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Semana Santa – Um Chamado para a Promoção da Justiça

Ouça aqui: Um Chamado para a Promoção da Justiça


Kezzia Cristina Silva
Fortaleza, 06 de abril de 2023

Lucas 4:16-21 – Leitura do Evangelho

Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”.

No evangelho de Lucas, é evidente a intensão do evangelista em registrar e comunicar a caminhada de Jesus com ligação estreita entre suas práticas e o espírito profético. Sem muito rodeios, Lucas registra as narrativas de Jesus que dizem exatamente para que ele veio. Ele veio para promover liberdade às pessoas presas, devolver a visão às pessoas cegas e libertar pessoas oprimidas. Ele era a boa nova. A semana Santa que se segue precisa ser uma travessia que relembre que a trajetória de vida verdadeiramente cristã deve remontar concretamente o anúncio da boa nova.

O capítulo 04 deste evangelho inicia relatando a vida piedosa de Jesus após seu batismo quando com um sinal ele torna visível ao mundo que ele era o Filho de Deus e o momento que ele segue para o seu deserto onde é tentado. Em um período de quaresma onde se orienta retiros ou momentos sistemáticos para práticas de jejuns e análise pessoal, tudo fica mais “à flor da pele” e com Jesus não foi diferente. Em sua quarentena ele foi tentado exatamente sobre questões que na sua época o colocaria em lugares de poder. Poderes mágicos sacerdotal, governo sobre os reinos e a tão esperada entrada triunfal e gloriosa sobre as nuvens na cidade santa. O período de quaresma abre as janelas do coração e desvela tentações reais que cotidianamente tentam nos afastar da verdadeira piedade cristã. Porém Jesus sabia qual era sua essência e missão e não negocia com as tentações. Após o período de deserto, Jesus volta para a Galileia, visita Nazaré e já é sábado, então como de costume religioso, entra em uma sinagoga e ali recebe o livro do profeta Isaias para ler.

É importante relembrar que as profecias do profeta Isaias remontam o período do Sec. 08 a.C. onde Judá atravessava um momento de declínio da estabilidade econômica e a prática religiosa de culto e sacrifícios era estruturalmente excludente. Só ofereciam cultos ou sacrifícios os homens e homens ricos que tinham o que ofertar de suas criações e lavouras. Os sacerdotes e a sociedade como um todo olhavam para aquele cenário e a partir dessa prática excludente julgavam quem era e quem não era abençoado por Deus. Quem tinha o que oferecer, era abençoado por Deus, quem não tinha o que oferecer era amaldiçoado por Deus. Além de os governantes e sacerdotes se omitirem diante das desigualdades sociais, as injustiças eram reforçadas em nome de uma espiritualidade nefasta. As pessoas que ocupavam o poder não tinham compromisso social de distribuição e garantia de vida digna. Ao contrário, acumulavam poderes e riquezas e culpavam a população pobre por sua condição de miséria. O profeta Isaias compreendia essas práticas de desigualdades e denunciava as injustiças como um ato de sacrilégio.

No entanto o profeta não apenas denuncia, mas também anuncia a chegada daquele que estaria sob o Espírito do Senhor para anunciar, libertar e devolver a dignidade. “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça, chamai à razão o espoliador, fazei justiça ao órfão, tomai a defesa da viúva.” (Is.1,17). Esse é o verdadeiro jejum. Essa é a chamada da semana Santa para a cristandade. Mais do que uma celebração litúrgica, é um convite para que a igreja, os governos e toda a sociedade assumam a corresponsabilidade social na construção de um país mais justo e solidário para todas as pessoas, mas de modo especial às pessoas desvalidas desse mundo.

Semana Santa é o ato de esperançar vida, e páscoa, tempo de renovação. Nesse círculo pascal esperançamos firmes e fortes na busca por moradia para todas as pessoas; a garantia de que todas as pessoas farão no mínimo 03 refeições diárias; trabalho digno e dignidade humana; o fim do racismo; o fim do machismo e da LGBTfobia; por justiça e equidade. Semana Santa é ler hoje o evangelho e as profecias, compreendendo que fazer justiça para as minorias sociais é um ato santo, sagrado, divino.

 

 

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