vinculam, desejosos por percorrer os caminhos do conhecimento (gnose) e da sabedoria (sophia) e as mulheres são os protagonistas indiscutíveis dessas comunidades que conservaram uma memória de Maria Madalena.

O artigo é de Fernanda Di Monte, religiosa Filha de São Paulo, jornalista italiana, especialista em comunicação e informação religiosa.

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Igreja em crise com Madalena

Festa litúrgica de Santa Maria Madalena, um evento que para os “leigos” e católicos distraídos, diz pouco; muito, ao contrário, para aqueles que sabem que um repensamento da Igreja a partir da tarefa que Jesus confiou àquela mulher implicará uma autêntica revolução na maneira de se organizar o cristianismo na história.

As Escrituras cristãs testemunham que, nas origens da Igreja, para anunciar o núcleo central de sua mensagem, Jesus quis uma mulher. Ela não estava, portanto, “sob” os apóstolos, mas no mesmo nível. De fato, entretanto, as comunidades cristãs – esta é a história, com poucas exceções, contadas até hoje – teriam se estruturado todas excluindo a mulher dos ministérios do presbiterado e do episcopado, reservados aos homens.

O artigo é de Luigi Sandri.

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Maria Madalena, empoderamento do feminino na visão do Papa Francisco

A justa iniciativa do Papa Francisco de elevar Maria Madalena ao status de apóstola é uma leitura sensível e coerente do papel dessa personagem, registrado pelo Evangelho. É uma atitude histórica de reconhecimento da figura de Madalena, não como prostituta, mas como parte integral e fundamental da comunidade dos discípulos de Jesus e protótipo de libertação para os coletivos femininos, que estão dentro e fora da Igreja Católica.

A Igreja Católica, finalmente, através do Papa Francisco, dedicou-lhe um dia, declarando-a apóstola para os apóstolos. Essa tomada de decisão feita por Francisco é a expressão de uma revolução antropológica que toca a mulher e investe sobre toda a realidade cultural e eclesial. A instituição dessa festa, de fato, pode ser lida e interpretada como uma desnaturalização da cultura patriarcal e machista, que não aceita o protagonismo das mulheres no grupo dos discípulos de Jesus e nos espaços de decisão da própria Igreja Católica.

O artigo é de José Cristiano Bento dos Santos, padre da Arquidiocese de Londrina, filósofo e teólogo.

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“Maria Madalena e o futuro da Igreja, uma história por escrever”, por Xabier Pikaza

É muito bom conhecer melhor a histórica Maria Madalena… mas isso não resolveria os problemas. Não há Madalena histórica separada e fixada no passado, mas um caminho aberto por Maria Madalena e Pedro e pelos outros seguidores de Jesus. Nesse sentido, a história de Madalena ainda não está escrita, nós vamos escrevê-la, madalenas e madalenos…

Nesta entrevista, o teólogo basco Xabier Pikaza apresenta algumas obras sobre Maria Madalena e promove o debate histórico sobre Maria Madalena.

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Como a Igreja pode exaltar as mulheres? Elevando a festa de Maria Madalena à solenidade

Chegou a hora de elevar ainda mais a festa de Santa Maria Madalena a uma solenidade. Conceder a esta grande mulher igual dignidade à natividade de João Batista. Esta seria uma boa maneira de reconhecer João e Maria como os atores fundamentais no anúncio das Boas Novas da Salvação: o primeiro anunciando o Cordeiro de Deus para o mundo, e a segunda anunciando a Ressurreição aos apóstolos assustados.

Elevar a festa de Santa Maria Madalena a uma solenidade concederia a esta grande mulher igual dignidade com a natividade de João Batista.. Esta seria uma boa maneira de reconhecer tanto João como Maria como atores fundamentais no anúncio das boas novas da salvação: o primeiro anunciando o Cordeiro de Deus para o mundo e a segunda anunciando a ressurreição aos apóstolos assustados.

A solenidade de Santa Maria Madalena também proveria uma medida extra de encorajamento para todas as mulheres que trabalham nos ministérios da Igreja a serviço daquelas que estão nas periferias da sociedade.

O artigo é de Alvan I. Amadi, padre da diocese de Green Bay, EUA.

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Maria de Magdala, a grande “Apóstola dos Apóstolos”. Entrevista especial com Christine Schenke

Nem prostituta, nem esposa de Jesus: Maria Madalena foi a principal testemunha da Ressurreição e “uma líder feminina que entendeu a missão de Jesus melhor do que os discípulos homens”. Como a Igreja Oriental, devemos honrá-la como “a Apóstola dos Apóstolos”, defende Christine Schenke.

“Não é possível contar a história da Ressurreição sem falar também de ‘Maria, a de Magdala’”. Foi essa mulher que, depois de ir ao túmulo onde Jesus havia sido depositado depois da crucificação, “viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo e saiu correndo”, como relata o Evangelho, para se encontrar com os discípulos e lhes contar a grande notícia. Segundo Chris Schenke, CSJ, diretora-executiva da FutureChurch (futurechurch.org), organização norte-americana de renovação da Igreja, essa é a grande importância e o legado de Maria Madalena, uma das primeiras místicas do cristianismo que viveu “a experiência da Ressurreição”.

Em entrevista por e-mail à IHU On-LineChris busca desmontar por inteiro qualquer referência negativa a Maria Madalena: “Não há nada nas Escrituras que sustente a ideia de que ela era uma prostituta” e, “se Maria de Magdala fosse a esposa de Jesus e a mãe de seu filho, é altamente improvável que esses textos teriam omitido esses fatos importantes”. Ao contrário, para a religiosa da congregação das Irmãs de São José, Madalena foi a principal testemunha da Ressurreição e “uma líder feminina que entendeu a missão de Jesus melhor do que os discípulos homens”. “Curiosamente – afirma –, a Igreja Oriental nunca a identificou como uma prostituta, mas honrou-a ao longo da história como ‘a Apóstola dos Apóstolos’”.

Christine Schenke, CSJ, é religiosa da congregação das Irmãs de São José e diretora-executiva da FutureChurch (futurechurch.org), organização norte-americana de renovação da Igreja, que atua pela plena participação de todos católicos e católicas em todos os aspectos da vida e do ministério da Igreja; tem mestrado em Enfermagem-Obstetrícia e em Teologia.

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Paulo e Madalena: dois caminhos que levam ao Cristo. Entrevista especial com Christine Schenke

Christine Schenke defende que pelo resgate da história de liderança coigual da mulher na Igreja primitiva é possível pensar na igualdade em todos os ministérios, rompendo com a dualidade na disputa de gênero

grande luta do feminismo pode ser resumida a uma palavra: igualdade. Por essa perspectiva, mulheres querem ter a oportunidade de ocupar o mesmo espaço – e com o mesmo prestígio – que os homens. Chris Schenk, da FutureChurch, destaca que Jesus faz esse movimento, igualando homens e mulheres nas suas potências. Mais tarde, seguido por Paulo de Tarso. Ela entende que essa perspectiva da mulher potente na Igreja primitiva foi se perdendo e, para pensar em igualdade hoje, defende o resgate a esse princípio. “Resgatar a história da liderança coigual das mulheres na igreja primitiva contribui para preparar o terreno para a igualdade das mulheres em todos os ministérios da igreja, como foi visionado pela primeira vez por Jesus e S. Paulo”, enfatiza.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-LineChris demonstra que a igualdade de gênero vem pelo reconhecimento de cada um em sua especificidade, no que entende como reconhecimento coigual entre ambos. Ideia que fica clara, por exemplo, quando questionada sobre as diferenças de uma – suposta – mística feminina. “No caso de Teresa [de Ávila] e João [da Cruz, ambos místicos], é de se perguntar se as diferenças em suas experiências místicas se devem ao seu gênero ou mais ao fato de que Teresa era mais extrovertida do que João”, acentua. A provocação de Chris coloca em suspenso até as apressadas conclusões acerca de uma ideia de ministério de homens, que sufocou o de Maria Madalena. “A experiência de Maria se deu logo depois de testemunhar a morte brutal e o sepultamento de Jesus, de modo que o impacto de ver a nova vida de Jesus deve ter sido avassalador. A experiência de Paulo se deu depois de meses de perseguição à igreja recém-nascida. A experiência dele também foi avassaladora, mas por razões diferentes”, reflete.

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Pregadora de uma nova fé e em pé de igualdade com os outros apóstolos. Entrevista especial com Katherine L. Jansen

Solteira e vinda de uma família abastada, Maria Madalena é tida como uma das únicas a testemunhar a ressurreição de Cristo. Para Katherine L. Jansen, é motivo de alegria que o Papa Francisco tenha elevado seu dia ao quilate dos demais apóstolos

Talvez uma das únicas testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo, Maria Madalena “foi a primeira a ver o Cristo ressuscitado e a primeira a relatar esse evento para os/as demais”, afirma a teóloga Katherine L. Jansen, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Especula-se que ela foi uma “das primeiras e uma dedicada discípula de Cristo, que apoiou financeiramente o seu ministério”.

A pesquisadora adverte que “não se deve cometer o erro de pensar que Maria Madalena fosse quer símbolo do pecado, quer símbolo de evangelização. Ela era pecadora antes de sua conversão, mas depois da Ascensão de Cristo, foi pregadora da nova fé”. Antes de Cristo nada se sabe acerca da vida de Maria de Madalena, “exceto que ela parece ter vindo de uma família relativamente abastada e que ela era solteira. Seu status econômico é indicado pelo fato de o Novo Testamento nos dizer que ela e as outras mulheres que seguiam Cristo lhe serviam com seus próprios recursos.” Jansen, cuja pesquisa fundamental é centrada em Maria Madalena, comemora que sua figura esteja, finalmente, “recebendo o devido reconhecimento, na Igreja moderna, ao menos na liturgia”. E acrescenta: “Estou muito contente em ver que o papa Francisco elevou o dia em que se festeja Maria Madalena de um dia memorial para um dia festivo em pé de igualdade com os outros apóstolos”.

Katherine L. Jansen é Ph.D. pela Universidade de Princeton, especialista em Itália Medieval, gênero e mulheres da era medieval, religião e história cultural. É autora de Medieval Italy: Texts in Translation (Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2009), coeditado com Joanna Drell e Frances Andrews, e de The Making of the Magdalen: Preaching and Popular Devotion in the Later Middle Ages (Princeton: Princeton University Press, 2000).

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A transcendência de Madalena: múltiplas faces no espírito dos tempos. Entrevista especial com Régis Burnet

Diferentes perspectivas, intencionalidades e modos de ver a trajetória de Jesus resultaram em um painel multifacetado de interpretações não só sobre os atos desse importante personagem da história da humanidade, mas também acerca das figuras que de algum modo experienciaram diretamente a convivência com Cristo ou se debruçaram no legado deixado por ele. Uma dessas personalidades que fazem parte da construção da narrativa cristã é Maria Madalena, a quem foram atribuídos traços e perfis que ainda continuam em processo de recriação constante, revelando pistas sobre os diferentes tempos e sociedades em que foram idealizados. Entretanto, um ponto é pacífico dentro dessa multiplicidade de conotações: a força da presença dessa mulher, que atravessa as épocas e se mantém vívida.

Conforme nos chama a atenção o filósofo e doutor em Ciências Religiosas Régis Burnet, “a memória de Madalena nunca morreu, como demonstra a moda do uso do seu nome, que a lembra em todas as línguas: MadeleineMagdeleineMaddalenaMagdelen etc.”. Na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, o professor e pesquisador alerta que “mesmo que nossa modernidade tenha a impressão de que “faltam mulheres” no Novo Testamento, constatamos que Jesus dá a elas um lugar que não possuíam nos outros contextos religiosos (seja nos textos do paganismo, seja nos do judaísmo, por exemplo)”.

Para Burnet, independente das interpretações que se possa fazer acerca de Madalena, se sobressai a importância da figura feminina, apesar dos obstáculos e tentativas de apagamento. Bergoglio, ao resgatar a memória dessa personagem bíblica, atualiza esse debate na sociedade e no clero. “O gesto do Papa me parece ser uma maneira, talvez, de reconhecer o lugar surpreendente (para a época) que as mulheres ocupavam junto de Jesus, mas, sobretudo, um apelo a um maior reconhecimento delas na Igreja de hoje”, frisa.

Régis Burnet é doutor em Ciências Religiosas pela École Pratique des Hautes Études, em Paris. Entre suas publicações mais importantes destacam-se Paroles de la Bible (Paris: Seuil, 2011), L’Évangile de la trahison, une biographie de Judas (Paris: Seuil, 2008), Marie-Madeleine. De la pécheresse repentie à l’épouse de Jésus (Paris: Cerf, 2008) (2ª edição) e Le Nouveau Testament (Que Sais-Je?) (Paris: PUF, 2004).

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O que Paulo estava fazendo no culto de uma mulher? Visitar lugares cristãos primitivos pode ser esclarecedor. Artigo de Christine Schenke

A maioria dos cristãos desconhece completamente que as mulheres ajudaram a estabelecer muitas das primeiras igrejas na Grécia, na Turquia e em Roma. Isso porque a tradição da Igreja sempre atribui sua fundação a Paulo.

Os primeiros seguidores de Cristo circularam e preservaram as cartas incontestadas de Paulo (circa 51-62 d.C.) e, mais tarde, os Atos dos Apóstolos de Lucas (circa 80-90 d.C.), que relatam as jornadas missionárias de Paulo em detalhes – embora às vezes divergentes.

Portanto, é compreensível que os seguidores de Cristo que vieram a seguir pensem que Paulo fez tudo. Mas não fez. Na verdade, o próprio Paulo dá crédito a Prisca como “colega em Cristo Jesus” (Romanos 16: 3-5) e descreve Evódia e Síntique de Filipos como colegas que “lutaram ao meu lado na obra do evangelho” (Filipenses 4:3).

Paradoxalmente, ninguém saberia sobre essas líderes mulheres, a não ser pelo trabalho de meticulosos estudiosos bíblicos que pacientemente reuniram fatos dispersos no trabalho com os próprios textos que retratam (e às vezes exaltam) Paulo e outros líderes masculinos na Igreja primitiva.

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Como a Igreja pode exaltar as mulheres? Elevando a festa de Maria Madalena à solenidade

Chegou a hora de elevar ainda mais a festa de Santa Maria Madalena a uma solenidade. Conceder a esta grande mulher igual dignidade à natividade de João Batista. Esta seria uma boa maneira de reconhecer João e Maria como os atores fundamentais no anúncio das Boas Novas da Salvação: o primeiro anunciando o Cordeiro de Deus para o mundo, e a segunda anunciando a Ressurreição aos apóstolos assustados.

Maria de Magdala. Apóstola dos Apóstolos — Revista IHU On-Line Nº 489

 

 

A iniciativa do papa Francisco, de elevar a memória litúrgica de Maria Madalena, no dia 22 de julho, à festa, como um dos Apóstolos, é profética. Segundo Lilia Sebastiani, teóloga italiana, a decisão “inscreve-se na teologia dos gestos, mais do que das inovações doutrinais, e será lembrada como dos aspectos mais significativos de seu pontificado”. Segundo ela, isto “não somente é importante para a história do culto de uma santa, mas para o devir do anúncio Pascal”. Miriam de Magdala é o tema de capa desta edição da IHU On-Line.

Confira a revista na íntegra.

 

O feminino e o Mistério. A contribuição das mulheres para a Mística. Revista IHU On-Line Nº 385

 

 

Mística, segundo o professor do programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Faustino Teixeira, “é uma experiência que integra, em reciprocidade fundamental, as dimensões de anima (feminilidade) e animus (masculinidade) que habitam cada pessoa humana”. “Há uma ‘lógica do coração’ que transborda a ‘lógica da razão’”. A contribuição de mulheres como Hildegard de BingenMarguerite PoreteTeresa de ÁvilaMaria MadalenaRabi’a al-’Adawiyya, entre outras, para uma compreensão mais profunda do que é a Mística é o tema de capa desta edição da IHU On-Line.

Confira a revista na íntegra.

 

Matéria publicada  no portal do Instituto Humanitas-Unisinos

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