Dádiva, do latim dativa, significa doação ou presente, aquilo que se dá ou se recebe gratuitamente. O termo também é usado com o sentido de presente divino ou graça. Em 2013, durante um dos encontros da Rede Brasileira Infância e Consumo nasceu a campanha Natal das Dádivas. O objetivo é buscar um outro sentido para a data, com menos consumismo e mais presença e doação.
Este é o nosso convite: vamos repensar nossos hábitos e incentivar ações que respeitem a infância, as relações entre as pessoas, a cultura de paz e a natureza? Vamos reunir ideias que possam mudar a forma como comemoramos o Natal? Para além do sentido religioso, o período do Natal é um tempo de reflexão e encontro. E se você não comemora o Natal, as ideias a seguir podem servir para outras ocasiões. O principal objetivo é questionar o consumismo e os apelos para a compra de presentes que costumam dominar as datas comemorativas.
Nós selecionamos dez ações para um Natal das Dádivas – Menos consumo e mais presença e doação.
Reflita sobre o sentido do Natal
O Natal é uma festa religiosa cristã que comemora o nascimento do menino Jesus. Hoje, cristãos e também muitos não cristãos costumam reunir a família e os amigos em uma confraternização no dia 25 de dezembro. Troca de presentes e ceia são tradições da data. Mas se o Natal está se transformando em uma festa do consumo, é preciso resgatar seu sentido original. Reflita sobre o real significado da data com a sua família, sobretudo com as crianças. Converse e explique que a festa não se resume a dar e ganhar presentes. Fale sobre o consumismo e as estratégias do mercado e da publicidade. Explique sobre os prejuízos do consumismo infantil para as famílias, sobre endividamento e impactos ambientais e da importância de um outro tipo de economia que respeite os limites do planeta. Presentes, comida e comemoração podem existir para celebrar a data mas não devem sobrepor à confraternização.
Ajude as mulheres empreendedoras e compre de quem faz
Se a troca de presentes vai acontecer na sua comemoração natalina, escolha com carinho de quem você vai comprar. Apoie o comércio local, as feiras de artesanato e os projetos de empreendedorismo feminino. Nossas escolhas de consumo transformam o mundo para melhor ou para pior. Dê o seu dinheiro para quem contribui para uma economia solidária, sustentável e que empodera as mulheres. Boicote as grandes corporações e as empresas que não respeitam os direitos do trabalhador, do consumidor e da infância. E quem faz publicidade infantil não merece receber nem um centavo por seus produtos e serviços.
Faça uma faxina na casa e na mente
O fim de ano é um bom momento para desentulhar a casa de coisas e a vida de tudo aquilo que nos atrapalha. Passamos o ano comprando coisas que não vamos usar ou consumindo conteúdo com pouca ou nenhuma utilidade. Que tal valorizar o que realmente importa? O que tem valor para você? Como mostramos para nossas crianças que algo tem valor ou não? As crianças recebem continuamente estímulos que associam felicidade ao consumo de produtos e serviços. O Natal é uma boa oportunidade para esta reflexão que ajuda a reduzir a importância do consumismo e do acúmulo de bens. Menos embalagem e aparência e mais essência e conteúdo. Uma vida mais simples é uma vida mais leve e feliz.
Presenteie com solidariedade
Vamos mudar o foco da comemoração natalina? Em vez de listas de presentes vamos fazer uma lista de ações para os próximos 12 meses do ano? Podemos ajudar quem precisa a viver melhor e com mais dignidade. Conheça os projetos sociais que existem na sua região, veja quais são as suas necessidades e participe com atividades ou doações. Seja voluntário em causas em que você acredita. A defesa dos direitos da criança também precisa de você. E as crianças também podem participar.
Preste atenção nos alimentos da ceia
Prefira comida de verdade na comemoração natalina e nas festas de fim de ano. Busque alimentos que façam bem para quem consome e para quem produz, sem preços abusivos, sem contaminação do solo, da água e da saúde das pessoas. Não queremos transgênicos, agrotóxicos, ultraprocessados. Pense sobre o consumo de carne, sobre os impactos ambientais e sobre o sofrimento animal. Comer junto é uma celebração. E atenção ao consumo de álcool e à influência dos comerciais de bebidas sobre as crianças e adolescentes no fim de ano.
Incentive boas energias e a cultura de paz
Ajude a iluminar o período natalino de todos ao seu redor com espiritualidade. Independente da religião, dá para ter uma comemoração que faça com que as pessoas olhem para dentro delas mesmas, cultivem seus melhores sentimentos e abram mão de mágoas e desentendimentos. Para as crianças, é um grande exemplo quando os adultos, em pequenos gestos, mostram que preferem a cultura de paz e buscam a reconciliação com parentes e amigos.
Diga não ao excesso e ao desperdício
Simplifique: pense e aja ecologicamente. Luzes de natal, decoração natalina, papel de presente, consumo excessivo e desperdício de alimentos, compras e mais compras… O que ganhamos com isso? A opção pela simplicidade no dia a dia é uma forma de ensinar às crianças sobre consumo e responsabilidade. A maior parte dos produtos que somos incentivados pela mídia para comprar são desnecessários ou têm um impacto ambiental que poderia ser evitado. Uma feira de troca de brinquedos e produtos diversos pode ser uma ótima opção para as crianças praticarem o desapego e ganharem brinquedos novos sem gastar e sem impactar o meio ambiente. Que tal organizar uma feira assim? Que tal visitar brechós e bazares também?
Incentive mais brincadeira e menos tecnologia
Arte, música e teatro. Como as crianças podem participar da festa de Natal de uma forma artística? Podemos fazer uma apresentação de dança, uma peça teatral ou uma exposição de desenhos sobre o Natal. Que tal um coral de Natal reunindo toda a família? Veja formas criativas para envolver todos os familiares. Não deixe que o encontro do Natal se resuma a adultos e crianças com seu aparelho eletrônico em mãos, teclando sem parar. A tecnologia pode unir pessoas que estão longe mas não deve distanciar as que estão ao nosso redor. Uma comemoração sem telas ajuda a conectar as pessoas que estão perto de nós.
Faça um balanço do ano que passou
Dezembro não é um mês qualquer. Ele encerra um ciclo e nos prepara para outro, que será sempre diferente. Na correria do mês de dezembro e fim do ano letivo nem sempre temos tempo para respirar e desacelerar. Preparar as crianças para este momento de repensar como foi o ano e planejar mudanças é um ritual importante. Avaliar como foi o ano na escola, no trabalho, na comunidade, com os familiares e amigos… Dedicamos tempo suficiente para as coisas que importam? Como não repetir no novo ano aquilo que não vale a pena fazer e viver? Que tal planejar um ano novo mais ativo e mais saudável com brincadeiras, esporte, ginástica, corridas na praia…?
Não se deixe enganar pela publicidade
O comercial de TV fica mais envolvente no período natalino. Tem Papai Noel nos shoppings e fora deles, decoração com anjos, cenas de famílias felizes… Converse sobre a leitura crítica da mídia todos os dias com seus filhos. Nas datas comemorativas os apelos para o consumo ficam ainda mais intensos. Lembre-se que a publicidade deve ser direcionada para os adultos e não para crianças. Fique atento às liquidações, às promoções e aos sorteios que incentivam ainda mais as compras de fim de ano. Proteja a infância dos apelos para o consumo e dos conteúdos inadequados da mídia.