Hoje, terminamos a leitura do capítulo treze de Mateus, com as últimas três parábolas do Reino – as do tesouro escondido, da pérola preciosa e da rede lançada ao mar.
Nas primeiras duas, podemos notar duas ênfases – uma sobre o grande valor do achado (simbolizando o Reino) e outra sobre a atitude de quem o acha. A parábola da rede no mar ecoa a mensagem da parábola do campo de trigo e joio, que fez parte do texto do domingo passado.
O contexto histórico do tesouro achado é do Oriente Médio Antigo, palco de tantas invasões e guerras. Era prática comum enterrar os valores diante da ameaça de uma invasão ou guerra. Só que, muitas vezes, o dono morria na violência, e o tesouro ficava escondido por muito tempo, até ser achado por acaso.
Usando este exemplo, Jesus nos ensina algo sobre o Reino e sobre a atitude do discípulo diante dele. O Reino de Deus é um valor tão incalculável, que uma pessoa sensata daria tudo para possuí-lo. É importante notar que o texto enfatiza que “cheio de alegria” ele vende todos os seus bens, para poder possuir o valor maior, que é o Reino. A vivência dos valores do Reino, do seguimento de Jesus, deve ser uma alegria e não um peso. Sem dúvida, é exigente, pois meias medidas não servem (ele vende tudo o que tem), mas o resultado é uma alegria enorme. Não a alegria falsa de um programa de Faustão ou Sílvio Santos, mas uma alegria que brota da profundeza do nosso ser, pois descobrimos a única coisa que não passa e que dá sentido a toda a nossa vida – o Reino de Deus.
É pena que com tanta frequência conseguimos fazer do seguimento de Jesus um peso, uma chatice, um legalismo, que afasta de Deus em lugar de atrair para ele. É impressionante como se consegue fazer da Palavra de Deus algo tão insossa e irrelevante!
Novamente, como na parábola do campo de trigo e joio, a última parábola ensina que o Reino, a cujas relações a Igreja é chamada a vivenciar, congrega santos e pecadores (os bons e maus peixes). A separação final deve ser deixada para a justiça de Deus, enquanto, na vivência diária, devemos mostrar paciência e tolerância, mas sem indiferença ou comodismo.
O último versículo indica que os autores deste Evangelho atribuído a Mateus eram escribas, especialistas nas Escrituras judaicas, e convertidos ao discipulado de Jesus. Eles estão bem enraizados nas “coisas antigas”- ou seja, no Antigo Testamento. Mas, estão abertos a coisas novas, ou seja, a nova interpretação da Lei que Jesus trouxe. Assim, ensinam-nos algo valioso para o mundo de hoje, tão inconstante e sem raízes, de um lado, e com a tentação de fechamento no fundamentalismo e na intolerância, de outro. Nem tudo o que é antigo é ultrapassado e nem tudo que é novidade é bom. Igualmente, nem tudo o que é antigo tem que ser preservado e nem toda a novidade deve ser rejeitada. É importante ter critérios, para que não percamos os valores, nem da sabedoria antiga, nem da busca de atualização para os dias de hoje. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!