Foi lançada a 21ª edição da Campanha Primavera para a Vida. A largada foi dada em um seminário realizado de maneira virtual na noite desta quarta-feira (22). Com o tema “Buscar a Verdade: um compromisso de fé”, o encontro contou com participação da jornalista Dra. Magali Cunha, da pastora Romi Bencke e da ativista Ana Gualberto, além de diversos membros do movimento ecumênico.
A campanha aborda o caminho da verdade como um princípio cristão que produz paz e justiça e denuncia os danos que a cultura de produzir e difundir “Fake News” (expressão sofisticada para o termo “mentira”) tem causado em nossa sociedade, de modo mais particular em comunidades de fé. Por isso, o texto que nos inspira é: “Guarda os teus lábios de falarem enganosamente, quem diz a verdade manifesta a justiça”. Pv 12:17a.
A pastora Romi Bencke, secretária-geral do CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, e a ativista Ana Gualberto, coordenadora de Ações com Comunidades Tradicionais de KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço, foram convidadas a falar no evento sobre experiências pessoais em que foram vítimas de notícias falsas, os desdobramentos e consequências desses episódios.
Ana trouxe um exemplo em que KOINONIA foi acusada pelo Jornal Estado de São Paulo de ser uma instituição de fachada do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha e utilizada para lavar dinheiro. O caso aconteceu em 2014. KOINONIA fez diversos pronunciamentos, provou sua idoneidade, inclusive com parecer do Tribunal de Contas da União, que mostrou não haver nenhuma irregularidade na atuação da ONG.
Ela reclama que, mesmo provando que nada do que a matéria dizia é verdade, a “notícia” ainda hoje pode ser acessada no site do jornal.
A pastora Romi Bencke viveu as dores da desinformação orquestrada de forma mais individual. Ela foi vítima de ataques caluniosos várias vezes, mas destaca a experiência vivida desde a Campanha da Fraternidade Ecumênica por um motivo: a responsabilização que ela própria sofreu, ao invés das pessoas que produziram o conteúdo falso. “O ônus de mostrar que aquilo não é verdade é de quem sofre a fake news”, afirma.
“Eu fui vítima várias vezes na história – quando espalharam as mentiras, quando as desmenti. Porque a imagem que fica é a de que você é a pessoa causadora do problema. Também me responsabilizaram. ‘Ah, mas você toca em assuntos que geram esse tipo de movimento’. Pessoas que você imaginava serem suas companheiras compram a narrativa, começam a te julgar. Também houve quem se afastasse até do CONIC”, relata.
Romi conta que também tentou iniciar um processo judicial neste caso, porém não conseguiu seguir em frente por se tratar de algo extremamente desgastante e nocivo para ela. “O custo é seu. No meu caso, eu tive que fazer a transcrição das falas. Me senti violentada novamente e acabei desistindo. É difícil ter que ouvir tudo de novo. É preciso ter uma capacidade de resiliência muito forte.”, desabafa.
As fake news e a busca pela verdade nos ambientes de fé
A jornalista Dra, Magali Cunha fez uma fala no sentido de jogar luz sobre o que são as fake news, quais são suas consequências, como se propagam em espaços religiosos e por quê elas ganham tanto eco entre os cristãos. Magali destaca algumas características das fake news que explicam o porquê de elas serem tão atraentes. Um deles é o sentimento que a cientista política americana Wendy Brown chamou de moralidade ressentida.
“Aquela pessoa que tem ressentimento da empregada doméstica que vai sentar do lado dela no avião ou do negro na universidade. Do indígena que tem direito a terra ‘e não deveria ter’. Tem gente que carrega esse ranço e acha que a ‘culpa’ dessas pessoas ocuparem lugares que ‘não deveriam’ é de ativistas de direitos humanos – da CESE, da pastora Romi, da Ana, de KOINONIA”, explica.
Magali aponta que as pessoas que produzem fake news – às quais ela chamou de “traficantes” em uma metáfora de distribuição de drogas – sabem desse ressentimento e exploram isso. As fake news encontram um grande eco em ambientes cristãos e, segundo a jornalista, isso tem relação com a confiança que os fiéis têm tanto em seus pastores e pastoras como nos conteúdos que circulam em suas igrejas
Ela complementa dando ênfase a um hábito de cristãos e cristãs. “São pessoas que gostam de fazer evangelização e quando elas passam adiante esse conteúdo, é isso que elas acham que estão fazendo. Porque aquele conteúdo é preparado especialmente para atingir esses grupos. E aí somam-se a moralidade ressentida, credibilidade do ‘grupo da igreja’, da liderança. Quem recebe algo do pastor ou da pastora vai achar que é mentira?”.
Publicação “Buscar a Verdade: Um Compromisso de Fé”
A CESE promove desde 2001 a Campanha Primavera Para Vida, a fim de articular o diálogo com as Igrejas, fortalecendo o compromisso ético com a promoção e garantia dos Direitos Humanos, contribuindo para a formação das lideranças clérigas, leigas e das comunidades de fé, disponibilizando estudos bíblico-teológicos inspirados em demandas sociais vivenciadas pela organização.
A publicação “Buscar a Verdade: Um Compromisso de Fé” envia luz à importância do caminho da verdade como um princípio cristão que produz paz e justiça, e denuncia como isso tem sido um impeditivo para avanço social.
O livro foi lançado durante o Seminário da Campanha Primavera para a Vida 2021, e traz como proposta a reflexão sobre esses novos desafios para as sociedades democráticas, através de subsídios bíblicos e teológicos para que as igrejas trabalhem nas suas reuniões, encontros, catequeses, estudos bíblicos e escolas dominicais.
Clique aqui para baixar a publicação.
A pastora Sônia Mota, diretora executiva da CESE, apontou para o caminho que devemos trilhar nessa nova primavera. “A utopia serve para que continuemos caminhando. A Primavera, para que ressurjamos mais fortes e resilientes. A CPPV deste ano é um convite para refletirmos sobre o caminho da verdade como um princípio cristão que produz a paz e a justiça, mas que também denuncia as mentiras. É por isso que estamos aqui hoje e que seguiremos, durante a toda a primavera, através de nossos canais de comunicação, denunciando e combatendo as Fakes News em nossos grupos’’.
A pastora Helivete Bezerra, presidenta da CESE, saudou a todos e todas em nome da Diretoria Institucional da CESE. “É preciso reforçar a importância de dialogarmos sobre um tema tão importante como o compromisso com a verdade. Sobretudo em nossas comunidades de fé. Como pessoas cristãs, acredito que temos a responsabilidade de denunciar a mentira, promover a verdade. Para que a justiça sempre prevaleça.”.
Assista a live na íntegra no nosso canal do Youtube no link:
Fonte : Site da CESEhttps://www.cese.org.br/campanha-primavera-para-a-vida-2021-e-lancada-com-amplo-debate-sobre-fake-news-dentro-das-comunidades-de-fe/