Iniciamos neste domingo, dia 26 de fevereiro, a quaresma. Neste primeiro domingo da quaresma, almejamos aprender com Jesus como enfrentar as tentações que nos desviam do caminho do Reino de Deus e seu projeto de partilha, fraternidade e justiça.
O Evangelho proposto para esse tempo é Mateus 4,1-11. O texto é um relato sobre as tentações enfrentadas por Jesus no deserto, quando ele passa quarenta dias e quarenta noites em oração e jejum, sendo tentado pelo diabo[1]. É possível imaginar que Jesus estivesse enfrentando uma profunda crise de identidade, e se questionava se realmente esse era o caminho a seguir!
Relatos sobre as tentações enfrentadas por Jesus também são encontrados nos Evangelhos de Lucas e Marcos. É comum, nos três relatos, as tentações do deserto acontecerem logo após Jesus ter sido batizado por João Batista. O próprio Jesus, agora, se prepara para assumir o Projeto do Reino, e neste momento aparecem as tentações para desviá-lo desse caminho. Ao refletirmos sobre as tentações de Jesus, somos convidados e convidadas a pensar nas tentações que hoje nos seduzem e podem nos desviar do caminho que conduz ao Reino.
Quais são as tentações enfrentadas por Jesus e que hoje nos seduzem?
A tentação do privilégio, é substituída pela partilha.
“Jesus jejuou durante quarenta dias e noites”. Depois de tantos dias, é muito natural que ele estivesse com fome e fragilizado, nessa condição era muito propício cair na tentação quando o diabo lhe provoca a transformar pedras em pão, afinal ele é o filho de Deus. Mesmo fragilizado, Jesus não se deixa levar pela solução fácil e reponde fazendo memória das escrituras: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Jesus não se aproveita de sua condição para ter o privilégio do alimento, enquanto pessoas perecem com a fome. O seu projeto é de comida, segurança, moradia, saúde, educação, lazer, etc. para todas as pessoas, sem excluir ninguém e sem manter privilégios. É a vida em sua plenitude!
A tentação do poder, é substituída pelo serviço.
A partir do versículo cinco, o tentador coloca-o na parte mais alta do templo e pede para que ele se jogue, criando um verdadeiro espetáculo sensacionalista. Mais uma vez, Jesus não cede a provocação e responde conforme as escrituras: “Não tentarás ao Senhor teu Deus.” Ao agir assim, ele deixa claro que não usará seu poder para manipular nem o templo e nem as pessoas, afinal o seu poder está na entrega, no colocar-se a serviço daqueles e daquelas que precisam de um cuidado, de um acolhimento para garantir sua dignidade. Para Jesus, o poder está em servir!
A tentação da posse e riqueza, é substituída pela generosidade.
No oitavo versículo, aparece na narrativa que o diabo leva Jesus para um monte muito alto e lhe mostra todos os reinos do mundo e suas riquezas. Tudo é oferecido a Jesus. Em troca, ele deveria se curvar ao diabo. Novamente, Jesus responde fazendo memória das escrituras: “Vai-te satanás, porque está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto’.”
Conforme o sociólogo alemão Max Weber, poder é a possibilidade que alguém tem de impor sua vontade sobre outras pessoas. Jesus não cede a nenhuma dessas tentações, nem a riqueza e nem ao poder. Ele enfrenta mais essa proposta de sedução representada pela riqueza, poder e pelo luxo, ofertado pelo tentador. Assim, Ele mostrou que seu poder não está na riqueza ou no controle que ele poderia exercer sobre as pessoas, mas no pão partilhado, na vida doada, na generosidade que garante vida e vida plena para todas as pessoas. Jesus derrota todas as tentações mostrando que o poder, a riqueza e o prazer está na alegria da doação e generosidade!
Em momento algum, o Pai promete ao filho facilidades. As dificuldades e as seduções irão aparecer, mas assim como Jesus, podemos vencê-las por meio da fé, da oração e da memória daqueles e daquelas que nos antecederam e que permaneceram firmes na construção do Reino de Deus, em sua dimensão mais profunda que é a justiça, a vida plena e a dignidade humana.
Quem sou?
Sou Roneide Braga Santos, do CEBI/Go. Nasci e moro na cidade de Anápolis. Historiadora, trabalho como professora de História e Sociologia da Rede Estadual de Educação em Goiás. Para todas verem: Sou uma mulher pequena, magra, morena clara e de cabelo liso.
[1] Em sua origem grega quer dizer “aquele que joga através” ou obstáculo na vida de alguém.