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Que minha loucura seja perdoada: sou agora missionária – Victória Holzbach

Há alguns anos percebi, não diferente de muitos jovens que conheço, que a minha felicidade não chegaria com a formatura.

O sonho de concluir a faculdade, trabalhar e casar não era meu. Era a expectativa dos outros para mim – e para qualquer menina da minha idade. Queria mais que isso, necessitava ir além.

Agora, aos 25 anos, parto para a experiência que deve concretizar o meu desejo. Trilhando este caminho, compreendi que apenas viveria tão feliz quanto esperava, quando me desafiasse a sair de mim e de tudo que sempre concebi como mundo. Assim, decidi ser missionária.

A Igreja Católica do Rio Grande do Sul mantem um projeto de apoio à Arquidiocese de Nampula, em Moçambique. Lá, a Igreja-Irmã acolhe há 23 anos missionários e missionárias gaúchos. A pequena vila de Moma, no litoral leste da África, será minha casa a partir do dia 12 de setembro.

Missão é serviço

Na preparação para este tempo, compreendi que missão é serviço. E servir com amor. Primeiro servir no sentido de se colocar à disposição às necessidades do outro, mesmo que talvez não seja aquilo que eu ache que é necessidade.

Aí entra o amor. Compreender que o outro precisa e oferecer o que tens na gratuidade. As necessidades de cada um, os anseios, as angústias e as alegrias também se tornam meus quando me disponho a caminhar lado a lado.

 
Eu me faço, me construo, me reconheço quando me encontro no outro.

Vou para servir a partir da realidade e não do meu desejo. Um novo mundo se constrói quando somos capazes de compreender com compaixão e empatia a cultura, a religião, os costumes, as opções e os contextos sociais, políticos e históricos de um povo.

Por isso, ao contrário do que normalmente se espera, não se sugere ao missionário grandes obras ou feitos extraordinários.

A marca de uma missão começa pelo ouvir. Escutar e ver as aflições do outro, ir ao seu encontro e, com ele, construir a libertação.

A vida plena se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros. Isto é, definitivamente, a missão. As expectativas? Todas as possíveis. Às vezes tenho medo, angústias, um monte de perguntas. Entretanto, em grande parte do tempo, me inundo de alegria pela possibilidade de poder construir em Moma novos caminhos.

Há os que questionam: “Mas aqui não é muito melhor?”, os que avisam “Conheço gente que morreu de malária” e, ainda, os que anunciam “Quero ver como vai ser na volta”.

Tem também os que, duros para compreender, lançam o diagnóstico: “Você não está bem certa”.

Se assim for, que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade também. (Oswaldo Montenegro)

Partimos juntos, em missão.

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