A leitura que a Igreja propõe para a Noite de Natal é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas, 2, 1-14. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Boa reflexão!
O Natal é muito mais que todo esse ambiente superficial e manipulado que se respira nestes dias nas nossas ruas. Uma festa muito mais profunda e alegre que todos os sistemas da nossa sociedade de consumo.
Os crentes, temos que recuperar de novo o coração desta festa e descobrir detrás de tanta superficialidade e aturdimento o mistério que dá origem à nossa alegria. Temos que aprender a “celebrar” o Natal. Nem todos sabem o que é celebrar. Nem todos sabem o que é abrir o coração à alegria.
E, no entanto, não entenderemos o Natal se não sabemos fazer silêncio no nosso coração, abrir a nossa alma ao mistério de um Deus que se aproxima de nós, alegrar-nos com a vida que se nos oferece e saborear a festa da chegada de um Deus Amigo.
No meio do nosso viver diário, por vezes tão aborrecido, apagado e triste, convida-se à alegria. “Não pode haver tristeza quando nasce a vida” (Leão Magno). Não se trata de una alegria insípida e superficial. A alegria de quem está alegre sem saber por quê.
“Temos motivos para o júbilo radiante, para a alegria plena e para a festa solene: Deus fez-se homem e veio para viver entre nós” (Leonardo Boff).
Há uma alegria que só se pode desfrutar por quem se abre à aproximação de Deus e se deixa atrair pela Sua ternura.
Uma alegria que nos liberta de medos, desconfianças e inibições ante Deus. Como temer um Deus que se nos aproxima como um menino? Como esquivar-se a quem se nos oferece como um pequeno frágil e indefeso? Deus não veio armado de poder para impor-se aos homens. Aproximou-se com a ternura de um menino a quem podemos acolher ou rejeitar.
Deus não pode ser já o Ser “onipotente” e “poderoso” que nós suspeitamos, fechado na seriedade e no mistério de um mundo inacessível. Deus é este menino entregue carinhosamente à humanidade, este pequeno que procura o nosso olhar para nos alegrarmos com o Seu sorriso.
O acontecimento de que Deus se fez menino diz muito mais de como é Deus do que todas as nossas reflexões e especulações sobre o Seu mistério. Se soubéssemos deter-nos em silêncio ante este menino e acolher desde o fundo do nosso ser toda a proximidade e a ternura de Deus, talvez entendêssemos por que o coração de um crente deve estar afetado de uma alegria diferente nestes dias de Natal.
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Publicado originalmente no site de IHU Online.
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