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Relato dos Estudos Sobre o Livro de Josué

O Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) promoveu 3 encontros de estudos sobre o livro de Josué, nos dias 17, 24 e 31 de maio de 2022 sucessivamente. Tal modalidade formativa aconteceu de forma virtual, pela plataforma Zoom, das 20 às 22 horas (horário de Brasília). A facilitação dos dias contou com a presença de Mercedes Lopes, Adriana Amorim, Carlos Henrique, Rafael Rodrigues e Ildo Bohn Gass.

As noites de estudo foram antecedidas por uma Live Orante no dia 10 de maio, pelo Youtube do Cebi Nacional, pois o Centro de Estudos Bíblicos pretende buscar no livro de Josué a mística que anima a luta diária por garantia de direitos e vida digna. A Live contou com a participação de Francisco Orofino e Frei Carlos Mesters.

Os dias de estudo foram estruturados da seguinte forma:

1º Encontro: Contexto histórico-literário do livro de Josué; escrita do livro; Josias no Exílio e Pós-Exílio. 2º Encontro: Memórias das tradições e dos grupos presentes, bem como os ausentes e esquecidos na redação final; a distribuição da terra, na perspectiva das diversidades nas lutas, entre estas a luta das mulheres. 3º Encontro – Continuidade sobre a distribuição da Terra, herança e aliança.

Dialogou-se que é necessário compreender o contexto histórico-literário do livro de Josué e os interesses que estavam em jogo na sua redação final. Além disso, é urgente quebrar a concepção de uma história única, colonizadora e excludente, para, a partir daí, descobrir os grupos ausentes, esquecidos na história da ocupação das montanhas do antigo Israel. Nessa perspectiva, é preciso reler o livro de Josué em sintonia com as lutas dos povos originários, refletindo como ainda são considerados povos sem lei e sem Deus e por isso precisam ser domesticados e cristianizados. É preciso romper com esse olhar colonizar. Também em sintonia com as pessoas africanas, trazidas como escravas para o Brasil e continuam violentadas em todas as dimensões, tendo sua cultura, religiosidade e suas tradições demonizadas. Por fim, é importante perguntar pelos vários grupos, rurais e urbanos, excluídos no decorrer da Vida e das narrativas bíblicas, que fizeram e fazem seus êxodos, suas saídas.

Na questão da herança, conversou-se sobre a narrativa das filhas de Salfaad, também presente no livro de Números, capítulo 27, e como o texto de Josué não avançou nesse sentido. Na perspectiva da aliança aprofundou-se sobre a dimensão das empobrecidas e dos empobrecidos (Raab, Gaboanitas etc.) e refletiu-se sobre as divindades – Deusas e Deuses na Terra Prometida, a partir da aliança em Siquém (Js 24). Refletiu-se ainda sobre a questão das teologias: a teologia da posse da terra versus a teologia colonizadora de conquista – uma agrega as religiosidades e a outra expulsa, por se considerar a única.

Sobre os dias de estudo, importante escutar as falas de algumas pessoas que participaram dos processos:

Achei muito interessante a solidariedade, porque não tinha percebido esta questão no texto lido em Js 1,10-18, no qual duas tribos e meia que já possuíam a terra do aquém Jordão foram convocadas para auxiliar as demais tribos para ocupar o outro lado do Jordão. A luta só termina quando todo mundo tiver terra, trabalho, pão e a festa da vida e da esperança que Deus dá.

Foi muito bom refletir sobre a diversidade e a luta e organização das mulheres.

Gostei da partilha nos grupos, pois a dinâmica de grupos facilita a leitura dos textos bíblicos.

Aprendi sobre como os povos originários do Brasil (ou seus descendentes) ainda hoje são reduzidos, são inferiorizados, não são ouvidos…

Saio daqui com vontade de observar com profundidade os anseios das diversas realidades; foi um aprendizado para a vida, que é sagrada e deve ser respeitada em todas as suas dimensões. O sagrado está em todo lugar e culturas.

O conhecimento partilhado nos encontros servirá de subsídio para encontros promovidos pelo Cebi nos grupos de base.

O estudo me provocou a buscar mudança de postura diante dos desafios que se apresentam para nós mulheres que vivemos o patriarcado de perto.

Está sendo uma luz imensa, porque eu não tinha um bem querer com esse livro não. Era bem arisca com ele…  A Bíblia é como um coco… Se a gente só fica na casca, só come o bagaço e não bebe a água. É muito importante exercitarmos o aprendizado de ler por trás das palavras, cavoucar os textos, achar o jeito de quebrar a casca do côco para beber a água, porque a sede é muita.

O estudo fortalece a luta, a esperança e a resistência e oferece ferramentas para as atividades na linha da libertação, desconstruindo as mentiras do poder opressor. Também vai nos ajudar no aprofundamento do livro de Josué, no mês da Bíblia, em nossas comunidades e grupos.

Por fim, o Cebi entende ainda que é necessário estudar o livro de Josué na perspectiva da Leitura Popular como quem dialoga sobre processos em disputa entre projetos de sociedade, territórios e narrativas, a fim de lançar luzes para o Brasil de 2022, também em conflito e disputa. Além disso, importante aprofundar em tal livro como quem alarga horizontes e não cai nas armadilhas das leituras fundamentalistas e colonialistas na Vida e na Bíblia.

Importante lembrar ainda que a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) comemora o dia da Bíblia em 30 de setembro, em homenagem a São Jerônimo, que traduziu a Bíblia para o latim, junto com uma equipe que tinha a presença de mulheres. Tendo em vista essa data, com o passar do tempo a ICAR começou a celebrar o “mês da Bíblia” em setembro. Assim, todo ano ela escolhe um livro ou uma temática bíblica para estudo e aprofundamento junto aos grupos e comunidades. Em 2022, o livro escolhido foi o de Josué. Porém, as igrejas cristãs evangélicas celebram “o dia da Bíblia” no mês de dezembro, mais precisamente no segundo domingo de dezembro. No Brasil, esse dia ganhou mais força após a instituição da lei federal nº 10.335, de 19.12.2001. Em ocasião das comemorações pelo dia da Bíblia, muitas igrejas evangélicas realizam “cultos, carreatas, shows, maratonas de leitura bíblica, exposições bíblicas, construção de monumentos à Bíblia e distribuição maciça de Escrituras”.

 

 

Equipe de Formação, 03 de junho de 2022

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