Confira a reflexão do evangelho de Mesters, Lopes e Orofino para o próximo domingo, dia 26 de novembro. O texto se refere à Mateus 25,31-46.
Boa meditação!
Situando
O Sermão da Montanha, o primeiro livro da Nova Lei, abriu com as oito bem-aventuranças. O Sermão da Vigilância, o quinto e último livro da Nova Lei, encerra com a parábola que descreve o juízo final.
As bem-aventuranças descrevem o portão de entrada para o Reino, enumerando oito categorias de pessoas: os pobres em espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os de coração limpo, os promotores da paz e os perseguidos por causa da justiça. A parábola do juízo final conta o que devemos fazer para poder tomar posse do Reino, a saber, acolher os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os sem roupa, os doentes e os prisioneiros.
Reflexão
No começo e no fim da Nova Lei estão os excluídos e marginalizados, estão os que procuram acabar com a exclusão.
No fim do século I, as comunidades cristãs eram uma minoria. Vistas do lado de fora, pareciam grupos dissidentes dentro do mundo judeu. Ainda não tinham lideranças próprias organizadas. Seus superiores jurídicos ainda eram os escribas e os fariseus.
O que havia eram missionários e missionárias ambulantes que passavam pelas comunidades para animá-las a continuar firmes na nova maneira de viver a Lei de Deus. Estes missionários eram pessoas simples, leigas, sem muita instrução. Por isso, eram desprezadas e perseguidas pelas lideranças dos judeus. Passavam fome e sede e, muitas vezes, eram jogadas na prisão. Esta situação é o pano de fundo da parábola do juízo final.
Comentando
Mateus 25, 31-33
Abertura do julgamento final
Chegou a hora do julgamento. O Filho do Homem aparece e reúne ao seu redor todas as nações do mundo. Separa as pessoas como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. O pastor sabe discernir. Ele não erra: ovelhas à direita, cabritos à esquerda. Jesus não erra. Ele sabe discernir bons e maus.
Jesus não julga, nem condena.
Ele apenas separa. É a pessoa que se julga e se condena pelo seu relacionamento com os pequenos.
Mateus 25,34-36
Sentença para os que estiverem à sua direita
Os que estão à sua direita são chamados “Benditos de meu Pai!”, isto é, recebem a bênção que Deus prometeu a Abraão e à sua descendência (Gênesis 12,3). Eles são convidados a tomar posse do Reino, preparado para eles desde a fundação do mundo. O motivo da sentença é este:
“Tive fome e sede, era estrangeiro, nu, doente e preso, e vocês me ajudaram!”
A parábola tem um suspense. Até agora não se disse quem são as ovelhas que ficam à direita do Juiz. Sabemos apenas que elas acolheram o Juiz quando este estava faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso. E, pelo jeito de falar, “meu Pai” e “Filho do Homem”, sabemos também que o Juiz é Jesus.
Mateus 25,37-40
O esclarecimento do Juiz – O vigário de Cristo é o pobre
Os que acolheram os excluídos são chamados “justos”. Isto significa que a justiça do Reino não se alcança observando normas e prescrições, mas sim acolhendo os necessitados. Mas os próprios justos não sabem quando foi que acolheram Jesus necessitado. Jesus responde: “Toda vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes!”
Quem são estes “meus irmãos mais pequeninos?”
Em outras passagens do Evangelho de Mateus, as expressões “meus irmãos” e “pequeninos” indicam os discípulos (Mateus 10,42; 12,48-50; 18,6.10.14; 28,10). São os membros mais abandonados da comunidade, os desprezados que não recebem lugar e não são bem recebidos (Mateus 10,40). Jesus se identifica com eles. Mas não é só isto. Aqui no contexto tão amplo desta parábola final, a expressão “meus irmãos mais pequeninos” se alarga e inclui todos aqueles que na sociedade não têm lugar.
Indica todos os pobres. E os “justos” e os “benditos de meu Pai” são todas as pessoas que acolhem o outro na total gratuidade, independentemente do fato de ser cristão ou não.
Mateus 25,41-43
Sentença para os que estiverem à sua esquerda
Os que estão do outro lado do Juiz são chamados de “malditos” e são destinados ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Jesus usa a linguagem simbólica comum daquele tempo para dizer que estas pessoas não entram no Reino. E aqui também o motivo é um só: não acolhem Jesus faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso.
Não é Jesus que nos impede de entrar no Reino, mas sim a nossa prática de não acolher o outro, a cegueira que nos impede de ver Jesus nos pequeninos.
Mateus 25,44-46
Pedido de esclarecimento e resposta do Juiz
O pedido de esclarecimento mostra que se trata de gente comportada, pessoa que têm a consciência em paz. Estão certas de terem praticado sempre o que Deus pedia delas. Por isso estranham quando o Juiz diz que não o escolheram.
O Juiz responde: “Todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram!”
A omissão! Não fizeram coisas más! Apenas deixaram de praticar o bem aos pequeninos e de acolher os excluídos. E segue a sentença final: estes vão para o fogo eterno, e os justos para a vida eterna.
Assim termina o quinto livro da Nova Lei!
Alargando
Os quatro evangelhos são o álbum de fotografias do novo povo de Deus. Neles os primeiros cristãos conservaram para nós as fotos mais bonitas de Jesus. Eles conservavam as palavras de Jesus não como palavras de alguém do passado.
Para eles, Jesus não era uma pessoa falecida de saudosa memória, mas sim alguém bem vivo no meio deles. Quando liam ou ouviam as palavras do Evangelho, não as escutavam como se fossem palavras de 20 ou 30 anos atrás, gravadas numa fita, mas sim como palavras que este Jesus, vivo e presente, diria a eles naquele momento.
Assim, no texto de hoje, este mesmo Jesus aponta os pobres e os excluídos e nos diz: “SOU EU!”
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Fonte: Texto extraído do livro “Travessia – Quero misericórdia e não sacrifício” – Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Mateus. Autoria de Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.