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Cuidados Perfumados

A preparação para o Tríduo Pascal (Jo 12,1-11)

  1. Ambiente: Bíblia, cruz, vela, diversos vasos de perfume, fotos de mulheres da comunidade.
  2. Canto de Acolhida.
  3. Invocação do Espírito Santo.

1. Cheiros e Mau Cheiros da Vida:

Nos colocamos em preparação para o Tríduo Pascal (ou seja, a Ceia do Senhor ou Lava-Pés, a Paixão de Cristo e o Sábado de Aleluia) e, assim, para a Páscoa de Jesus, que também é nossa. São momentos muito significativos da fé cristã. O nosso companheiro do caminho, Jesus de Nazaré, será entregue e preso pelas lideranças religiosas, será morto pelo Império Romano, mas ressuscitará! Pensando nestas experiências, algumas questões para conversamos sobre a vida da gente:

  1. O que tem ameaçado os projetos de nossas comunidades?
  2. Em nossos meios, quem são ou fariseus ou saduceus? Que impérios tentam por nos matar?
  3. Mas também, onde e como temos ressuscitado?

2. Aromas da Palavra:

  1. Colocamos todos os cheiros de vida, mas também ‘mau cheiros’ da morte, frente ao aroma da Palavra de Deus:
  2. Canto de Acolhida da Palavra.
  3. Leitura: Jo 12,1-11 (se oportuno, ler o texto nos outros Evangelhos; poderia ser em pequenos grupos: Mt 26,6-13 e Mc 3-9).
  4. Para nós conversarmos um pouco:

– O que mais chamou atenção no texto: gestos, personagens, palavras?

– Qual o papel e significado do gesto de Maria de Betânia? Qual o papel e significado das palavras de Judas Iscariotes?

– Quem são as Marias de hoje? Como elas têm doado e usado seus aromas na comunidade?

3. Perfumes da Missão:

Que compromisso concreto aqui na comunidade poderíamos ter para espalhar o “perfume da vida” inspirados pelo gesto de Maria de Betânia?

4. Fragrâncias da Oração:

Se aproximando o final do encontro, rezamos a poesia, “Segunda de Aromas”, de Marcio L. d’Oliveira, escrito no período mais duro da pandemia de Covid-19:

A moça dos perfumes passa pela nossa porta
toda Segunda-Feira Santa
Não! Ela não vende!
É uma doadora de perfumes raros
aromas irresistíveis
ela vai passar novamente
É segunda, esperamos todo ano
– Mas será que ela não sabe?
Não podemos abrir a porta esse ano
ela está insistindo
não vai parar de bater
– Sei que precisam dos aromas
Não é perfume de festa
é balsamo de preparação!
Ela insistiu, que abrimos uma janela
higienizamos e pegamos seus perfumes
O rótulo diz: Aroma de Betânia
Que me deu vontade de perguntar:
– De que é feito tamanha fragrância?
Por que você faz isso?
Ela sorriu e respondeu:
– É essência de morte e vida
foi extraída da última flor
de um pé-de-santa-cruz
que só nasce na região de Gólgota
uma vez por ano
Foi doada, por isso que eu dou
Que quando ungidos desse perfume
unguento no corpo, cheiro nas narinas
respiramos entregas
nos preparamos para as cruzes que virão

5. Odores da Despedida:

Enquanto se canta, um unge o outro, passando perfume na mão ou cabeça, em preparação para a Páscoa do Senhor, mas também para a luta cotidiana (sugestão: realizar esse momento em duplas).

APROFUNDAMENTO: Jo 12,1-11

1) Algumas chaves de leitura:

  1. Estamos em uma comunidade joanina ou Comunidade do Discípulo Amado. Nas Comunidades do Discípulo Amado, a liderança da mulher era muito importante, como podemos ver no episódio da morte e vivificação de Lázaro (Jo 11): quando Jesus se aproxima da comunidade, é Marta quem vai ao seu encontro (Jo 11,19) e proclama uma das mais belas confissões de fé no Deus da Vida: “Se estivesses aqui, Senhor, meu irmão não teria morrido!” (Jo 11,21). E no desenrolar da conversa ela ainda fala: “Sim, Senhor, eu creio que és o Messias, o filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo” (Jo 11,27).
  2. Nosso texto de estudo está colocado “entre” os episódios da morte e vivificação de Lázaro (Jo 11) e a entrada de Jesus em Jerusalém (Jo 11,12-19).
  3. Na liturgia da ICAR lemos esse texto, Jo 12,1-11, na segunda-feira da Semana Santa. A segunda, terça e quarta preparam o Tríduo Pascal: a Ceia do Senhor ou Lava-Pés, a Paixão de Cristo e o Sábado de Aleluia; e, assim, o Domingo de Páscoa.

2) Lendo Jo 12,1-11: “Preparação perfumada”:

  1. Jo 12,1: A chegada de Jesus: Jesus está voltando a Betânia, bem depois da morte e vivificação de Lázaro. Betânia é casa da amizade e cumplicidade, lá estão Maria, Marta e Lázaro, seus grandes amigos.
  2. Jo 12,2-5: o Gesto de Maria: No Evangelho de Lucas, esse episódio é a atitude agradecida da pecadora perdoada (Lc 7,36-50) e no Evangelho das Comunidades do Discípulo Amado é o gesto de amor total de uma amiga, Maria. Jesus está à mesa em casa de amigos. Esse gesto de Maria tem muitos elementos dos Cânticos dos Cânticos: a postura de “reclinar” (Ct 1,12); a referência à “mirra” (Ct 1,13; 4,6); o uso do nardo (Ct 1,12; 4,13); a experiência com amoras (Ct 1,3); e a fala sobre dinheiro (Ct 8,7.11-12). Assim, podemos encontrar nesta cena do evangelho uma “mística esponsal”, ou seja, uma relação de amantes que, mutuamente se preparam e se cuidam para um momento difícil, mas especial, de morte e vida. “E a casa se encheu com esse perfume”: o perfume do amor e amizade, que embalsamam a vida vulnerável e frágil. Os aromas de Maria são essências de cuidados com os que mais precisam, na hora que têm mais necessidade, quando a vida é ameaçada.
  3. Jo 12,5-6: a fala de Judas: A terça (Jo 13,21-33.36-38) e quarta (Mt 26,14-25; cf. Mt 27,3-10) da Semana Santa colocam Judas em lugar central. Aqui ele é só um coadjuvante de cheiro ruim. Parece não entender amizade, comunhão e preparação. E, embora a aparente preocupação com os pobres, está mesmo preocupado com dinheiro. Parece também enciumado daquela relação de intimidade e amizade. Seu perfume cheira mal, “fede”.
  4. Jo 12,7: a reação de Jesus: Em sua fala, Jesus explica o significado profundo da cena de aromas e coloca todos na perspectiva de sua Paixão, Morte e Ressurreição. Em sua relação de amizade e intimidade com Jesus, Maria sabia disso antes. É preciso organizar a ação e cuidar logo de quem precisa e, depois, dos demais (“sempre tereis convosco”).
  5. Jo 12,9-11: a conclusão da cena: o aroma da vida de espalha e chama a atenção de quem tem interesse em viver, mas também, daqueles que exalam a morte e tramam contra a vida, pois não conseguem perceber na realidade os sinais de vida (como Lázaro vivificado) e só pensam em intriga e poder. Assim, espalhar os aromas de Jesus, o perfume da vida, é beleza e responsabilidade, ou seja, têm riscos: estamos no caminho da cruz, não nos enganemos; mas também, no caminho da vida, nosso horizonte.

Marcio L. d’Oliveira, Cebi Bahia

 

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