Apenas em Nova Friburgo morreram 428 pessoas, de acordo com as estatísticas divulgadas pela Defesa Civil do município no final de fevereiro, enquanto pelo menos 85 pessoas ainda estavam desaparecidas. Quase 800 moradores permaneciam num dos 40 abrigos em funcionamento.
A chuva que caiu no dia 11 de janeiro e na madrugada do dia 12 representou o equivalente a 18 tempestades seguidas, com um enorme poder de destruição, de acordo com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em apenas um deslizamento, cerca de 1 mil tonelada de lama vieram abaixo, atingindo 150km/h e levando tudo o que havia pela frente.
Passado o período do socorro de emergência, a maior parte do trabalho de assistência às pessoas atingidas pela enchente tem sido feita por ONGs, igrejas e entidades da sociedade civil. Entre elas está a comunidade local da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), que tem distribuído cestas básicas e outras doações, e organizou uma comissão de diaconia para trabalhar com projetos de longo prazo entre pessoas atingidas.
O pastor da comunidade, Adélcio Kronbauer, e membros como Tone Hille atuaram como voluntários nos serviços de emergência logo nos primeiros dias após a enchente. A Kombi da igreja, dirigida por Hille, percorreu mais de 1 mil quilômetros levando voluntários e carregando doações de água, comida, colchões e outros itens por toda a cidade.
No início de março, o jornalista Paulo Hebmüller percorreu, junto a membros da Igreja Luterana, algumas das regiões devastadas pelas chuvas de janeiro. Relatos dramáticos de sobreviventes, de voluntários e de parentes de vítimas, além de um panorama da situação de Nova Friburgo dois meses depois da tragédia, podem ser lidos no blog publicado pelo jornalista.
Nele é possível conhecer histórias como a de Luciléia Brunhol Cardinot, que perdeu um sobrinho e muitos amigos e conhecidos na enchente. Na parte baixa do bairro em que ela vive, moradores estavam sem assistência e as casas estavam inabitáveis. Ela então se uniu a outros vizinhos, buscou doações e transformou a varanda de sua casa em depósito de alimentos, roupas, colchões, água mineral e material de higiene e limpeza para serem distribuídos às famílias que precisam de ajuda.
Zildete Araújo, sua vizinha e companheira no trabalho de arrecadação e distribuição de doações, faz perguntas que hoje são de todos os moradores das regiões atingidas: "A própria prefeitura ou o estado dizem que vão fazer muro de contenção aqui. Será que vão fazer mesmo? Eu sei que está vindo verba, mas até que ponto será usado para aquilo que é necessário? Realmente vai acontecer aquilo que o povo precisa? Será que vai passar a época da chuva e vai acontecer alguma coisa ou vamos esperar vir a outra época de chuva e o povo vai ficar desesperado novamente?"