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Quem foi Toni Morrison, a primeira escritora negra a ganhar o Nobel

via TAG – Experiências Literárias*

Toni Morrison foi uma escritora norte-americana e a primeira mulher negra vencedora do prêmio Nobel de Literatura, em 1993. Mas os méritos da prolífica autora americana não se traduzem apenas em suas inúmeras premiações e condecorações: a exclusividade e ineditismo de algumas delas, no entanto, indicam vitórias que ultrapassam os limites da literatura.

Chloe Anthony Wofford é o nome de berço de Toni Morrison, nascida em Lorain, estado de Ohio, ao norte dos Estados Unidos, em 1931. Filha de um soldador e de uma dona de casa, foi a segunda de quatro irmãos e viveu seus primeiros anos em uma vizinhança miscigenada – realidade incomum que uniu diferentes famílias pela necessidade financeira.

Após uma exitosa passagem escolar, Toni partiu para a universidade de Howard, em Washington, onde estudou inglês e literatura clássica. Em 1953, iniciou o mestrado em literatura na Universidade Cornell, em Ithaca, Nova York. Com o diploma em mãos – obtido após escrever uma tese sobre Virginia Woolf e Faulkner –, dedicou-se exclusivamente ao ensino por nove anos. Durante esse período, casou-se com o arquiteto jamaicano Harold Morrison, com quem, apesar do curto tempo de relacionamento, teve dois filhos. Toni deixou o marido quando ainda estava grávida do segundo, e teve que encontrar uma saída rápida para se sustentar enquanto mãe solteira. Surgiu, então, a oportunidade de trabalhar na famosa editora Random House, que colocou Toni em um ambiente até então estranho para ela – um mundo de agentes, editores e escritores.

Era o momento ideal para produzir a própria ficção, inspirada por autores como James Baldwin, Chinua Achebe e Camara Laye. Baseando-se em uma marcante lembrança de sua juventude, escreveu pacientemente por cinco anos até que, em 1970, publicou O olho mais azul, obra que chegou aos associados da TAG Curadoria em março de 2019 pela indicação de Djamila Ribeiro. Nossa edição foi a última da obra de Toni Morrison publicada no Brasil antes de sua morte aos 88 anos, no dia 5 de agosto desse ano.

Hoje um reconhecido best-seller, o romance não foi inicialmente bem recebido. Seu grande boom, na verdade, ocorreu em 2000, quando a apresentadora Oprah Winfrey o indicou em seu popular clube de livros, alcançando mais de 800 mil exemplares vendidos. Nos anos 1970, entretanto, diversos fatores contribuíam para o insucesso da obra. A pouca visibilidade da literatura negra era um deles; as cenas de violência sexual – até hoje um argumento utilizado para banir o livro de escolas americanas –, outro. Morrison, porém, estava tão segura da singularidade do que produzia que não hesitou em dar seguimento a seus romances. Em cerca de dez anos publicou Sula (1973), o épico A canção de Solomon (1977) e Tar baby (1981).

Com avaliações cada vez mais elogiosas e um público devotado, Toni Morrison foi conquistando uma posição de destaque entre os romancistas americanos e uma sequência de prêmios representativos: ela foi a primeira mulher negra a figurar no celebrado Book of the Month Club e a ser capa da revista Newsweek em mais de quarenta anos. Sua passagem de quase duas décadas como editora na Random House também merece menção: Morrison teve papel essencial na difusão de escritores negros como Angela Davis e Toni Cade Bambara, além de organizar antologias dos autores africanos Chinua Achebe e Wole Soyinka.

Sua obra conta com onze romances, cinco livros infantis (produzidos em parceria com o filho, Slade Morrison, falecido em 2010), oito obras de não ficção, contos, peças de teatro e até libretos para ópera. Mesmo com a extensa bagagem, dois feitos excepcionais permanecem como os mais associados à imagem da escritora. Um deles é Amada (1987), romance baseado na história real da mulher escravizada Margaret Garner, até hoje seu livro mais celebrado e considerado uma das grandes obras americanas do século XX.

Adaptada para o cinema em 1998, Amada foi vencedora do National Book Award, do prêmio Pulitzer e, em 1993, Toni foi premiada com o Nobel de Literatura, por seus romances “caracterizados por uma força visionária e um influxo poético, [que dão] vida a um aspecto essencial da realidade americana”. A premiação, que fez a escritora se sentir “mais negra” e “mais mulher” do que nunca, também foi marcado por um discurso poderoso, em que Morrison, fazendo uso de uma antiga fábula, reforçou o poder da linguagem: seu poder de subjugar e libertar, de violentar e redimir – sua inabalável influência na defesa e valorização das diferentes identidades.

Publicado originalmente no site da TAG – Experiências Literárias.

Imagem de capa via VOX.

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