O atentado aconteceu por volta das 5 horas da manhã na frente de uma casa mantida por estudantes indígenas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que costumam passar semanas longe das aldeias por conta da atividade acadêmica. A residência fica próxima ao campus da UFPE, no bairro Nova Caruaru, região mais afastada do centro da cidade.
Com outros indígenas Truká, incluindo um de seus filhos, Yssô arrumava bagagens no veículo que os levaria de volta para a aldeia, localizada no município de Cabrobó, quando dois pistoleiros em uma moto abordaram a liderança indígena efetuando os disparos. Yssô buscou se proteger; de quatro tiros desferidos contra o indígena, três o acertaram.
As câmeras de vigilância das casas vizinhas filmaram toda a ação. Antes do ataque ao indígena, os pistoleiros passaram de moto para reconhecer Yssô. Na sequência retornaram e então fizeram os disparos. O filho da liderança indígena interveio, gritando aos homens não identificados: “Vocês mataram meu pai! Assassinos!”. Com isso, os pistoleiros acreditaram que de fato tinham conseguido executar Yssô e fugiram – abortando novos disparos, na medida em que fizeram a movimentação de voltar para conferir.
De acordo com testemunhas, não houve anúncio de assalto e nada foi subtraído de Yssô ou de qualquer outro indígena presente no local dos fatos. As autoridades policiais ainda não se pronunciaram. Yssô é uma destacada liderança do povo Truká que há décadas luta pela demarcação de terras indígenas tradicionais dispersas em ilhas do rio São Francisco.
Dena e Jorge Truká, irmão e sobrinho de Yssô, foram duas das lideranças Truká assassinadas no processo de luta pela terra, em 30 de junho de 2005. O cacique Neguinho Truká (na foto, com o cocar sobre os ombros), também irmão de Yssô, já sofreu inúmeras ameaças de morte, atentados e passou meses fora de Pernambuco – longe de sua família – como medida protetiva. Neguinho, no entanto, afirma não ter nenhuma informação dos possíveis autores do atentado deste sábado contra o irmão.
Yssô passou essa última semana em Caruaru para as aulas da Licenciatura Intercultural Indígena da UFPE, da qual o indígena é aluno. Na quinta-feira e na sexta-feira, dias 14 e 15, o Truká participou ainda do ‘2º Seminário História e Culturas dos Povos Indígenas – Educação e Relações Etnicorraciais: Pedagogias e Epistemologias Outras’, promovida também pela UFPE. Um dos pontos discutidos pelo seminário foi a violência contra os povos indígenas.