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“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”

Leia a reflexão do evangelho sobre Marcos 13,24-32, para o próximo domingo. O texto pertence a Tomaz Hughes, com edições de Ildo Bohn Gass.

Boa leitura!

Este texto nos apresenta diversas dificuldades de interpretação, pois está saturado com conceitos apocalípticos, referências veladas a possíveis eventos históricos, e referências tiradas de escritos do tempo do Antigo Testamento, muitas das quais desconhecidas para nós. Porém a sua mensagem central fica clara – o triunfo final do Filho do Homem, mandando por Deus para estabelecer o seu Reino.

A linguagem vetero-testamentária de sinais cósmicos, a figura do Filho do Homem e a reunião dos eleitos de Deus são unidas em um contexto novo, em que a vinda escatológica de Jesus como Filho do Homem se torna o evento central. A sua vinda gloriosa no fim dos tempos servirá como prova da vitória de Deus – e a expectativa desta chegada serve como base da vigilância paciente que é recomendada aos discípulos ao longo de todo o Discurso Escatológico de Marcos.

Os sinais cósmicos que antecederão o fim fazem referência a textos do Antigo Testamento: Is 13,10; Ez 32,7; Am 8,9; Jl 2,10.31; 3,1.5; Is 34,4; Ag 2,6.21. Mas nenhum texto do Antigo Testamento se refere à vinda do Filho do Homem – esta é uma novidade do Evangelho. A lista desses sinais é uma maneira de dizer que toda a citação assinalará a sua vinda final. A descrição da chegada do Filho do Homem, rodeado das nuvens, é tirada do livro de Daniel 7,13, mas aqui se refere claramente a Jesus e não à figura angélica “em forma humana” do livro apocalíptico de Daniel. A ação de Jesus em reunir os eleitos é o oposto de Zc 2,10. Este reunir-se dos eleitos do seu povo por parte de Deus se encontra em Dt 30,4; Is 11,11.16; 27,12; Ez 39,7; etc. – mas nunca é o Filho do Homem que faz esse trabalho no Antigo Testamento.

A segunda parte do texto consiste em uma parábola (vv. 28-29), um ditado sobre a hora do fim (v. 30), sobre a autoridade de Jesus (v. 31) e de novo sobre a hora (v 32). Nem sempre fica claro a que se refere – o que se fala sobre essas coisas acontecerem “nessa geração” tem como contrabalanço o v. 32 que diz que somente Deus sabe a hora exata. A parábola sobre os sinais claros da chegada do fim (vv. 28-29) tem em contraposição a parábola da vigilância constante (vv. 33-37). Mas continua clara a mensagem básica – a vitória final do projeto de Deus, concretizada através de Jesus, o Filho do Homem. Mas a certeza dessa vitória não dispensa a atitude de vigilância constante por parte dos discípulos, para que não se desviem do caminho.

Pode parecer confuso o nosso texto – e para nós hoje, de certa forma, o é. Mas, se inserido no contexto do Discurso Escatológico (referente aos tempos finais) do Evangelho, nos traz uma mensagem de esperança e uma advertência. A esperança nasce do fato de que a vitória de Deus é garantida – um elemento fundamental em todo apocalipticismo. A advertência está na necessidade de vigilância constante, para que não percamos a hora do Filho.

Em um mundo de desesperança e falta de ânimo por parte de muitos, o texto convida a nós, os discípulos, a uma atitude positiva que nos leve a um engajamento maior em prol da construção do Reino entre nós. Mas também nos desafia para que estejamos sempre vigilantes para não sermos cooptados pela sociedade vigente, opressora e consumista, que muitas vezes se baseia em princípios contrários aos do Reino de Deus.

As palavras de Jesus têm um valor permanente, para que possamos julgar as diversas propostas de vida que o mundo nos apresenta. “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.

Texto partilhado pelo autor (em memória).

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