A vida é o bem e também o dom maior. A vida em abundância, mais que uma redundância, é uma exigência evangélica e é também a denúncia de que alguém está roubando a vida de alguém. A vida em abundância é a superação da sobrevida, em que falta o necessário. E como se rouba a vida de alguém? Negando-lhe o direito a ter um trabalho; tirando-lhe o direito de ter uma casa para acolher seus filhos e um pedacinho de terra para tirar o seu sustento; usurpando-lhe o seu pão de cada dia como um direito humano inalienável; roubando-lhe a liberdade de sonhar e de viver livremente a sua orientação sexual; impedindo-lhe de dizer a sua palavra de viver e expressar livremente a sua fé; proibindo-lhe de exercer a sua vocação ontológica de Ser Mais. Estas são apenas algumas das formas de roubar a vida de alguém. Aquele que entra na vida do irmão e da irmã e é indiferente aos seus sonhos ou causador de suas dores, é ladrão e assaltante. Além de assassino.
A parábola meditada hoje é composta por duas pequenas parábolas: a primeira, (10,1-5), confronta o pastor que vive o chamado e acolhe e cuida das ovelhas, as conhece e é por elas reconhecido, com a segunda (10,7-10), o “pastor” desleixado, egoísta e interesseiro que explora, maltrata e engana as ovelhas. Jesus de Nazaré se apresenta como o primeiro, o Bom Pastor, aquele que sabe ouvir, cuja atitude é como uma porta aberta para acolher, alimentar, guiar, proteger e curar, Ele dá a vida, e vida em abundância, para todos e todas, sem distinção. Dá, inclusive, a própria vida se preciso for. Ao se apresentar como o Bom Pastor e ao descrever as qualidades que o identificam, Jesus de Nazaré está dizendo exatamente qual deve ser a identidade de seus seguidores e de suas seguidoras. E para não haver dúvida, ele confronta e compara com o seu oposto, o mercenário, o falso pastor, aquele que vem para dividir as ovelhas, roubá-las e matá-las. Para saber como anda o nosso redil e quão próximo ou longe da prática de Jesus de Nazaré, anda a sua prática, uma das formas é sabermos quantas pessoas nós conhecemos pelos seus nomes e quantas nos conhecem pelos nossos nomes e nos reconhecem pelas nossas vozes. Isso nos dirá se somos uma Igreja Cristã ou se formamos uma associação recreativa de entretenimento.
Proposta de oração:
Senhor Deus, Pai-Mãe da vida, fonte de vida em abundância, dá-nos o discernimento, a coragem e a sabedoria necessárias para, seguindo o exemplo de teu Filho, o Bom Pastor, acolher, cuidar e guiar o teu povo para uma Terra Sem Males, onde há vida em abundância, e para o Bem Viver. Amém
Autor: João Ferreira Santiago. Teólogo, Poeta e Militante. Doutorando em Teologia pela PUC-PR. Coordenador Estadual do CEBI-PR.