via PPL*
Manifesto da Pastoral Popular Luterana sobre a conjuntura nacional brasileira
Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus (Mateus 5.9)
Vivemos tempos obscuros na conjuntura nacional brasileira. Forças políticas conservadoras desenvolveram nos últimos anos uma decidida campanha para retomar o poder no Brasil a qualquer preço. Fizeram de tudo para desestabilizar o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, visando sua derrota nas eleições de 2014.
Após eleições de 2014 frustrados em seus intentos e derrotados nas urnas, aliaram-se aos maiores grupos de mídia para, sob a bandeira do combate à corrupção, alimentar uma indústria de denúncias de corrupção, noticiadas quase diariamente com alarde gigantesco. Essas forças chegaram ao poder com o impeachment da presidenta Dilma e a posse do vice-presidente Michel Temer. Este processo passou para a história como um golpe
jurídico-midiático-parlamentar perpetrado em nome da moralização da política brasileira e concretizou-se na prática com uma ruptura democrática.
Desde então, os poderes se fecharam para a sociedade com a implementação de uma pauta de retrocessos, decisivamente defendida pelo mercado financeiro que se traduzem em cortes nos programas sociais, congelamento nos investimentos em saúde e educação por vinte anos, venda de terras para estrangeiros, reforma trabalhista, previdenciária e privatização de empresas públicas, dentre elas a Petrobras.
A paralisação nacional dos caminhoneiros tem revelado que a política de preços dos combustíveis é um verdadeiro desastre. Desde junho de 2017 o preço dos combustíveis e do gás de cozinha já subiram mais de 50%. Os efeitos estão sendo sentidos por várias camadas da população brasileira. Medidas que tem potencial de aumentar o preço dos alimentos, das tarifas de transporte e outros bens de consumo e serviços, deteriorando ainda mais a qualidade de vida da população brasileira.
É fato que parte de nossas lideranças políticas e parcela da população nunca tiveram dúvidas em sacrificar a democracia em nome da defesa de seus interesses corporativos e de classe, apoiando inclusive uma ditadura militar. E o saberiam fazer novamente em nome da defesa da própria democracia, com cinismo e hipocrisia, com a bandeira do combate a corrupção, estando eles, entre os maiores corruptos ou corruptores. E não se enganem: não há a menor menção de que o que venha a ocorrer no país, virá em benefício da população trabalhadora. O mais urgente é formar um movimento e uma força política capaz de mediar conflitos e oferecer um projeto popular de país, apontar caminhos, para que esse país não saía definitivamente dos trilhos da democracia.
Estamos próximos de um vácuo de poder. O Presidente de República é um fantoche dos interesses empresariais mesquinhos que não deram certo desde o golpe. Há uma desmoralização do Senado, da Câmara e do Judiciário. Nem para resolver as questões mais banais de administração há habilidade política e instituições com pessoas capazes. Todas foram sendo, gradativamente, desacreditadas. No momento falam muito forte as
mensagens e discursos de apelo a ordem e a segurança. Essas mensagens costumam
calar fundo em amplas parcelas da população brasileira.
Boa parte da população tem dificuldades com a educação democrática, pois é orientada por uma cultura autoritária e de pouco valor à democracia, particularmente quando isso se refere à resolução de conflitos, discrepâncias e divergências. Generalizaram-se expressões como “todo político não presta”, “o povo não sabe votar” e “quem se manifesta e protesta é
vagabundo”. Há uma enorme dificuldade na convivência democrática a ser superada
coletivamente, com diálogo, respeito e liberdade de organização.
Há decisões recentes do governo com às quais deveríamos estar seriamente atentos e atentas. Diante disso, a PPL vem a público denunciar e exigir:
- A política de preços dos combustíveis implementados por Michel Temer e Pedro
Parente não servem aos interesses nacionais! - Contra o desmonte e privatização da Petrobrás!
- Intervenção Militar não é a Solução!
- Exigimos a realização de eleições diretas para a Presidência da República e para
as duas casas do Legislativo federal, com vistas a restaurar a legitimidade da
representação popular.
Deus espera de nós a ajuda e o envolvimento na conscientização da paz verdadeira e sustentável, que vem abraçada com a justiça em que pessoas são tratadas com respeito e dignidade pelo Estado. Onde as diferenças são encaradas como alternativa para conviver com o novo, onde a intolerância perde força e vence o cuidado e o respeito. Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus (Mateus 5.9)
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Publicado no site da PPL, 01/06/2018.P