Camila explica que as ocupações têm o caráter de apropriação do espaço físico e gestão da escola, que é dos/as alunos/as por direito. “As ocupações estão promovendo aulas de cidadania e política e se articulando. É um tapa na cara de muito governador por aí.”
As reivindicações dos/as estudantes pelo País são bem diversas, mas as três pautas em comum que têm ganhado muita força são a Base Nacional Comum Curricular, o debate de gênero nas escolas e a livre organização estudantil. Estas são as maiores reivindicações do movimento secundarista no Brasil atualmente. “As ocupações transformam a escola em espaço público e os jovens começam a discutir democracia e valores, assim a reivindicação do movimento passa a ser ampla”, defende Lilian Kelian, pesquisadora do projeto Jovens Urbanos, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec).
“Acima de tudo, é importante vermos que nós, que somos da rede pública, sofremos muitas opressões, já que a maioria é da periferia, negro, pobre. Então já temos muitos conflitos diante do Estado. O jeito é se organizar”, defende Washington Andrade, de 17 anos, estudante da Escola Andronico de Mello, na zona oeste de São Paulo. Washington participou da ocupação do Centro Paula Souza, responsável pelas Escolas Técnicas Estaduais de São Paulo (Etecs) e Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatecs) do Estado de São Paulo. A unidade foi reintegrada na sexta-feira (06/05) e a Polícia Militar reprimiu fortemente a ocupação.
São Paulo
A mobilização secundarista em São Paulo começou ano passado, por causa da reorganização escolar proposta pelo governador do Estado Geraldo Alckmin. Os/as estudantes conseguiram barrar o projeto, que foi suspenso pela Justiça paulista.
Para Washington, houve uma mudança de postura por parte dos/as estudantes desde a mobilização contra a reorganização escolar. “As pessoas estão com medo agora, estamos lidando com o Estado opressor escancarado. Os estudantes e professores que apoiaram ficaram mal vistos e o peso do ano passado está refletindo agora.”
A última reivindicação do movimento paulista foi a efetividade da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Merenda, para investigar o escândalo de desvios nas compras de alimentos para as escolas estaduais. A criação da CPI foi conquistada pelos/as estudantes no dia 9 de maio quando somaram as sete assinatura que faltavam para a abertura da Comissão. O movimento ocupou a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no começo de maio para pressionar o governo do Estado.
Camila diz que a luta está só começando, que os/as estudantes vão ocupar cada vez mais. “Não ficamos felizes só com a CPI, sabemos que foi uma aprovação para que a pressão popular não atacasse mais o [Fernando] Capez (presidente da Alesp) e companhia. Nós não vamos parar, vamos caçar o ladrão da merenda”, afirma.