Não é pouco ter dignidade para defender a biografia. No universo da política as pessoas trocam suas biografias por qualquer trocado.
Entre aqueles que vão ser os juízes de Dilma não são poucos os que se lixam para o que vai ser dito sobre eles.
Há ali no Senado, por exemplo, gente, como o senador Romero Jucá que foi pego em gravação conspirando para acabar com o governo Dilma e a Lava Jato.
Há também lá o senador Perrela, que teve um helicóptero apreendido com 450 quilos de cocaína, mas que tem coragem de chamar pedaladas de crime.
Ou ainda pessoas do quilate de Aécio Neves, que de tão delatado é considerado como aquele que seria o “primeiro a ser comido” pela Lava Jato, na feliz expressão do ex-senador Sérgio Machado.
Há também traidores covardes, como senadora Marta, ou traidores dissimulados, como Cristovam.
Nenhum desses está preocupado com a sua biografia.
Até porque alguns nunca tiveram e outros decidiram rasgá-las sem dó.
Mas Dilma, não. Ela respeita a sua biografia.
E só aceitou a condição de ser interrogada por 14 horas porque sabia que precisava defender também as instituições e o processo democrático.
E porque sabe que o golpe que está próximo de acontecer não pode se dar sem resistência. Sem sinais de resistência. Sem uma clara mensagem de futuro.
E Dilma deixou hoje, no dia 30 de agosto de 2016, uma clara mensagem.
Não se entregue, não desista, não seja covarde, seja leal e tenha dignidade.
E essa mensagem poderia e deveria pautar as lutas futuras da esquerda brasileira.
Dilma cometeu erros políticos, mas não é uma criminosa moral.
E esse que pode ter sido seu epílogo no poder foi uma aula magna de decência.