Pelos caminhos da Galileia Jesus esforçava-se por espalhar o «fogo» que ardia no seu coração. Na tradição cristã têm ficado diversas marcas do seu desejo. Lucas diz assim: «Vim para incendiar o mundo: e gostaria que já estivesse ardendo!». Um evangelho apócrifo mais tardio recorda outro ditado que pode vir de Jesus: «Aquele que está perto de mim está perto do fogo. Aquele que está longe de mim está longe do reino».
Jesus deseja que o fogo que leva dentro dele pegue verdadeiramente, que ninguém o apague, que se estenda por toda a Terra e que o mundo inteiro se abrase. Quem se aproxima de Jesus com os olhos abertos e o coração desperto vai descobrindo que o «fogo» que arde no seu interior é a paixão por Deus e a compaixão por aqueles que sofrem. Isto é o que o move e o faz viver procurando o reino de Deus e a sua justiça até à morte.
A paixão por Deus e pelos pobres vem de Jesus, e só se acende nos seus seguidores ao contato com o seu Evangelho e o seu espírito renovador. Esta paixão vai mais além do convencional. Tem pouco a ver com a rotina da boa ordem e a frieza do comportamento normativo. Sem este fogo, a vida cristã acaba por se extinguir.
O grande pecado dos cristãos será sempre este: deixar que este fogo de Jesus se vá apagando. Para que serve uma Igreja de cristãos instalados comodamente na vida, sem paixão alguma por Deus e sem nenhuma compaixão por aqueles que sofrem? Para que se servem no mundo cristãos incapazes de atrair, dar luz ou oferecer calor?
As palavras de Jesus convidam-nos a deixar-nos acender pelo seu Espírito sem nos perdermos em questões secundárias ou marginais. Quem não se deixou queimar por Jesus ainda não conhece o poder transformador que ele quis introduzir na Terra. Pode praticar corretamente a religião cristã, mas ainda não descobriu o mais apaixonante do Evangelho.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez