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Teologia da Libertação e marxismo

Teologia da Libertação - Centro de Estudos Bíblicos

Leia o artigo de Ariel Gomes Ortiz, colaborador junto ao CEBI-MS e organizador do livro Justiça socioambiental: conceitos e círculos bíblicos.

Boa leitura!

Teologia da libertação (TL) e marxismo sempre foram temas polêmicos. É frequente acusarem a TL de marxista, comunista, “esquerdopata”, etc. Pretendo mostrar que esta acusação (ou elogio) é superficial e, portanto, não se sustenta.

Confesso que, quando adolescente/jovem, eu me senti ainda mais impulsionado à leitura de Marx por conta da TL. Mas com o passar do tempo (e avançando nas obras marxianas), percebi que os teólogos da libertação não se apoiavam tanto em Marx (pelo menos não era textual a referência à Marx). Suspeito que muitos nem tenham estudado Marx exaustivamente de tal forma a tê-lo como inspiração. Como Jung Mo Sung disse certa vez: conta-se nos dedos os teólogos da Libertação que leram Marx.

Em sua obra Teologia da Libertação: ensaio de síntese, Segundo Galilea escreve que classificar teólogos da libertação como marxistas é, no mínimo, ignorância. Victor Codina, em Teologia da Libertação, afirma que a Teologia da Libertação se baseia na Palavra de Deus, não nas ciências humanas, uma vez que estas são usadas apenas em uma etapa anterior para analisar a realidade. E Juan Luis Segundo, em Libertação da Teologia, chega à conclusão de que a teoria marxista não dá conta de completar o círculo hermenêutico.

O máximo que a TL faz com o marxismo é usar alguns conceitos ou categorias que explicam o funcionamento da exploração no modo de produção capitalista. Por exemplo, o conceito de Luta de Classes é utilizado para compreender as disputas de terra, a violência e a exclusão que afetam a população no campo e na cidade. O marxismo aparece mais como uma ferramenta da sociologia para fazer análise de conjuntura, da realidade, das condições socioeconômicas. É um instrumento, mas não um fundamento. Ou seja, quando se recorre ao método “Ver-Julgar-Agir”, o marxismo seria utilizado como ferramenta no processo do “Ver”.

Evidentemente, “ver a realidade” apenas sob esse olhar sociológico também pode tratar-se de um limite. Ivone Gebara, em Teologia Ecofeminista, questiona a TL pela não superação de uma epistemologia moderna e mecanicista que harmoniza conceitos como luta de classes, sociedade sem classes, reino de Deus,

“mas, não introduz uma nova abordagem: apenas se acrescentam aspectos da epistemologia da modernidade numa perspectiva teológica de libertação integral dos pobres da América Latina”.

Nancy Cardoso, num texto em que faz uma avaliação do passado da TL, discutindo com Comblin e Hugo Asmann, conclui: “a Teologia da Libertação e suas variações devem se atualizar permanentemente como cristianismo que se deixa evangelizar pelos pobres como retomada vital da encarnação, que entre nós chamamos Jesus”.

Qual é, então, a fonte da TL?

Respondo: Profecia e Evangelho. Bíblia. Palavra de Deus. E, antes disso, a vida do povo, com suas diversidades, pluralidades, dificuldades e contradições.

Precisa ficar claro que, muitos séculos antes de Marx e Engels escreverem o Manifesto munista ou Marx chegar ao conceito de mais-valia, profetas e profetisas do século VIII a.C., como Amós, por exemplo, já faziam crítica à estrutura excludente da sociedade patriarcal e oligárquica do chamado Povo de Israel. Já denunciavam rei e sacerdotes, cuja política “oprime os pobres e esmaga os necessitados”; “porque vendem o justo por dinheiro, e o necessitado por um par de sapatos” (Am 2,6). Os textos dos profetas e profetisas não se limitam a fazer críticas, mas apontavam para o caminho da justiça:

“Eu quero, isto sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca” (Am 5,24).

Não basta denunciar, é preciso anunciar e fazer acontecer novas relações. A fé em uma divindade libertadora, a busca pela justiça e a opção preferencial pelas pessoas empobrecidas, necessitadas e injustiçadas são o núcleo e o fundamento da teologia e profecia bíblica.

E a referência mais óbvia dessa tese (a de que a TL não é marxista, mas necessariamente é fruto da leitura da Profecia Bíblica e dos Evangelhos) é a própria figura de Jesus de Nazaré. Os doze primeiros anos de Jesus foram um dos períodos mais violentos da história da Palestina. Na época de Jesus, a religião era caracterizada por um legalismo que gerava exclusão e opressão. Incapaz de cumprir a Lei, parasitada pelo emaranhado das normas da tradição, grande parte do povo permanecia marginalizada, tratada como ignorante e pecadora. A luta contra a exclusão por causa de leis e tradições foi o que mais marcou a prática de Jesus.

Além disso, desde 63 a. C. Roma cobrava muitos impostos. A situação era de fome, pobreza, doença, com muito desemprego e endividamento. Ainda que houvesse muita resistência popular ou mesmo grupos de oposição aos romanos (como fariseus e essênios), os ricos e poderosos, como os saduceus e boa parte dos sacerdotes, eram coniventes com o império e não se importavam com a miséria dos pequenos.

A proposta de Jesus, no que se refere às relações de poder, é bem diferente daquela do imperador e de outros representantes da Palestina. Jesus trabalhava em equipe (Mc 1,16-20), promovia um poder participativo, partilhado, exercido em comunidade (Mt 18,15-20). Jesus anuncia o Reino a partir dos excluídos. Sua opção é clara: a quem quer segui-lo, adverte: “Ou Deus ou o dinheiro! Servir aos dois não dá!” (Mt 6,24). O fundamento é a partilha.

Está evidente, Jesus é um subversivo.

Para quem deseja conservar a ordem, as afirmações de Jesus, tanto como sua prática, soam como heresia. Para os pobres e necessitados, são Boa Notícia. Foi com Jesus que grupos empobrecidos aprenderem a dizer em oração: “Pai nosso” e “Pão nosso”!

Portanto, se você acha que a TL deturpa a mensagem de Jesus, você precisa ler a Bíblia, sobretudo os profetas e os Evangelhos. Para finalizar, voltando à motivação inicial do texto, retomo informações que, apesar de óbvias, podem ser esclarecedoras e desmistificar um pouco da relação cristianismo-marxismo-comunismo:

  • Não, Marx não inventou o socialismo! Marx nem existia quando as ideias de Thomas More, Babeuf e Saint-Simon foram elaboradas;
  • Não foi Marx quem ensinou revolução a trabalhadores/as, foi o contrário. Em O Capital, por exemplo, Marx cita ipsis litteris manifesto dos trabalhadores em campanha para a redução da jornada de trabalho;
  • Por ser judeu, Marx provavelmente era profundo conhecedor dos textos bíblicos. Por isso não é de surpreender encontrar citações bíblicas em suas obras. Como por exemplo, quando ele se refere à forma Dinheiro, no Capítulo 2 de O Capital, ilustrando-o como “a marca ou o nome a Besta” (capítulos 13 e 17 do Apocalipse);
  • Embora Marx não tenha se dedicado a pensar o Cristianismo, ele utiliza muitas “metáforas bíblicas”, conforme aponta Enrique Dussel. Mas Engels se dedica a estudar o Cristianismo e parece sugerir que o cristianismo primitivo é inspirador do movimento operário e socialista. Tenho a impressão que os marxistas desconhecem o Contribuição para a História do Cristianismo Primitivo, obra na qual Engels faz algo como uma exegese do livro do Apocalipse. Rosa Luxemburgo, em Igreja e Socialismo, aponta algo semelhante.

A TL não é marxista, e também não precisa negar o marxismo. A propósito, um pouco de marxismo não faz mal a ninguém.

Fonte: Texto de Ariel Gomes Ortiz, colaborador junto ao CEBI-MS e organizador do livro Justiça socioambiental: conceitos e círculos bíblicos.

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