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Sede sábios como as ‘jararacas’, disse Jesus [Ildo Bohn Gass]

Sede sábios como as ‘jararacas’
Na segunda-feira (07/03/2016), assisti a um vídeo de Dom Darci José Nicioli, nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, São Paulo, pelo papa Bento XVI em novembro de 2012. Nesta terça (09/03/2016), o papa Francisco o transferiu para Diamantina, Minas Gerais. É que, como argentino, Francisco sabe muito bem quais são as consequências, em qualquer nação, de uma ruptura democrática insuflada por Dom Darci no domingo passado.
No vídeo, durante o culto que celebra o milagre da partilha do pão como visita de Deus, o bispo conclamou os fiéis a pedirem “a graça de pisar a cabeça da serpente, de todas as víboras que insistem e persistem em nossa vida, daqueles que se autodenominam jararacas, pisar a cabeça da serpente, vencer o mal pelo bem, por Cristo, nosso Senhor”.
Acontece que, dois dias antes, o ex presidente Luís Inácio Lula da Silva havia dito, durante pronunciamento na sede nacional do PT em São Paulo, que “a jararaca está mais viva do que nunca”. O pronunciamento ocorreu logo após ele ter sido sequestrado violentamente em sua casa a mando do juiz Sérgio Moro. A condução coercitiva promovida pela Polícia Federal acabou conduzindo o ex presidente ao aeroporto de Congonhas, onde devia ser levado preso a Curitiba. O plano acabou sendo abortado, pois houve resistência a ação de ilegalidade, seja por parte da Polícia da Aeronáutica no Congonhas, seja por parte do povo brasileiro que tem pensamento próprio.
Engraçado! Diferentemente do bispo, em vez de pedir a graça de esmagar a cabeça da jararaca, Jesus pediu que fôssemos sábios como ela para resistir aos lobos deste mundo (cf. Mateus 10,16).
Embora cinicamente, o bispo diga que seu endereço não era essa fala de Lula, como pessoa bem informada e bem assessorada que é, deveria ter conhecimento do pronunciamento feito apenas dois dias antes de seu sermão. E a reação da plateia no santuário de Maria, a mãe de Jesus, em Aparecida, confirma a nossa suspeita. O bispo golpista, portanto, chamava o povo presente para esmagar a cabeça do maior líder popular a animar a esperança do povo mais pobre, não somente no Brasil, mas também em todo o mundo.
Enquanto o papa Francisco convoca o ano da misericórdia, o bispo blasfema o nome de Deus, reforçando o ódio de classe, a intolerância e o fascismo, já amplamente disseminados pela elite em sua mídia comercial e em suas redes sociais.
Se tivesse estudado um pouco de história das religiões, o bispo saberia que a serpente é muito mais do que um símbolo de satanás como força que nos arrasta para a riqueza e o poder idolatrados, embora também o seja.
Em todos os povos antigos, desde a China, passando pela Índia e pelo Egito, até os Maias e Astecas no México, a serpente está vinculada ao conhecimento e à sabedoria divina. Está ligada a um poder inimaginável da fonte da vida. É símbolo da grande Deusa mãe, da fertilidade, da força e do poder político. É sinal de proteção e de cura, de vida e de energia recriadora, de recomeço e de rejuvenescimento. Além disso, sinaliza a eternidade, a imortalidade, o infinito, a ligação entre o céu e o mundo das trevas, entre Deus e a humanidade. Ela é símbolo da força original da vida e do princípio organizador do caos que sustenta a dança do cosmos.
Se o referido bispo também tivesse estudado um pouco mais a Bíblia, teria percebido que a serpente é símbolo da força draconiana que está por trás do império romano na perseguição às comunidades de Jesus de Nazaré (Apocalipse 12,1-9). O espantoso é que o bispo pede que esmaguemos a cabeça justamente de quem hoje resiste contra essas forças do dragão neoliberal, nesse império do poder econômico.
Na Bíblia, a serpente ainda aparece como meio de locomoção do próprio Deus (2 Samuel 22,11; Ezequiel 10). É também sinal de cura e de proteção (Números, 21,4-9), tal como era junto a Asclépio, a divindade da cura na mitologia grega. E até hoje continua símbolo da medicina, do cuidado da vida.
Diferentemente do bispo, Jesus de Nazaré, de quem ele assumiu um dia ser fiel seguidor, entendia a serpente como símbolo da prudência e da sabedoria dos pobres. Por isso, ao enviar seus discípulos, alertou-os quanto aos lobos de ontem e de hoje, que devoram a vida do povo: “Eis que eu vos envio como ovelhas entre lobos; por isso, sede sábios como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mateus 10,16). Para Jesus, a jararaca é sinal de sabedoria e de prudência diante da truculência de quem está na casa grande e que não aceita que a vida em abundância proposta por ele também vale para quem está na senzala (João 10,10).
Por outro lado, em relação a autoridades religiosas, como fariseus e escribas, que se aliaram aos interesses “globais” de ontem e de hoje, Jesus referiu-se à serpente, não como sabedoria ou prudência. Ao contrário, referiu-se a seu veneno mortal para o povo, de quem essas autoridades deveriam cuidar: “Serpentes! Raça de víboras! Como haveis de escapar à condenação?” (Mateus 23,33).
E mais. Em Êxodo 7,8-13, podemos ler: “Disse Yahweh a Moisés: Se faraó vos disser ‘apresentai um prodígio em vosso favor’, então dirás a Aarão: ‘Toma a tua vara e lança-a diante de faraó, e ela se transformará em cobra’. Moisés e Aarão foram a faraó e fizeram como Yahweh ordenara. Lançou Aarão a sua vara diante de faraó e diante dos seus servos, e ela se transformou em cobra. Faraó, porém, convocou os sábios, os encantadores de cobras. Ora, também eles, os magos do Egito, com suas ciências ocultas, fizeram o mesmo. Pois lançou cada um a sua vara, e elas se tornaram cobras. Mas a vara de Aarão devorou as varas deles”.
Aqui, as serpentes são a representação da força do sagrado. Simbolicamente, a narrativa quer mostrar a luta real de um povo pobre e escravizado para se libertar da opressão do faraó. A luta entre as serpentes mostra que a divindade experimentada pelos escravos no Egito é libertadora, diferentemente das divindades legitimadoras do poder opressor. Os sacerdotes das divindades dos poderosos são derrotados pelos sacerdotes de Yahweh, o Deus que "viu a miséria do seu povo, ouviu o seu clamor por causa dos seus opressores, conheceu as suas angústias e desceu a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, para libertar do Egito o seu povo” (cf. Êxodo 3,7-10).
Diante do poder que mata, Moisés e Aarão realizaram “sinais” e prodígios em nome do Deus que liberta. E a razão por que as comunidades joaninas apresentam Jesus realizando “sinais” é porque viram nele o novo Moisés que veio libertar novamente o povo sofrido diante de todos os poderes violentos deste mundo, sejam eles econômicos, políticos, jurídicos ou religiosos (cf. João 2,11; 4,54).
A mesma violência dos amantes do poder sobre a riqueza e sobre as pessoas no tempo bíblico ainda segue hoje, empoderada pela mídia familiar e por seus aliados na Política, na PF, no STF, no TSE, no MPF e na PGR, órgão onde está o cérebro da operação levada em frete em Curitiba com inúmeras ilegalidades, assim como também já fora, em passado recente, da AP 470.
Por outro lado, também a luta de tantos Moisés, Aarãos e Mírians continua viva na resistência em favor dos direitos fundamentais do povo brasileiro. Por isso, milhões de jararacas estão mais vivas do que nunca, a fim de resistir, de desmascarar com sabedoria, como recomenda Jesus, o veneno dessa raça de víboras do faraó, que hoje persegue as lideranças que estão do lado dos pequeninos, como diria nosso mestre de Nazaré, e, assim, possam ser um sinal de proteção, de cura e de esperança para o povo.
É para esses líderes populares que Jesus afirma: “Felizes aqueles que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Sois felizes quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós” (Mateus 5,10-12).
Que a sagrada fonte da vida nos conceda a graça, não de pisar a cabeça da jararaca, mas a sabedoria dela para vencer o veneno das víboras dos faraós de hoje e combater a real corrupção. Que nos agracie também com a serenidade das pombas para seguirmos firmes na resistência ao ódio e à opressão, nessa travessia do mar revolto e sombrio que estamos enfrentando.

*Por Ildo Bohn Gass, biblista e assessor do CEBI

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