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Reflexão do evangelho: Endireitai o caminho do senhor!

Confira a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 17 de dezembro. “Endireitai o caminho do senhor!” trata sobre Jo 1,6-8.19-28, e tem autoria de Claudete Beise Ulrich, pastora da IECLB.

Boa reflexão!

Reflexão do evangelho

Neste terceiro domingo do Advento, refletimos sobre João Batista, simbolizado pela 3ª vela da coroa de Advento, aquele que preparou o caminho para Jesus. João Batista denuncia as injustiças do seu tempo, e aponta para aquele que é a luz. É interessante perceber que sempre refletimos sobre João Batista, este importante personagem bíblico, nos “meios tempos”, isto é, no meio do ano, na festa de São João (24 de junho) e agora antes do Natal. A vida e a história de João Batista nos acompanham ao longo do ano, lembrando-nos da importância da humildade, de ter a coragem de dizer “Não” e do testemunho da verdade!

É interessante observar que, já no prólogo do Evangelho de João, em 1,6-8 ele é mencionado, e na continuidade, encontramos todo um texto dedicado a ele (João 1,19-34). Em nossa reflexão, vamos privilegiar o texto de João 1,6-8,19-28.

João Batista – testemunha da luz (João 1,6-8)

No Evangelho de João, João Batista é identificado como a primeira testemunha da luz. “Ele veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele”. O que significa ser testemunha da luz? João Batista vem na frente para testemunhar a luz. A luz ilumina! Ela traz a verdade à tona. A luz não quer esconder nada! Como é triste uma vida sem luz! Na verdade, a vida não existe sem luz! Vida e luz estão interligadas!

Portanto, João é portador do anúncio de uma vida boa, justa, abundante. Ele anuncia esta vida. João é testemunha. Testemunha é alguém portador de uma verdade. Alguém que presenciou um fato! É interessante que o Evangelho de Lucas conta que quando as mães grávidas Maria e Isabel se encontraram, a criança no ventre de Isabel se mexeu de alegria. Já ali o bebê João Batista dá testemunho de alegria da criança que está no ventre de Maria. Esta comunicação das barrigas grávidas de Maria e Isabel, guardada no registro do Evangelho de Lucas 1,39-45, já nos fala desta testemunha da luz! Ser testemunha é partilhar da alegria da luz! A luz só tem sentido se ela é partilhada! João Batista anuncia para toda a gente a chegada da luz. Ele chamou a todos e todas a crerem na luz da vida! O Evangelho de João também afirma: “Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz”. João Batista não era a luz. Ele veio para ser testemunha da luz.

“Eu não sou…” (João 1,19-21)

O texto inicia, apontando novamente para a importância do testemunho de João: “Este foi o testemunho de João quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: Quem és tu?”. (João 1,19) Para o evangelista, é muito importante a ênfase no testemunho.

O que significa ser testemunha? “Testemunhar é a missão divina de João Batista. (…) Para a teologia do Evangelho de João, o tema do testemunho de Cristo é muito importante” (cf. João 5,31ss, 8,14). (…) A verdade da encarnação de que Jesus é o Filho de Deus precisa ser testemunhada por outros. O testemunho tem a função de uma prova de verdade.

A missão da comitiva de sacerdotes e levitas, vinda de Jerusalém, é interrogar João: “Quem és tu?” Este fato revela que João tinha um grupo de seguidores e era um personagem popular em seu tempo.

O evangelista apresenta, portanto, a resposta de João como uma confissão: “ele confessou e não negou, confessou: Eu não sou o Cristo” (João 1,20). Confessar que não é o Cristo significa confessar que não é o Messias. Os interrogadores continuam: “Quem és, pois? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Respondeu: Não” (João 1,21). A resposta de João é firme: “Não sou!” Ter a coragem de dizer Não é ter a certeza da verdade, do Sim!

“Declara-nos quem és?” (João 1,22ss)

A comitiva dos interrogadores vindos de Jerusalém não se conforma. “Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo?” E João então respondeu: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías” (João 1,23). João faz referência ao profeta Isaías, no entanto, é importante observar que a citação não é igual a do livro do profeta. Em Isaías 40,3 encontramos o seguinte: “Eis a voz do que clama: preparai no deserto o caminho do Senhor; endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus”. Isaías é o grande profeta da esperança messiânica.

Provavelmente, a citação de João não é uma citação direta do profeta Isaías. Mas, é interessante observar que João responde, dizendo: “Eu sou a voz que clama no deserto”. João é a voz que clama no deserto. Nos desertos da vida, João não tem medo, ele clama e convoca: “Endireitai o caminho do Senhor…” Isto significa que o caminho do Senhor estava com problemas. Isto é, a forma de vida que Deus queria para o seu povo, não estava sendo respeitada. É necessário endireitar O caminho, para que a Luz possa brilhar para toda a gente.

Portanto, João é identificado como aquele que prepara o caminho. Isto significa que o ministério de João Batista fundamenta-se na tradição, e a partir da Escritura (Isaías 40,3). Assim, confirma-se o que João já tinha confessado: ele não é o Messias, e sua missão é preparar o caminho do Messias. Percebe-se aqui um confronto entre um grupo que afirma ser João o Messias e a comunidade do Evangelho de João que afirma que João Batista era somente aquele que veio preparar o caminho, isto é, testemunhar da luz. Ele é o anunciador, a voz que clama no deserto!

De acordo com Schneider-Harpprecht:

João é como Dêutero-Isaías e Moisés, um dos líderes religiosos que abre espaço para a futura salvação. A sua voz no deserto, o seu grito anuncia o novo êxodo do povo de Deus, a nova vida no país prometido, o reino de Deus. O grito da voz no deserto é radical, o grito por justiça social e pessoal, arrependimento, uma prática renovada, como a tradição sinótica mostra mais do que o Evangelho de João.

Sim, João aponta com firmeza para o novo. Ele é a voz que clama no deserto, que não cala, apesar do deserto! Provavelmente, a realidade do deserto faz clamar e apontar para a necessidade de endireitar o caminho do Senhor.

Então, porque batizas (João 1,25-28)

O interrogatório, no entanto, continua. “Ora, os que haviam sido enviados eram de entre os fariseus. E perguntaram-lhe: Então, por que batizas se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? Respondeu-lhes João: Eu batizo com água; mas, no meio de vós, está a quem vós não conheceis, o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias”.

João encontra-se no processo de transição do velho para o novo. Ele aponta para o novo, a partir do clamor no deserto. Ele batiza com água por que a sua missão é apontar para o Cristo encarnado (o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias). João mostra toda a sua humildade em seu testemunho. Ele não é um fim em si mesmo. Ele aponta para a Luz verdadeira. Tudo nele indica Cristo. Por isto, não hesita em dizer que não é o Messias, que não é Elias e tampouco se considera um profeta. O testemunho de João Batista é um Sim radical para a verdadeira luz (João 1,9). Ao aceitar ser menor e ter que diminuir, tal como lemos no Evangelho de João 3,30: “Convém que ele cresça e que eu diminua”, João Batista torna-se a testemunha por excelência da verdadeira Luz.

Em nenhum momento do interrogatório, João Batista procura se igualar ao Messias. Sempre de novo mostra a sua humildade. Ele é uma testemunha fundamental na história da salvação. Jesus Cristo deve ocupar o centro da vida das pessoas. Somente nele deve-se depositar toda a confiança e segurança!

Importância hoje de ser voz que clama no deserto

João Batista, sem dúvida, com sua coragem e testemunho de dizer “Eu não o sou”, encoraja-nos, neste tempo de Advento, de preparação e vigilância, para não nos conformarmos com o sistema neoliberal, no qual vivemos. Como é importante dizer “não” ao consumismo, a preparação que nos é oferecida pelo mercado, onde as mercadorias desejam nos deixar satisfeitas/os e com a sensação de que tudo vai bem ao nosso redor. O símbolo da coroa de Advento, como já foi mencionado, nasceu na periferia da história, de um trabalho pastoral diacônico junto às crianças e a jovens órfãos.

Qual é o símbolo que nos acompanha neste tempo de Advento, em 2017? Que vozes clamam no deserto e nos convidam a endireitar o caminho do Senhor? No Brasil, a desigualdade social, continua a reinar.

Continuamos a ser, apesar das tantas riquezas, um dos países mais desiguais do mundo. Como temos clamado contra a desigualdade? O que tem nos motivado a dizer profeticamente “não”? Experimentamos uma sociedade desigual, que exclui e mata os pobres. Lembro-me do recente assassinato do cacique Nísio Gomes e o desaparecimento de outros quatro indígenas do povo Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Neste tempo de Advento, seu grito por justiça ecoa forte entre nós!

Não se pode emudecer o grito, o clamor no deserto por justiça e pelo direito de viver, do povo de Deus. O grito, o clamor no deserto, a partir de Cristo, torna-se testemunho: a luz verdadeira quer brilhar e transformar o deserto da vida. Por isso, tempo de Advento é um novo tempo, uma nova oportunidade também para descobrirmos e buscarmos sinais de transformação na vida pessoal, familiar, comunitária e em nosso engajamento social. Onde percebemos sinais de transformação na Igreja, na sua missão e atuação diacônica, nos movimentos sociais do nosso povo, e em nós mesmos, pessoas, batizadas e amadas por Deus?

Que tenhamos a coragem e a humildade de testemunharmos, de sermos voz que clama no deserto, aceitando-nos como pessoas fracas, limitadas, pecadoras, humanas, mas, ao mesmo tempo, com um grande valor, justas e amadas por Deus. Que o Advento, a partir do testemunho de João Batista, tenha um sabor de que a busca pela vida plena e justa é o que realmente importa. Que consigamos testemunhar e colocar sinais da vida plena, da verdadeira luz, que é Cristo, em nosso mundo! Que a nossa voz e a das pessoas sofridas e oprimidas não se cale, mas que a voz que clama no deserto transforme-se, a partir da criança nascida no Natal, em testemunho de luta por vida em abundância!

A coroa de Advento

Neste terceiro domingo, como sinal de preparação e vigilância, acendemos a terceira vela da coroa de Advento. O Advento significa chegada já presente do filho Deus. Nós somos comunidade a caminho. Vivemos no “meio tempo”, “no já e ainda não”! Nós vivemos historicamente entre o Advento que já se realizou e o Advento definitivo que ainda se realizará com a vinda definitiva de Jesus Cristo. Como afirma o poeta: “O caminho se faz ao caminhar”.

A comunidade cristã, ao longo de sua história, encontrou um jeito muito bonito e criativo de preparar esta chegada-presença do nosso Deus, que se fez carne entre nós, na criança que nasceu em Belém. Famílias e comunidades cristãs confeccionam para este período, a coroa de Advento. Esta tradição tem origem no trabalho diacônico, com crianças e jovens órfãos. A coroa de Advento foi confeccionada em 1833, em Hamburgo-Alemanha, pelo pastor luterano Johann Hinrich Wichern.

Primeiramente, ela tinha 24 velas em ordem crescente e para cada domingo que antecedia o Natal, uma vela maior. Nas comunidades católicas, a coroa de Advento, foi introduzida após a segunda guerra mundial. Os elementos da coroa de Advento têm o seu significado: A coroa simboliza a eternidade, a terra, o sol, Deus. As velas significam a Luz, que no Natal é presenteado, em Cristo, para a humanidade. Em cada domingo, acendemos uma vela da coroa de Advento, que lembram histórias e personagens bíblicos: 1º Domingo de Advento – Entrada de Jesus em Jerusalém, 2º Domingo de Advento – Volta de Cristo, 3º Domingo de Advento – João Batista – precursor de Cristo, 4º Domingo de Advento – Maria – mãe de Jesus.

Fonte: A autoria da reflexão é de Claudete, colaboradora do CEBI e Pastora da IECLB.

Referências:

  • (1) SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. 3° Domingo de Advento: João 1.16-8, 19-28. Proclamar Libertação XIX, coord. Edson Edilio Streck e Nelson Kilpp, São Leopoldo: Sinodal, 1993.  p. 23.
  • (2) SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. 3° Domingo de Advento: João 1.16-8, 19-28. Proclamar Libertação XIX, coord. Edson Edilio Streck e Nelson Kilpp, São Leopoldo: Sinodal, 1993. p. 24.
  • (3) Veja interessante reflexão de SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. 3° Domingo de Advento: João 1.16-8, 19-28. Proclamar Libertação XIX, coord. Edson Edilio Streck e Nelson Kilpp, São Leopoldo: Sinodal, 1993. p. 22-26.
  • (4) HANNEMANN, Holger. EKD Flyer zum Advent ap. Die Stimme, Zeitschrift der Evangelisch Gemeinden Muhlenberg-Ricklingen, N. 12/1, Dezember 2011/Januar 2012, p. 4.

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